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SAÚDE
Mistura arriscada
Interações entre fitoterápicos e remédios muito usados para doenças crônicas têm efeitos devastadores, afirmam médicos
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Produtos à base de extratos vegetais têm
efeitos reais na saúde.
E isso não é necessariamente uma boa notícia. Uma
revisão de estudos realizada
por médicos da Clínica Mayo,
nos EUA, comprova que os produtos vegetais consumidos para prevenção e tratamento de
problemas de saúde causam
efeitos indesejados e provocam
interações perigosas com os remédios mais usados no tratamento de doenças crônicas.
Divulgada este mês no "Journal of the American College of
Cardiology", a revisão inclui
trabalhos publicados entre
1996 e 2008 e uma tabela mostrando os riscos de mais de 20
produtos à base de plantas. Sobrou até para o chá-verde.
Para os autores, milhões de
pessoas estão expostas ao risco
das interações adversas, mas os
médicos não costumam levar
em conta o uso de fitoterápicos.
Controle de qualidade
"Os pacientes não querem dizer ao médico que estão consumindo determinados produtos.
E os médicos têm dificuldade
de perguntar se o paciente consome esses produtos [à base de
plantas] ou se gostaria de utilizá-los", diz Paulo de Tarso Lima, médico e cirurgião do hospital Albert Einstein e autor de
"Medicina Integrativa - A Cura
pelo Equilíbrio" (ed. MG).
Para ele, a situação no Brasil
não é diferente da observada
pelos autores da revisão dos
EUA. "Na verdade, aqui é pior,
porque a padronização dos produtos e as medidas de segurança são muito precárias", diz.
Os especialistas da Clínica
Mayo também alertam no artigo para o baixo controle de qualidade dos produtos vendidos
no mercado norte-americano.
Eles afirmam que mais de 40% dos fitoterápicos não contêm as
doses citadas na embalagem ou
substituem os ingredientes caros por outros mais baratos.
Outro problema é que vários
produtos "naturais" são adulterados com o acréscimo de antibióticos, anti-inflamatórios
não esteroides, hormônios e
metais pesados.
Para os autores, a falta de conhecimento sobre as interações entre os produtos à base
de plantas e os medicamentos
convencionais provoca efeitos
devastadores em populações
vulneráveis, incluindo idosos,
crianças, grávidas, imunodeprimidos e pessoas com problemas hepáticos e renais.
Doentes crônicos
"É muito difundido o conceito de que se [o fitoterápico] não
fizer bem, mal não fará. É preciso alertar sobre os riscos, principalmente para doentes crônicos, que precisam tomar remédios sistematicamente", diz o
cardiologista César Jardim, do
HCor (Hospital do Coração),
em São Paulo.
É o que acontece com quem
tem problemas cardiovasculares. Pesquisas americanas mostram que 64% das pessoas com
fibrilação atrial, insuficiência
cardíaca e doença isquêmica do
coração usam os remédios convencionais e os à base de plantas ao mesmo tempo e que 58%
delas tomam suplementos capazes de provocar interações
adversas com medicamentos
amplamente usados na cardiologia, como anticoagulantes.
"Se a pessoa usa anticoagulante e, ao mesmo tempo, toma
fitoterápico, aumenta o risco
de ocorrer derrame hemorrágico, fibrilação atrial etc.", diz José Antonio Ramires, do InCor
(Instituto do Coração).
Ramires lembra que as evidências atuais sobre os fitoterápicos não permitem estabelecer claramente os benefícios
e os riscos. Portanto, eles não
são a primeira escolha do médico. Mas tudo isso não os descarta totalmente como opção terapêutica. "Por exemplo, quando
não conseguimos controlar o
colesterol com remédios, podemos associar fitoterápicos que
diminuem a absorção dessas
gorduras", diz o cardiologista.
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