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O que aperta cura?
Cada vez mais justa, moda esportiva
feita com tecidos que comprimem os
músculos promete reduzir a fadiga e
acelerar a recuperação pós-treino
Caio Guatelli/Folhapress
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O triatleta Ricardo Hirsch, entusiasta da compressão
RODRIGO GERHARDT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
As roupas de compressão
voltam à cena. Depois de seduzir atletas com a controversa promessa de aumentar
o rendimento no esporte,
elas caíram novamente no
gosto de esportistas profissionais e amadores.
Peças em tecidos elásticos,
que ficam praticamente coladas ao corpo, ressurgem associadas a outros benefícios:
o de reduzir a fadiga depois
da atividade física e o de acelerar a recuperação da musculatura nos momentos de
descanso.
O mercado tem meias, polainas, leggings, bermudas,
camisetas, tops e macacões
em tecidos especiais.
Agora é moda, mas o princípio é antigo. São roupas desenvolvidas a partir do conceito daquelas meias de compressão medicinais para varizes, que atuam sobre o sistema circulatório periférico,
aumentando o retorno do
sangue venoso e promovendo uma maior oxigenação celular nos músculos.
A influência das roupas
compressivas no desempenho esportivo começou a ser estudada em
bermudas, e entre os jogadores de vôlei, basquete e futebol. Logo depois vieram polainas, leggings e macacões
para atletas de endurance,
como triatletas, ciclistas e
corredores. Agora, já estão
circulando nas academias.
Após uma sessão de exercício intenso, sempre vem
aquele desconforto que os especialistas chamam de dor
muscular tardia, porque se
manifesta de 24 a 48 horas
depois da atividade.
Esse desconforto é um sintoma dos microtraumas causados nas fibras musculares
que foram trabalhadas no
exercício físico.
Pois o que essas vestimentas fazem é colocar ainda
mais pressão sobre o corpo
enquanto ele se movimenta,
com a promessa de aliviar a
dor muscular que virá depois
e apressar a recuperação.
"Noventa por cento dos ciclistas do Tour de France já
adotam essas roupas. No
triatlo, o uso também é cada
vez mais frequente", diz o
triatleta Ricardo Hirsch, também diretor técnico da assessoria esportiva Personal Life.
O próprio Hirsch tem uma
meia compressiva, importada: "Suo para colocar, mas
depois passo o dia inteiro
com ela sob a calça e nem
percebo. Sinto uma melhora
na fadiga", afirma.
MAIS SUSTENTAÇÃO
Um estudo que avaliou esse efeito foi feito pelo Cemafe
(Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte), ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a
pedido da Santaconstancia
- empresa brasileira de desenvolvimento de tecnologia
têxtil, que está investindo
nesse filão.
"Durante a atividade física, a compressão dá maior
sustentação à musculatura,
o que reduz a sua vibração,
preservando mais as fibras
dos microtraumas", explica
o fisiologista do esporte Turíbio Leite de Barros, que coordenou o estudo.
Para conseguir esse efeito,
a recomendação é, depois de
uma hora de intervalo do
exercício, o uso contínuo da
peça de roupa por seis a oito
horas por dia.
"A compressão ajuda a
conter um tipo de edema que
se forma na musculatura em
função do processo inflamatório, diminuindo assim o
desconforto pela maior circulação sanguínea na região. A
compressão reduz o diâmetro das veias superficiais, aumentando o fluxo", afirma o
fisiologista.
Para chegar a essa conclusão descrita por Turíbio Barros, o estudo monitorou, em
cinco ciclistas vestindo bermudas compressivas, a concentração de creatina-quinase (CK) - enzima decorrente
do processo inflamatório,
que funciona como um marcador da fadiga muscular.
Os ciclistas foram levados
à exaustão em 30 minutos.
Nos testes de sangue realizados 24 horas, 48 horas e 72
horas depois da atividade,
verificou-se uma redução de
26% na concentração de CK.
APENAS PERCEPÇÃO
Alguns desses novos produtos apregoam uma capacidade de prevenir ou diminuir
as cãibras, mas isso é mais
que improvável: não é verdade. "As cãibras têm origem
metabólica, muitas vezes são
causadas pela desidratação", afirma o fisiologista.
A compressão parece ser
mais eficaz em atividades de
longa duração. "Corri 24 km
com o macacão e, no dia seguinte, não tinha dor na panturrilha", testemunha o triatleta Marcelo Butenas.
Sua assessoria esportiva,
voltada para a praticantes
amadores que buscam alta
performace, é patrocinada
pela marca Speedo, que fornece aos 300 alunos os macacões de compressão.
"Da experiência desses
usuários, coletamos as informações para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento
das roupas", informa o diretor da marca, Renato Hacker.
Apesar da constatação de
alguns benefícios da compressão e do aumento do
mercado dessas roupas, os
parâmetros para seu uso ainda são pouco claros.
Não há, por exemplo, um
padrão entre as marcas ou a
definição sobre qual o nível
mais adequado de pressão
para cada caso ou região do
corpo. A escolha e o uso das
roupas supostamente terapêuticas ainda são baseados
na percepção de quem as
veste. Pura subjetividade.
Uma dificuldade é a variação nas medidas corporais
de cada pessoa, como a circunferência da perna, por
exemplo. Quem tem uma coxa mais grossa sofrerá uma
compressão maior.
"Uma tendência para breve da indústria de vestuário
esportivo é uma oferta mais
ampla de tamanhos e formatos, para se aproximar mais
da realidade de cada usuário", afirma o consultor e engenheiro têxtil da Santaconstancia José Favilla.
SÓ PRESSÃO
Nos tecidos, a medida de
pressão é feita em milímetros
de mercúrio (mmHg). "Até 20
mmHg, a compressão é considerada terapêutica e não
precisa ser informada nos
produtos, diferentemente do
caso das meias medicinais,
que chegam a 40 mm Hg",
informa Favilla.
As peças esportivas fabricadas no Brasil são de baixa
compressão: situam-se na
faixa que varia de 6 mmHg a
15 mmHg.
"Não há interesse em produzir roupas mais fortes por
uma questão estética. Os
moldes são menores, elas
marcam muito no corpo, fica
feio. Em função disso, não há
restrição ou risco de segurança no uso dessas roupas para
os consumidores", afirma o
engenheiro têxtil.
Muitos esportistas brasileiros, no entanto, trazem do
exterior peças com nível de
compressão bem mais alto
-isso quando não usam as
próprias meias medicinais.
No mercado, também já há
uma oferta maior de roupas
de compressão importadas,
como as da marca americana
CX-W, que têm nível de compressão de 20 mmHg.
A nutricionista Luciana
Bruno, 37, trouxe um par de
meias compressivas dos
EUA, depois de ver uma amiga usando. Comprou para experimentar nos seus treinos
longos, mas diz que nem sabe o nível da pressão.
"A meia não mudou em
nada o meu rendimento, mas
sinto menos dor, ficou mais
gostoso treinar", afirma.
O doutor em cirurgia vascular pela USP Guilherme
Yasbek diz que uma pressão
acima de 30 mmHg só é indicada para quem tem problemas circulatórios. "O excesso
de pressão tem o efeito de um
garrote e pode causar prejuízos para a recuperação, ao
invés de benefícios", diz.
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