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Casas viram armadilha para crianças e idosos
Para evitar queimaduras e quedas, é preciso adaptar ambientes, principalmente banheiro e cozinha, os campeões de acidentes
Patrícia Santos/Folha Imagem
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Barras de apoio e rampas facilitam a locomoção de idosos residentes no condomínio da Sociedade beneficiente Alemã, em SP |
ANA PAULA ORLANDI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Trancar a casa com mil cadeados e equipá-la com alarmes
modernos pode até afugentar ladrões, mas não garante a segurança de ninguém. O interior das residências está repleto de
objetos "inocentes" que podem provocar quedas, cortes e queimaduras. Crianças e idosos são as principais vítimas das armadilhas domésticas. Escadas sem corrimão, quinas, pisos escorrega-dios, varandas sem proteção, camas muito baixas e bugigangas espalhadas por
mesas não incomodam adultos jovens,
mas são ameaças à integridade física de
maiores de 60 anos e menores de 10 anos.
Enquete da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot) constatou que 80% da população acima de 60
anos cai e se machuca dentro de casa. "A
causa principal da queda são os obstáculos colocados no meio do caminho", alerta o ortopedista Marcos Musafir, ex-presidente da Sbot.
Adaptar a casa conforme os donos vão
envelhecendo ainda é um hábito raro no
Brasil, mas geriatras e ortopedistas garantem que a medida é eficiente. "Idosos
caem muito no trajeto noturno entre
quarto e banheiro. Para prevenir, é preciso construir casas seguras", diz o ortopedista Lindomar Oliveira. Ele entrevistou
225 pacientes maiores de 60 anos internados em hospitais de Goiânia (GO) devido a fraturas e descobriu que 75% deles
haviam caído dentro de casa.
"O idoso tem mais chance de cair porque o envelhecimento acarreta um somatório de deficiências sensoriais e, às vezes,
físicas", explica João Toniolo Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria de São Paulo. Além de idosos caírem
mais, quase sempre o resultado dos tombos é mais sério por conta de doenças associadas ao envelhecimento, que debilitam ossos e articulações. É o caso da osteoporose, doença que afeta principalmente a população feminina de terceira
idade, enfraquece os ossos e aumenta o
risco de fraturas.
Depois dos idosos, as crianças são as
maiores vítimas da falta de segurança
dentro de casa. Se, para os maiores de 60,
o banheiro é o cômodo campeão de acidentes, para os menores de 5, o perigo
"mora" na cozinha. Estudo da Unidade
de Tratamento de Queimados do Hospital João 23, de Belo Horizonte, constatou
que 65% das queimaduras domésticas
ocorrem na cozinha e que a maioria das
vítimas são crianças até 5 anos.
Para evitar acidentes e tornar a casa
mais confortável para idosos, a saída é
eliminar "vícios" arquitetônicos, como
portas estreitas, escadas sem proteção e
banheiros com piso desnivelado. Embora a casa segura ainda engatinhe no Brasil, o conceito já foi incorporado por arquitetos e engenheiros europeus e norte-americanos. "Na Espanha, as casas são
projetadas para abrigar e receber todo tipo de pessoa, inclusive portadores de deficiência e idosos", conta Adriana de Almeida Prado, arquiteta especializada em
gerontologia. "O ideal seria que projetássemos e construíssemos casas seguras,
mas a maioria das residências ainda é feita para pessoas em pleno vigor físico",
completa a arquiteta Cybele Monteiro de
Barros, criadora do site Casa Segura
(www.casasegura.arq.br).
Em São Paulo, o flat Residencial Santa
Catarina, inaugurado há seis meses, foi
construído para atender às demandas de
moradores mais velhos. Os apartamentos possuem barras de apoio nos banheiros e nas piscinas, além de pisos antiderrapantes e campainhas ligadas à central
médica do hospital vizinho, que leva o
mesmo nome.
Mesmo em Copacabana, bairro carioca
em que 24% dos moradores têm mais de
60 anos, só existe um hotel adaptado à
terceira idade, o Cristal Palace. Em outubro, o bairro ganhará um condomínio
construído especialmente para idosos.
Como a maioria das construtoras no Brasil ainda não dá importância à segurança
interna das casas, a alternativa para idosos e crianças é adaptar o espaço com pequenas reformas ou com a compra de
equipamentos de proteção.
Alto custo
As mudanças possíveis vão
da instalação de barras de apoio no banheiro até sistemas de iluminação com
controle remoto. Por ser novidade, a prevenção ainda custa caro. O preço de uma
barra de apoio pode variar entre R$ 30 e
R$ 300. "Há três anos, não havia nem importação desse tipo de produto. Hoje, o
mercado brasileiro já oferece opções,
mas elas ainda são restritas a pessoas de
classe média para cima", afirma a fisioterapeuta Mônica Perracini.
Para que as adaptações não pesem tanto no bolso do morador, a orientação é
começar a implementar as mudanças aos
poucos . "O ideal é fazer adaptações progressivas, começando pelo banheiro, que
é o lugar mais perigoso da casa. Com R$
350, dá para erguer o vaso sanitário, comprar barra de segurança e instalar fitas
adesivas no chão do boxe", diz Cybele.
Apesar de as obras de adaptação custarem caro, geriatras e arquitetos recomendam que o idoso só mude de casa se não
houver outra opção para garantir sua segurança e seu conforto. "Mudar é a última saída. Se for esse o caso, o idoso deve
levar com ele suas peças preferidas, como
porta-retratos, cadeira ou cama. É importante que o espaço no flat ou na nova
casa seja personalizado", afirma Adriana.
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