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coluna social
Fotógrafo registra e recria a realidade
ELKA ANDRELLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Sebastião Salgado, 58, um dos fotógrafos mais premiados do mundo, destaca-se também em trabalhos voluntários. É o
fundador do Instituto Terra, que possui
um ambicioso projeto de recuperação
ambiental no vale do rio Doce (MG). Representante internacional do Unicef, ele
mora e trabalha em Paris e atualmente
fotografa a campanha pela erradicação
mundial da poliomielite.
Doutor em economia, só virou fotógrafo profissional aos 29 anos. Clicou para
importantes agências internacionais de
fotografia e foi membro da Magnum
Photos, cooperativa internacional de fotógrafos que incluía, entre outros, o "papa" Cartier-Bresson. Fotógrafo engajado,
Salgado dedica-se a projetos pessoais que
fazem o maior barulho. Para fazer "Êxodos", por exemplo, ele viajou por sete
anos para documentar a migração de milhares de pessoas em situação de pobreza
em 41 países.
Folha - Como funciona o Instituto Terra?
Salgado - É o maior projeto de recuperação ambiental do Brasil. Eu e a Lélia,
minha companheira, compramos essas
terras e trabalhamos nesse projeto há 11
anos. São 168 hectares em Minas Gerais,
no vale do rio Doce, com mais de 310 mil
árvores plantadas. A projeção é chegar a
1,2 milhão de árvores. O Instituto Terra
faz ecologia social. Não é focado só na recuperação da natureza, o homem é o centro. Criamos escolas, que chamamos de
Centro de Formação, para educar proprietários e trabalhadores rurais, professores, o prefeito. Ensinamos aos moradores a construir latrina, plantar pomar, fazer cooperativas. Não dá para recuperar a
natureza sem conscientizar o ser humano. E o problema não é só plantar, mas
monitorar, transformar em tecnologia.
Estamos reflorestando áreas completamente devastadas. Essa terra é da natureza, não minha e da Lélia.
Folha - Como é a campanha mundial pela
erradicação da poliomielite, do Unicef, para a qual o senhor está fotografando?
Salgado - É uma campanha brilhante. O
Unicef compra as vacinas com doações,
fazendo um trabalho de formiguinha e
arrecadando dinheiro até em cidades pequenas do interior do Brasil, e a Organização Mundial da Saúde vacina as pessoas. Estamos num momento importante da campanha. Vai ter vacinação até o
final deste ano, e vamos observar por
mais três anos. Se não houver mais nenhum caso da doença, a OMS vai anunciar a erradicação mundial em 2005.
Quando isso acontecer, os governos não
vão precisar mais vacinar ninguém, pois
a única maneira de transmissão é pelo ser
humano. Por isso ainda se vacina em lugares onde a doença está erradicada, como no Brasil, pois, enquanto houver uma
pessoa afetada, existe o risco de contrair a
doença. As fotos da campanha vão ser
publicadas num livro que sai no ano que
vem na França e em outros países. Por
enquanto, não fechamos com nenhuma
editora do Brasil. No dia 14/5, será lançada uma campanha para que qualquer
pessoa possa fazer doações pela internet
(www.endofpolio.org).
Folha - Como foram as exposições sociais
de "Êxodos"?
Sebastião Salgado - As exposições sociais foram feitas em lugares como assentamentos de sem-terra e favelas, em vários países. Organizamos uma mostra resumida com 60 fotografias e fizemos pôsteres de excelente qualidade dessas fotos.
Uma cartilha didática baseada nesse trabalho foi distribuída para igrejas, educadores. Só no Brasil, mais de 3 milhões de
pessoas que não têm acesso à cultura viram a exposição.
Folha - O senhor está preparando novas
exposições?
Salgado - Estou preparando uma série,
como foi "Êxodos", agora com as fotos
da campanha pela erradicação da poliomielite. Estou preparando também uma
retrospectiva dos meus 30 anos como fotógrafo, com as minhas fotos do ponto de
vista político. Fui muito criticado no início da minha carreira, e do jeito que o mundo está hoje, as pessoas agora reconhecem o valor do meu trabalho. Mesmo
minhas fotos mais antigas são atuais. Essa exposição vai acontecer em Washington, em dezembro de 2003.
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