São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2002
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Prevenção contra a asma começa em casa

KÁTIA FERRAZ - FREE-LANCE PARA A FOLHA

Muitos pais acham que seus filhos estão protegidos em casa. Se a residência for de uma criança asmática, isso não é verdade. Objetos comuns em um domicílio, como tapetes, bichos de pelúcia e cortinas, podem desencadear uma crise em crianças com asma, doença que atinge 200 milhões de pessoas no mundo.
Pediatras e especialistas na doença vêm dando esse aviso há algum tempo. A melhor forma de prevenir a asma, enfermidade crônica caracterizada pela inflamação das vias respiratórias, é fazer uma limpeza desses agentes nas residências.
Transmitir essa mensagem para o maior número de asmáticos possível tem sido o trabalho de Carroll Ann Ballor, 60. A enfermeira norte-americana desenvolveu o programa Inter Path, que oferece atendimento em domicílio.
O método de Ballor já é usado nos Estados Unidos há oito anos. Segundo ela, o programa conseguiu reduzir o número de internações e também o custo total do tratamento.
O Inter Path começou a ser implantando no final do ano passado em algumas cidades brasileiras, como Recife e Porto Alegre. Ballor esteve no Brasil para a inauguração dos escritórios. Leia abaixo trechos da entrevista concedida à Folha.

Folha - Há quanto tempo a senhora trabalha com medicina preventiva e, em especial, na área de asma pediátrica?
Carroll Ann Ballor -
Comecei a exercer a profissão em 1960, dedicando-me à área de "home care" em Michigan, Califórnia e Arizona, um Estado com grande incidência de asma, talvez pelo clima. Interessei-me especificamente pela área de asma pediátrica, pois essa é uma das principais doenças nos Estados Unidos. Procurei estudar por que alguns tratamentos não davam certo e pude constatar que a interrupção do tratamento com medicamentos e a falta de conscientização do paciente sobre o seu quadro são alguns dos principais fatores para o agravamento da doença.

Folha - Como funciona o programa?
Ballor -
Uma enfermeira especializada vai até a casa do paciente e inicia um processo de educação no que se refere aos seus hábitos, sua alimentação e às características da doença. Muitas vezes, as pessoas eliminam o carpete, mas esquecem do tapete ou de algum componente de um brinquedo. É preciso entender que a asma, embora seja uma doença do trato respiratório com muitas características comuns a várias pessoas, também tem o seu quadro individualizado. Cada paciente precisa ser estudado minuciosamente. As crises podem ser desencadeadas, por exemplo, por substâncias químicas, como a tinta, e por alguns alimentos, como leite, ovos e chocolate. É um universo bastante extenso. Com uma linguagem bastante acessível, as crianças tomam conhecimento do seu quadro, dos procedimentos, da importância da continuidade do tratamento, das idas periódicas ao médico, entre outros fatores. A base do nosso trabalho é a prevenção e a orientação do paciente, para que ele próprio conheça bem o seu problema, possibilitando o automonitoramento e a melhoria na condução de suas atividades.

Folha - Apenas as crianças passam pelo programa?
Ballor -
Não, o programa é dirigido tanto para as crianças como para seus pais. O objetivo é melhorar o quadro e evitar as reincidências, tão comuns por causa do descuido no tratamento. Começamos com um questionário, com cerca de 92 perguntas sobre a vida do paciente. A partir das respostas, indicamos a melhor forma de tratamento e como adequar os hábitos. Na maioria das vezes, o programa totaliza cinco visitas, mas é um número que varia de acordo com o caso. Outro objetivo é resgatar a função da enfermeira e ensinar ao paciente quando ele deve procurar o médico.

Folha - Como as crianças recebem esse aprendizado?
Ballor -
Elas recebem muito bem, pois procuramos ensinar na linguagem delas. Mostramos que elas podem conviver com a doença a vida toda, diminuindo consideravelmente os ataques com os cuidados adequados. Ressaltamos também a importância dos exercícios físicos para melhorar o quadro respiratório.

Folha - Qual é o custo desse programa?
Ballor -
A boa notícia é que o programa está sendo absorvido pelos convênios médicos. Chegou-se à conclusão de que é muito mais barato prevenir do que bancar os custos com as internações.

Folha - Mais barato quanto?
Ballor -
Nos Estados Unidos, a cada US$ 1 investido em prevenção, economiza-se US$ 5 em internação. Além disso, desde que o programa foi lançado, há oito anos, as consultas ao mesmo médico aumentaram 143%. É o que chamamos de aumento da fidelização ao médico.

Folha - Essa consciência já está chegando ao Brasil?
Ballor -
O interesse dos convênios por essa iniciativa denota essa consciência. No ano passado, o programa foi lançado em Recife e em Belo Horizonte. Ele está em fase de implantação em Porto Alegre e deve chegar a São Paulo também.

Folha - Como está sendo o seu contato com as enfermeiras brasileiras que estão participando do treinamento?
Ballor -
Estou impressionada com a força de vontade e o interesse em aprender novas tecnologias.


A Interim Home Healthcare, que está implantando o Inter Path no Brasil, tem escritórios em Recife (tel. 0/xx/81/3423-2662), Belo Horizonte (tel. 0/ xx/31/3331-3774), Goiânia (tel. 0/xx/62/215-9107) e Porto Alegre (tel. 0/xx/51/3333-1711).


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