São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006
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fitness

Com a bola toda

Vindas das sessões de fisioterapia, bolas de vários tamanhos e pesos são utilizadas em aulas de abdominal, alongamento, musculação, pilates e dança; acessório ajuda a corrigir problemas posturais, a tratar dores na coluna e a melhorar o equilíbrio

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Coloridas, enormes, mínimas, macias, pesadas. As bolas, nos mais variados tamanhos e pesos, estão rolando soltas nas academias. Com nomes sugestivos como "fitball" ou "medicine ball", são equipamento para novas aulas de abdominal, musculação, alongamento, pilates e dança. E se encaixam perfeitamente no conceito de ginástica funcional -a tendência mais falada atualmente na área de fitness.
Embora as bolas e a ginástica funcional já sejam utilizadas há tempos na fisioterapia e na medicina esportiva, elas entraram pouco a pouco nas salas de aulas convencionais e só recentemente ganharam uma série de horários específicos para modalidades que vão muito além do alongamento e passaram a ser chamadas por nomes próprios. Segundo Izadora Guimarães, professora da academia Competition, em São Paulo, essas aulas atendem a cada vez mais alunos que procuram, mais do que músculos fortes, qualidade de vida. "Além dos resultados estéticos, o trabalho com bolas também é preventivo de dores na coluna e de problemas posturais", diz.
A malhação com bola também promete melhores resultados, em menos tempo e com muito mais diversão. Lúdicas as bolas são de fato, mas isso não quer dizer que os exercícios exijam menos esforço. Ao contrário, a aparente brincadeira de deitar e rolar pode jogar muito "saradão" para escanteio. "O excesso de tônus [muscular] pode ser prejudicial à mobilidade, e fica mais difícil equilibrar-se sobre uma superfície instável", explica Bia Ocougne, professora de dança e de alongamento.
A instabilidade da base e a busca de equilíbrio são as chaves para entender a eficácia da bola no condicionamento físico. Em cima de uma delas, a pessoa precisa contrair vários grupos musculares para não cair. "Isso fortalece toda a musculatura do centro do corpo: a região abdominal e a base da coluna", afirma Elaine Cruz, professora da Cia. Athlética, em São Paulo. Por isso, mesmo uma aula focada em relaxamento e alongamento, como a de "prana ball", dada por Cruz, traz como benefício adicional o fortalecimento muscular.

Abdominais poderosos
A melhor relação entre custo e benefício é uma das vantagens dos abdominais com bola, acredita Izadora Guimarães, que elaborou o curso "ABS balltrainning". Na aula convencional, os movimentos costumam causar uma compressão na coluna. Em cima da bola, isso não acontece, e há uma melhora geral da postura, que contribui para uma barriga mais reta. E não é só: enquanto os exercícios abdominais comuns trabalham apenas os músculos mais superficiais (reto-abdominal e oblíquo externo), os com bola obrigam os oblíquos internos e os transversos -músculos mais profundos- a trabalhar para manter o equilíbrio.

Trabalho em grupo
"É o que chamamos de sinergia: para desenvolver o músculo desejado, são usados vários outros grupos musculares que ajudam na execução [do exercício]. Isso proporciona fortalecimento com movimentos mais coerentes, mais parecidos com os que usamos no dia-a-dia", diz Gerseli Angeli, diretora científica do Cemaf (Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Entre outras vantagens, os movimentos coerentes, ou funcionais, aceleram a etapa de aprendizado e adaptação dos iniciantes, um dos fatores para os resultados mais rápidos obtidos com o uso das bolas. E é mais fácil incorporar a postura e os movimentos corretos às atividades cotidianas, o que reforça o trabalho feito nas aulas.

Redondas e pesadas
Para Márcio Barone, coordenador de musculação da academia Reebok Morumbi, em São Paulo, há uma demanda crescente por exercícios mais livres, que não se restrinjam aos aparelhos de musculação. "Com a "medicine ball", por exemplo, podemos trabalhar com sobrecarga em movimentos mais assemelhados aos naturais, e os resultados são muito bons", afirma.
Com pesos que variam de um a cinco quilos, as "medicine balls", muito utilizadas no treinamento de atletas profissionais, passam a fazer parte das aulas de ginástica localizada e circuitos, substituindo pesinhos e barras. São bastante usadas para abdominais e agachamentos -neste caso, a própria forma de segurar a bola ajuda a evitar sobrecarga na coluna cervical.
Alunos mais adiantados também podem fazer treinos lançando e agarrando a "medicine ball", o que, além de trazer fortalecimento e potência, desenvolve a coordenação motora.

Consciência corporal
A variedade de pesos e de tamanhos faz da bola um equipamento extremamente versátil. "Se você pressiona o pé sobre uma bola de tênis, massageando a planta, ajuda a construir o arco do pé e a ter mais consciência de seu apoio no chão", exemplifica Betty Gervitz, fisioterapeuta e professora de dança e alongamento do Estúdio Danças do Mundo, em São Paulo.
Com uma bola pequena ou média (um pouco menor do que a de futebol), é possível organizar o movimento da mão e do braço. "Primeiro, você arredonda a mão para receber a bola. Depois, você acompanha visualmente o movimento. Fica mais fácil ter noção da altura do braço, da direção para onde ele aponta e da continuidade do movimento", diz Gervitz.
Essa é uma das formas de usar a bola para aumentar a consciência corporal. Mas o simples, e normalmente inconsciente, trabalho de buscar o ponto de equilíbrio sobre uma bola é, provavelmente, o mais poderoso efeito proporcionado pelo objeto. Segundo Angeli, isso estimula o sistema nervoso central e os terminais proprioceptivos, isto é, os terminais nervosos dos músculos e articulações que dão ao corpo a percepção dele mesmo e dele em relação ao espaço.

Fisioterapia
Assim como outros aparelhos, as bolas saíram dos consultórios médicos e de fisioterapia para virar moda nas salas de musculação e fitness. Um dos primeiros modelos foi o criado pelo casal de fisioterapeutas alemães Berta e Karel Bobath, para tratar crianças e adultos com problemas neurológicos. A chamada bola Bobath, ainda muito usada em sessões de fisioterapia, é a mãe das bolas importadas para as academias -que ganharam os nomes comerciais de "fitball", "ginastic ball" e bola suíça.
E, dentro da própria fisioterapia, novos usos foram acrescentados às bolas -o casal Bobath as utilizava, principalmente, em crianças com paralisia cerebral.
Uma das novas teses na área, defendida na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) por Eliane Rodrigues Corrêa, da Universidade Federal de Santa Maria (RS), propõe os exercícios com bolas para minimizar problemas causados pela síndrome da respiração bucal. "O trabalho com a bola melhora a postura e o equilíbrio muscular, especialmente na região cervical, e auxilia a mecânica da respiração", diz Corrêa.
Para problemas mais comuns de postura, a bola garante resultados quase imediatos. "O simples fato de sentar-se na bola faz a pessoa alinhar a postura, mesmo sem perceber que está fazendo isso", garante Angeli. Ela conta que, nos EUA, foi feito um estudo comparativo com crianças em idade escolar. Em uma das classes, as cadeiras foram substituídas por bolas -e esse foi o único grupo de alunos que não apresentou nenhum problema postural comum aos estudantes.

[!] O trabalho de buscar o ponto de equilíbrio sobre uma bola aumenta a consciência corporal


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