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fitness
Com a bola toda
Vindas das sessões de fisioterapia, bolas de vários tamanhos e pesos são utilizadas
em aulas de abdominal, alongamento, musculação, pilates e dança; acessório ajuda
a corrigir problemas posturais, a tratar dores na coluna e a melhorar o equilíbrio
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Coloridas, enormes,
mínimas, macias, pesadas. As bolas, nos
mais variados tamanhos e pesos, estão rolando soltas nas academias. Com nomes
sugestivos como "fitball" ou
"medicine ball", são equipamento para novas aulas de abdominal, musculação, alongamento, pilates e dança. E se encaixam perfeitamente no conceito de ginástica funcional -a
tendência mais falada atualmente na área de fitness.
Embora as bolas e a ginástica
funcional já sejam utilizadas há
tempos na fisioterapia e na medicina esportiva, elas entraram
pouco a pouco nas salas de aulas convencionais e só recentemente ganharam uma série de
horários específicos para modalidades que vão muito além
do alongamento e passaram a
ser chamadas por nomes próprios. Segundo Izadora Guimarães, professora da academia
Competition, em São Paulo, essas aulas atendem a cada vez
mais alunos que procuram,
mais do que músculos fortes,
qualidade de vida. "Além dos
resultados estéticos, o trabalho
com bolas também é preventivo de dores na coluna e de problemas posturais", diz.
A malhação com bola também promete melhores resultados, em menos tempo e com
muito mais diversão. Lúdicas
as bolas são de fato, mas isso
não quer dizer que os exercícios exijam menos esforço. Ao
contrário, a aparente brincadeira de deitar e rolar pode jogar muito "saradão" para escanteio. "O excesso de tônus
[muscular] pode ser prejudicial
à mobilidade, e fica mais difícil
equilibrar-se sobre uma superfície instável", explica Bia
Ocougne, professora de dança e
de alongamento.
A instabilidade da base e a
busca de equilíbrio são as chaves para entender a eficácia da
bola no condicionamento físico. Em cima de uma delas, a
pessoa precisa contrair vários
grupos musculares para não
cair. "Isso fortalece toda a musculatura do centro do corpo: a
região abdominal e a base da
coluna", afirma Elaine Cruz,
professora da Cia. Athlética,
em São Paulo. Por isso, mesmo
uma aula focada em relaxamento e alongamento, como a
de "prana ball", dada por Cruz,
traz como benefício adicional o
fortalecimento muscular.
Abdominais poderosos
A melhor relação entre custo
e benefício é uma das vantagens dos abdominais com bola,
acredita Izadora Guimarães,
que elaborou o curso "ABS balltrainning". Na aula convencional, os movimentos costumam
causar uma compressão na coluna. Em cima da bola, isso não
acontece, e há uma melhora geral da postura, que contribui
para uma barriga mais reta. E
não é só: enquanto os exercícios abdominais comuns trabalham apenas os músculos mais
superficiais (reto-abdominal e
oblíquo externo), os com bola
obrigam os oblíquos internos e
os transversos -músculos
mais profundos- a trabalhar
para manter o equilíbrio.
Trabalho em grupo
"É o que chamamos de sinergia: para desenvolver o músculo desejado, são usados vários
outros grupos musculares que
ajudam na execução [do exercício]. Isso proporciona fortalecimento com movimentos
mais coerentes, mais parecidos
com os que usamos no dia-a-dia", diz Gerseli Angeli, diretora científica do Cemaf (Centro
de Medicina da Atividade Física e do Esporte), da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo). Entre outras vantagens,
os movimentos coerentes, ou
funcionais, aceleram a etapa de
aprendizado e adaptação dos
iniciantes, um dos fatores para
os resultados mais rápidos obtidos com o uso das bolas. E é
mais fácil incorporar a postura
e os movimentos corretos às
atividades cotidianas, o que reforça o trabalho feito nas aulas.
