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ROSELI SAYÃO
Agressividade sem controle
Quando tragédias
acontecem, em geral
ficamos comovidos e
emocionados, solidários aos parentes das vítimas.
Lamentamos o fato, procuramos entender suas causas etc.
Não deixa de ser uma maneira
de a sociedade exorcizar os demônios da angústia e do medo
que surgem com a constatação
de que "eu ou os meus poderíamos estar envolvidos em situação semelhante".
Na semana passada, testemunhamos duas tragédias: o
seqüestro, fruto de um rompimento amoroso entre um jovem e uma garota, que acabou
na morte desta, e o confronto
das polícias civil e militar.
Por associação, esses fatos
tão nefastos podem dar origem
a reflexões bem diversas. Por
exemplo: o que a educação dos
mais novos pode absorver de
tudo o que aconteceu?
Em primeiro lugar, já deu para perceber que os adultos se
encontram, de modo geral, com
a agressividade descontrolada.
Vemos isso nas brigas no trânsito, entre vizinhos, nas filas
etc. Passou a ser "normal" receber ou dar cotoveladas, no sentido literal ou figurado, quando
freqüentamos o espaço público. Ora, tal atitude inviabiliza a
convivência social!
É claro que o estado da convivência pública contamina e afeta os mais novos, que o reproduzem: onde há grupos de
crianças e adolescentes, a
agressividade se transforma
em violência entre os pares e
contra o patrimônio. Tal e qual
os adultos, eles não se envergonham dos atos que praticam
contra os outros, o que significa
que pouco se importam com
sua imagem perante o outro. O
problema é que a vergonha moral é um sentimento importante na formação e na ação moral
em sociedade.
Relembrando as tragédias citadas, percebemos que nem os
policiais nem o seqüestrador
demostraram sentir vergonha
de seus atos. Isso é preocupante e deve nos fazer pensar se damos valor aos ensinamentos do
agir moral e da convivência em
sociedade. Parece que preferimos eleger a competição como
o mais importante, não é?
Em segundo lugar: os sentimentos têm merecido nossa
atenção na educação? Quando
uma criança explode por raiva
ou se descontrola por ciúme,
ela precisa conhecer o sentimento que a assaltou e saber
que ele é legítimo, mas que sua
expressão precisa ser controlada porque incide sobre o outro.
Finalmente, que valor e sentidos temos dado às leis? Para
que cumpram o papel de nos
proteger, é necessário ensinar a
obediência a elas. Não a obediência cega e passiva, é claro. É
preciso, também, aprender a se
rebelar contra algumas leis e a
analisá-las criticamente, mas a
transgressão pura ou o confronto truculento e irresponsável não costumam ser os melhores caminhos para isso. Temos tratado sobre isso, nas escolas, principalmente?
A educação não pode ser considerada a única condição para
mudar a sociedade, mas é de
grande importância no processo de manutenção da vida democrática. Precisamos honrar
tal compromisso quando educamos filhos e alunos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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