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foco nela
Prevenção contra a asma começa em casa
KÁTIA FERRAZ - FREE-LANCE PARA A FOLHA
Muitos pais acham que seus filhos estão
protegidos em casa. Se a residência for de
uma criança asmática, isso não é verdade. Objetos comuns em um domicílio,
como tapetes, bichos de pelúcia e cortinas, podem desencadear uma crise em
crianças com asma, doença que atinge
200 milhões de pessoas no mundo.
Pediatras e especialistas na doença vêm
dando esse aviso há algum tempo. A melhor forma de prevenir a asma, enfermidade crônica caracterizada pela inflamação das vias respiratórias, é fazer uma
limpeza desses agentes nas residências.
Transmitir essa mensagem para o
maior número de asmáticos possível tem
sido o trabalho de Carroll Ann Ballor, 60.
A enfermeira norte-americana desenvolveu o programa Inter Path, que oferece
atendimento em domicílio.
O método de Ballor já é usado nos Estados Unidos há oito anos. Segundo ela, o
programa conseguiu reduzir o número
de internações e também o custo total do
tratamento.
O Inter Path começou a ser implantando no final do ano passado em algumas
cidades brasileiras, como Recife e Porto
Alegre. Ballor esteve no Brasil para a
inauguração dos escritórios. Leia abaixo
trechos da entrevista concedida à Folha.
Folha - Há quanto tempo a senhora trabalha com medicina preventiva e, em especial, na área de asma pediátrica?
Carroll Ann Ballor - Comecei a exercer a
profissão em 1960, dedicando-me à área
de "home care" em Michigan, Califórnia
e Arizona, um Estado com grande incidência de asma, talvez pelo clima. Interessei-me especificamente pela área de
asma pediátrica, pois essa é uma das
principais doenças nos Estados Unidos.
Procurei estudar por que alguns tratamentos não davam certo e pude constatar que a interrupção do tratamento com
medicamentos e a falta de conscientização do paciente sobre o seu quadro são
alguns dos principais fatores para o agravamento da doença.
Folha - Como funciona o programa?
Ballor - Uma enfermeira especializada
vai até a casa do paciente e inicia um processo de educação no que se refere aos
seus hábitos, sua alimentação e às características da doença. Muitas vezes, as pessoas eliminam o carpete, mas esquecem
do tapete ou de algum componente de
um brinquedo. É preciso entender que a
asma, embora seja uma doença do trato
respiratório com muitas características
comuns a várias pessoas, também tem o
seu quadro individualizado. Cada paciente precisa ser estudado minuciosamente. As crises podem ser desencadeadas, por exemplo, por substâncias químicas, como a tinta, e por alguns alimentos,
como leite, ovos e chocolate. É um universo bastante extenso. Com uma linguagem bastante acessível, as crianças tomam conhecimento do seu quadro, dos
procedimentos, da importância da continuidade do tratamento, das idas periódicas ao médico, entre outros fatores. A base do nosso trabalho é a prevenção e a
orientação do paciente, para que ele próprio conheça bem o seu problema, possibilitando o automonitoramento e a melhoria na condução de suas atividades.
Folha - Apenas as crianças passam pelo programa?
Ballor - Não, o programa é dirigido tanto para as crianças como para seus pais.
O objetivo é melhorar o quadro e evitar
as reincidências, tão comuns por causa
do descuido no tratamento. Começamos
com um questionário, com cerca de 92
perguntas sobre a vida do paciente. A
partir das respostas, indicamos a melhor
forma de tratamento e como adequar os
hábitos. Na maioria das vezes, o programa totaliza cinco visitas, mas é um número que varia de acordo com o caso.
Outro objetivo é resgatar a função da enfermeira e ensinar ao paciente quando
ele deve procurar o médico.
Folha - Como as crianças recebem esse
aprendizado?
Ballor - Elas recebem muito bem, pois
procuramos ensinar na linguagem delas.
Mostramos que elas podem conviver
com a doença a vida toda, diminuindo
consideravelmente os ataques com os
cuidados adequados. Ressaltamos também a importância dos exercícios físicos
para melhorar o quadro respiratório.
Folha - Qual é o custo desse programa?
Ballor - A boa notícia é que o programa
está sendo absorvido pelos convênios
médicos. Chegou-se à conclusão de que é
muito mais barato prevenir do que bancar os custos com as internações.
Folha - Mais barato quanto?
Ballor - Nos Estados Unidos, a cada US$
1 investido em prevenção, economiza-se
US$ 5 em internação. Além disso, desde
que o programa foi lançado, há oito anos,
as consultas ao mesmo médico aumentaram 143%. É o que chamamos de aumento da fidelização ao médico.
Folha - Essa consciência já está chegando
ao Brasil?
Ballor - O interesse dos convênios por
essa iniciativa denota essa consciência.
No ano passado, o programa foi lançado
em Recife e em Belo Horizonte. Ele está
em fase de implantação em Porto Alegre
e deve chegar a São Paulo também.
Folha - Como está sendo o seu contato
com as enfermeiras brasileiras que estão
participando do treinamento?
Ballor - Estou impressionada com a força de vontade e o interesse em aprender novas tecnologias.
A Interim Home Healthcare, que está implantando
o Inter Path no Brasil, tem escritórios em Recife
(tel. 0/xx/81/3423-2662), Belo Horizonte (tel. 0/
xx/31/3331-3774), Goiânia (tel. 0/xx/62/215-9107)
e Porto Alegre (tel. 0/xx/51/3333-1711).
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