São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2007
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entrevista

Dança para todos

Criador de técnica de dança que inclui portadores e não-portadores de deficiências físicas e mentais, o coreógrafo americano Alito Alessi fala sobre arte e inclusão social

MARIANA BERGEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para mostrar que as limitações de pessoas com necessidades especiais podem ser muito menos restritivas do que se imagina e integrá-las à sociedade de uma forma original, o bailarino e coreógrafo norte-americano Alito Alessi, 53, desenvolveu, em 1987, uma técnica que hoje já está difundida pelo mundo: o Danceability.
Trata-se de um método de dança inclusivo para portadores e não-portadores de deficiências que pesquisam movimentos juntos.
No Brasil para o Projeto Danceability 2007, com palestras, workshops e performances que ocorrem em vários locais de São Paulo, o coreógrafo norte-americano também organiza um espetáculo com artistas brasileiros, que será apresentado em junho na mostra "Sob um Novo Olhar", no Sesc Santana. Leia trechos da entrevista concedida à Folha.

FOLHA - Como surgiu a idéia de criar o Danceability?
ALITO ALESSI -
Apesar de os valores da dança contemporânea, que nasceu nos anos 1970 e 1980, afirmarem que ela é para todos, não era isso que eu via. Pensei em como seria fazer a dança acessível para todo mundo -não isolando as pessoas em seus grupos- e que ela fosse um reflexo da sociedade, onde todos fossem capazes de trabalhar juntos. Estou interessado em todas as pessoas, em todos os movimentos e na linguagem que cada corpo e cada pessoa tem para oferecer no processo da comunicação.

FOLHA - Por que alguém escolheria dançar a partir dessa técnica?
ALESSI -
Existem muitos tipos de dança, mas a maioria delas acaba isolando pelo menos 20% da nossa sociedade. Nesse método, o que interessa é que o seu mundo interno possa vir à tona e ser expresso pelo seu próprio corpo como ele é. É uma expressão bem diferente do que se alguém diz o que você tem de fazer com o seu corpo. Além disso, se você se movimentar com pessoas que se movem como você o tempo inteiro, acaba mantendo sempre os seus próprios padrões, coisas que são mais familiares e confortáveis para você. Aprender a se mover de um jeito diferente facilita mudar também o modo de pensar e de ver as coisas.

FOLHA - Pode-se afirmar que, para alguém que tem alguma deficiência física ou mental, a técnica mostra que os limites dessa pessoa vão além do que ela imagina e que, para uma pessoa sem deficiências, existem limites que não precisam ser ultrapassados?
ALESSI -
Sim. O trabalho é realmente para ensinar cada um, e cada pessoa tem alguma coisa diferente para aprender. Todos aprendem com todos, e as pessoas que não têm deficiência têm tanto a aprender quanto as pessoas com deficiência.

FOLHA - Por que é importante que o grupo tenha pessoas tão diferentes?
ALESSI -
É um reflexo mais honesto do que são o mundo e a natureza, que é assim, diversa. A maioria do preconceito que cria sofrimento e separação vem de as pessoas não terem experiência com algo. Por exemplo, você olha para alguém que não tem pernas e pensa: esse cara não tem pernas, ele não pode dançar. De repente vê ele dançando e a sua mente é obrigada a se transformar. Quanto mais diversas as experiências, maiores as possibilidades de escolha.

FOLHA - Os pilares do Danceability são sensação, relação, tempo e composição. Qual a importância de cada um deles?
ALESSI -
A sensação mantém a pessoa em relação com o seu corpo e com o seu movimento nesse momento e ensina a linguagem do próprio corpo. Relação é o que se vai fazer com essa linguagem ao se relacionar com outras pessoas. Tempo tem a ver com aprender a controlar o tempo, mais do que deixar o tempo controlar você, pois pessoas diferentes fazem coisas em tempos diferentes. Quando mantemos sempre o mesmo tempo, perdemos muitas coisas. E composição é a acumulação disso tudo: por meio dessas três coisas se chega a uma consciência de composição. Então há o indivíduo, uma relação com outra pessoa, atenção à sua comunidade e como ela está afetando o ambiente. A sensação é consigo próprio, relação é com as outras pessoas, o tempo envolve a comunidade, e seu efeito como comunidade no meio ambiente é a composição.


SERVIÇO
Projeto Danceability Brasil 2007

Bate-papo com Alito Alessi Dia 5/6, às 20h, na Galeria Olido (av. São João, 473, São Paulo, tel. 0/xx/11/3334-0001). Grátis.

Performance de Alito Alessi e Emery Blackwell
Dia 16/6, às 21h, e dia 17/6, às 19h, no Sesc Santana (av. Luiz Dumont Vilares, 579, São Paulo, tel. 0/xx/11/6971-8700). R$ 2 a R$ 6.

Workshop - Exercícios de improvisação dirigidos a pessoas com ou sem deficiência física.
Dias 23 e 24/6, das 10h30 às 13h30, no Sesc Santana. Grátis.

Bate-papo com o coreógrafo Alito Alessi - "A Dança, a Inclusão e a Profissionalização"
Dia 23/6, às 16h, no Sesc Santana. Grátis.

"Street Performance Parade"
Dia 24/6, às 17h, no Sesc Santana. Grátis.


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