São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2010
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S.O.S. PÉS

Luxo mesmo, hoje, é saber escolher e apreciar um sapato confortável de verdade

MANUELA MINNS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nossos pés não foram projetados para usar sapatos. Mas a vida exige que vivam protegidos em embalagens nem sempre saudáveis.
Mulheres que por exigência da profissão ou da moda passam horas em saltos altos podem sofrer o encurtamento dos músculos posteriores da perna, o que gera desconforto na hora de usar um modelo de sola plana.
Além disso, sobre os saltos, a tendência é a bacia inclinar para frente, podendo surgir lordose, cifose ou hipertensão dos músculos do joelho. Esse deslocamento também pode acarretar dor na parte posterior da coxa, às vezes confundida com inflamação no nervo ciático.
"Para girar a bacia para trás e encaixá-la novamente é preciso alongar os músculos lombares, fortalecer os grandes glúteos e os músculos abdominais", afirma o médico fisiatra Donaldo Jorge Filho, especialista em medicina da reabilitação do Hospital das Clínicas.
Para isso, a boa e velha caminhada é eficiente. Com tênis adequado e confortável, claro. Palmilhas de reprogramação postural também ajudam a prevenir e tratar problemas causados por sapatos inadequados.
"Qualquer salto a partir de três centímetros vai deformar o pé, igualzinho a um salto 15", alerta a ortopedista Cibele Réssio, da Unifesp (Universidade Federal de SP), especialista em pés e tornozelos.
Se não há jeito de se livrar da vida nas alturas, pode-se optar por modelos tipo plataforma, menos prejudiciais. Mas, com eles, o risco de torcer o tornozelo é maior, dizem os médicos.
Já aqueles saltos que vistos de lado parecem finos e de trás têm a largura do tornozelo são bons para pessoas de mais idade ou com sobrepeso, pois têm maior área de apoio e evitam entorses.
A ortopedista sugere usar o salto apenas quando necessário. "Tenho mais de 460 pares, mas, ao longo do dia, substituo por um calçado mais confortável", diz.
Todo mundo deve trocar o sapato, sempre. Se possível, ao longo do dia, se não, no dia seguinte. Isso porque, a médica explica, todo calçado machuca, de alguma forma, e ao substitui-lo dá-se um respiro à região ferida.
O melhor calçado tem o formato do pé e entre 2 a 3 cm de salto em relação à sola da frente. O pé calçado tem seus movimentos limitados e essa diferença de salto facilita a execução da marcha.
Um sapato confortável precisa ser generoso na sua parte anterior, tanto na área onde ficam os dedos quanto na lateral do joanete. Seu contraforte -a parte que acomoda o calcanhar- deve ser firme. E a palmilha tem que ser como um berço, com ondulações aonde o pé vai se encaixar perfeitamente.
Para tirar a prova, vale tirar a palmilha de dentro do sapato e colocá-la no chão. Ao pisar nela, o pé tem que caber direitinho. "Se sobrar ou faltar espaço demais, o sapato não é adequado para você", ensina Patrícia Guedes, dona da loja Perere, especializada em "comfort shoes".
A palmilha também deve servir como amortecimento, principalmente para idosos. "Com a idade, o pé perde o amortecimento natural, e a palmilha vai cumprir essa função, protegendo os dedos", explica Patrícia.

COMO COMPRAR
A melhor hora para comprar sapatos é no fim da tarde ou à noite, quando os pés estão um pouco inchados.
Outro cuidado: você tem certeza que sabe o seu número. "Na maioria das pessoas, o pé aumenta um ou dois pontos depois dos 20 anos. Pouca gente sabe disso e leva para casa o número da adolescência", diz a ortopedista Cibele Réssio.
Quando você anda, os dedos dobram e esticam. Portanto, precisam de folga para se movimentar. Com o calcanhar encostado atrás, o ideal é que o sapato tenha sobra da largura de um polegar entre o fim do dedão e a ponta.
Segundo a ortopedista, depois de andar descalço, a melhor coisa para os pés é um bom par de tênis, que protege, absorve o impacto e distribui o peso do corpo.
Os populares e confortáveis Crocs, que têm o formato do pé, não causam deformidades, segundo a médica. Além de tudo, são leves. Mas ela lembra que, como esse modelo foi criado para ser usado em barco, com piso molhado, a borracha da sua sola causa muito atrito e, no ambiente seco, pode aumentar a incidência de quedas.
As aparentemente inocentes rasteirinhas podem ser bem perigosas. Elas jogam o centro da gravidade do corpo para trás e, para compensar, acaba-se forçando a parte da frente da perna.
"É muito comum a pessoa sair para pular Carnaval com uma rasteirinha e no dia seguinte acordar com dor na canela", conta o fisiatra Donaldo Jorge Filho.
Por mais gostoso de usar que seja o seu sapato, sempre que puder opte por andar descalço. De preferência em solo que tenha areia ou grama. Isso alegra um pé que passa o dia inteiro com sua movimentação aprisionada.


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