São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2000
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outras idéias
Parte das vagas oferecidas aos jovens são ocupadas por adultos, já que o desemprego também afeta gravemente os chefes de família, que, desesperados, aceitam qualquer coisa
Há saídas para os jovens

Marcio Pochmann

O Brasil tem hoje um grande exército de jovens na faixa etária de 15 a 24 anos aguardando uma possibilidade de apresentar ao mercado de trabalho o seu potencial. O maior drama deste exercito juvenil é a ausência de vagas oferecidas àqueles que procuram o seu primeiro emprego.
Nos últimos dez anos, o país criou apenas 100 mil postos de trabalho para pessoas na faixa etária de 15 a 24 anos, enquanto 2,8 milhões de jovens ingressaram no mercado de trabalho. Poucos são os cursos universitários no país que oferecem disputa tão acentuada como atualmente ocorre no mercado de trabalho, que tem 28 jovens concorrendo, em média, a cada vaga aberta.
O aprofundamento da competição no interior do mercado de trabalho decorre também do fechamento de empregos tradicionalmente ocupados pelos jovens. Dos 3,2 milhões de empregos formais destruídos na década de 1999, 2 milhões atingiram o segmento com menos de 25 anos de idade.
Além disso, parte das vagas oferecidas aos jovens são ocupadas por adultos, já que o desemprego também afeta gravemente os chefes de família, que, desesperados, aceitam qualquer coisa. Paralelamente, a pouca experiência profissional, a baixa escolaridade e os traços de menor responsabilidade fazem parte das razões usadas por patrões e de até especialistas para explicar o desemprego juvenil, sem que estejam em consonância com a realidade do mercado de trabalho.
Ao contrário do senso comum, a maior geração de vagas tem ocorrido nos postos de trabalho mais simples, não exigindo, necessariamente, maior grau de profissionalização. São os casos das ocupações de emprego doméstico, de limpeza e conservação e de segurança privada e pública, que foram as que mais cresceram nos anos 90.
Ao mesmo tempo, ganha importância a defesa do individualismo, por meio da promoção da cultura da auto-ajuda. Isto é, a transferência do problema do desemprego ao próprio jovem que, na condição de sem emprego, precisa fazer curso disso, daquilo e muito mais, sem falar nas falsas dicas de como realizar um currículo "esperto", como responder "inteligentemente" a questões nas entrevistas etc. Como se bastasse ter conhecimento para que o emprego surgisse.
Apesar de tudo isso, há saídas para os jovens que não sejam o desespero do desemprego, a violência da criminalidade, a degradação da prostituição e a fuga pelas drogas. Por não haver alternativas individuais para todos, apenas para alguns, o país precisa de um projeto nacional de desenvolvimento que viabilize o crescimento econômico em mais de 5,5% ao ano e por toda uma década. Ademais, dois programas nacionais devem ser constituídos.
O primeiro diz respeito à manutenção do jovem por mais tempo na escola, fazendo com que ingresse mais tardiamente no mercado de trabalho. A melhora na educação nacional é necessária, assim como a difusão de medidas de transferência de renda para as famílias carentes com vistas a financiar o tempo do jovem na escola, por meio de programas de renda mínima, bolsa escolas, entre outros.
O segundo programa deve conter uma estratégia especificamente voltada à abertura de vagas aos jovens no mercado de trabalho. O estímulo à criação de postos de trabalho subsidiados no setor privado e de programas de utilidade coletiva no setor público contribui para a geração de maiores e melhores saídas aos jovens.


MARCIO POCHMANN é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas; é autor de "A batalha Pelo Primeiro Emprego no Brasil" (Publisher Brasil)



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