São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2010
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ROSELY SAYÃO roselysayao@uol.com.br

HORA DE DORMIR


Levar a criança para dormir na cama dos pais pode ser prático, mas tira dela a autonomia de sono


QUANDO uma mulher engravida, por nove meses ela e a família se preparam para a chegada de um novo integrante ao grupo -e isso acontece independentemente do fato de ser ou não o primeiro filho.
Quando o bebê chega em casa, as mudanças que ocorrem na dinâmica e na estrutura do agora novo grupo familiar são muitas. O cotidiano doméstico vira de cabeça para baixo, principalmente nos primeiros meses de vida do bebê. E não há maneiras de se preparar para isso. É no enfrentamento de cada nova situação e de cada nova dificuldade que os pais -e a mãe em particular- construirão um vínculo com o filho. Esse vínculo é o que permitirá a busca de soluções para as situações que se apresentam.
Nesse período inicial, que pode ser de meses ou se alongar em anos, o sono dos pais sofre profundas alterações. Bebês acordam por conta própria, a qualquer hora. E o recurso que eles têm para pedir o que precisam é o choro. E aí, lá se vão embora as noites de sono sem interrupção dos pais...
Alguns casais, nessa situação, priorizam seu próprio descanso e, para isso, buscam as mais variadas soluções para fazer o filho dormir por mais tempo. O grande problema é que o bebê não é considerado e que os novos pais ainda não se deram conta de que um filho novo em casa muda radicalmente a vida deles.
Levar o bebê para dormir com os pais, na cama deles, é uma prática comum, porque isso aquieta a criança e permite que os pais não tenham de se levantar várias vezes durante a noite. Entretanto, logo se constata que essa não é uma boa solução. Tal atitude tira a autonomia de sono da criança, que passa a depender desse lugar e dos pais para dormir. Essa saída também rouba a vida íntima do casal. Mesmo quando a mãe não tem companheiro, levar o bebê para dormir em sua cama significa a construção de um lugar simbólico para a criança nessa relação que poderá resultar em uma grande confusão de identidade.
Outros pais, inclusive aconselhados por profissionais das mais diversas áreas ou pessoas amigas, acreditam que a melhor medida a tomar seja a de deixar o bebê chorar até ele se cansar e adormecer. Abandonar a criança dessa maneira também pode não ser uma boa atitude. É claro que chorar não faz mal ao bebê, mas se faz necessária a construção de um ritual com o bebê, anterior a essa atitude.
Levar a criança até seu quarto, prepará-la para o recolhimento com a troca de roupas, contando histórias, entoando cantigas de ninar com tom de voz tranquilo são algumas práticas, entre outras, que ajudam a criança a sentir a presença amorosa da mãe e a se acalmar durante a sua ausência.
Mesmo assim, a criança pode chorar quando a mãe se retira. Nesses casos, a voz da mãe pode realizar verdadeiros "milagres". Em vez de ignorar o choro ou de correr até o bebê, ela pode falar com ele com doçura da porta do quarto ou próxima do berço e ir se afastando progressivamente até perceber que o filho está se aquietando.
Esse tipo de atitude pode ser uma boa solução, mas mesmo assim os pais precisam ter consciência de que períodos de sono conturbado dos filhos irão se repetir ciclicamente durante os primeiros cinco, seis anos de vida.
Fazer tudo isso dá trabalho? Dá, e como dá! Mas quem foi que disse que ter filhos é só curtição? Ter filhos resulta em uma das tarefas das mais importantes na vida das pessoas, mas das mais árduas também.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha) blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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