Redondas e pesadas
Para Márcio Barone, coordenador de musculação da academia Reebok Morumbi, em São
Paulo, há uma demanda crescente por exercícios mais livres, que não se restrinjam aos
aparelhos de musculação.
"Com a "medicine ball", por
exemplo, podemos trabalhar
com sobrecarga em movimentos mais assemelhados aos naturais, e os resultados são muito bons", afirma.
Com pesos que variam de um
a cinco quilos, as "medicine
balls", muito utilizadas no treinamento de atletas profissionais, passam a fazer parte das aulas de ginástica localizada e
circuitos, substituindo pesinhos e barras. São bastante
usadas para abdominais e agachamentos -neste caso, a própria forma de segurar a bola
ajuda a evitar sobrecarga na coluna cervical.
Alunos mais adiantados também podem fazer treinos lançando e agarrando a "medicine
ball", o que, além de trazer fortalecimento e potência, desenvolve a coordenação motora.
Consciência corporal
A variedade de pesos e de tamanhos faz da bola um equipamento extremamente versátil. "Se você
pressiona o pé
sobre uma bola
de tênis, massageando a
planta, ajuda a
construir o arco do pé e a ter
mais consciência de seu apoio
no chão",
exemplifica
Betty Gervitz,
fisioterapeuta e
professora de
dança e alongamento do Estúdio Danças do
Mundo, em São
Paulo.
Com uma bola pequena ou
média (um
pouco menor
do que a de futebol), é possível organizar o
movimento da mão e do braço.
"Primeiro, você arredonda a
mão para receber a bola. Depois, você acompanha visualmente o movimento. Fica mais
fácil ter noção da altura do braço, da direção para onde ele
aponta e da continuidade do
movimento", diz Gervitz.
Essa é uma das formas de
usar a bola para aumentar a
consciência corporal. Mas o
simples, e normalmente inconsciente, trabalho de buscar
o ponto de equilíbrio sobre
uma bola é, provavelmente, o
mais poderoso efeito proporcionado pelo objeto. Segundo
Angeli, isso estimula o sistema
nervoso central e os terminais
proprioceptivos, isto é, os terminais nervosos dos músculos
e articulações que dão ao corpo
a percepção dele mesmo e dele
em relação ao espaço.
Fisioterapia
Assim como outros aparelhos, as bolas saíram dos consultórios médicos e de fisioterapia para virar moda nas salas
de musculação e fitness. Um
dos primeiros modelos foi o
criado pelo casal de fisioterapeutas alemães Berta e Karel
Bobath, para tratar crianças e
adultos com problemas neurológicos. A chamada bola Bobath, ainda muito usada em
sessões de fisioterapia, é a mãe
das bolas importadas para as
academias -que
ganharam os nomes comerciais de
"fitball", "ginastic
ball" e bola suíça.
E, dentro da própria fisioterapia,
novos usos foram
acrescentados às
bolas -o casal Bobath as utilizava,
principalmente,
em crianças com
paralisia cerebral.
Uma das novas
teses na área, defendida na Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas) por
Eliane Rodrigues
Corrêa, da Universidade Federal de
Santa Maria (RS),
propõe os exercícios com bolas para
minimizar problemas causados pela síndrome da
respiração bucal. "O trabalho
com a bola melhora a postura e
o equilíbrio muscular, especialmente na região cervical, e auxilia a mecânica da respiração",
diz Corrêa.
Para problemas mais comuns de postura, a bola garante
resultados quase imediatos. "O
simples fato de sentar-se na bola faz a pessoa alinhar a postura, mesmo sem perceber que
está fazendo isso", garante Angeli. Ela conta que, nos EUA, foi
feito um estudo comparativo
com crianças em idade escolar.
Em uma das classes, as cadeiras
foram substituídas por bolas
-e esse foi o único grupo de
alunos que não apresentou nenhum problema postural comum aos estudantes.
[!]
O trabalho de buscar o ponto de equilíbrio sobre uma bola aumenta a consciência corporal
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