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S.O.S. família
Rosely Sayão
Participação em sala de aula
Várias mães têm me
consultado sobre o
que fazer com algumas informações que
a escola dá sobre seus filhos.
Escolhi refletir sobre um tipo
de comunicação que a escola
tem feito cada vez com mais
freqüência. Trata-se de, na avaliação dos alunos, analisar o
item participação em sala de
aula. E é bom ressaltar que a escola costuma acentuar que a
participação dos alunos nas aulas é algo a ser incentivado.
Uma coisa não fica clara: o
que a escola entende por participação do aluno nas aulas? Os
pais não sabem ao certo, mas
têm lá suas hipóteses. Fazer
perguntas sobre o conteúdo das
aulas, adiantar algumas respostas resultantes de raciocínio,
estudo ou conhecimento prévio ou apresentar um trabalho
frente aos colegas são as alternativas que ocorrem com mais
freqüência. Participar de debates e apresentar propostas também. Será que é assim que os
professores entendem o conceito de participação? Pode ser
que sim, o que resulta em algo
bem complicado.
É bom notar que todas essas
possibilidades levantadas têm
um ponto em comum: a fala pública. Isso é um problema para
muitos alunos, notadamente
para os que se sentem embaraçados porque se identificam como tímidos e para aqueles que
têm medo de errar publicamente. Já para os alunos extrovertidos, que têm traquejo no
trato com os colegas e gostam
de exibir seus conhecimentos,
isso é um prato cheio.
Um ponto muito importante
é que nem sempre os professores consideram o ato de participar em toda a sua complexidade. Pudera: em um mundo em
que agir parece ser mais importante do que pensar, em que ser
o centro das atenções é considerado fundamental e em que
ser popular é um sinônimo de
ser social, a questão foi simplificada em demasia.
Vamos considerar os alunos
tímidos. Sim, eles existem. A timidez não é, necessariamente,
patológica. Pode ser um traço,
uma característica, um modo
de ser. Apenas a timidez exagerada, que atrapalha as relações
interpessoais, deve ser considerada prejudicial. Hoje, entretanto, a timidez virou defeito.
Como pode? Afinal, vivemos
(ou dizemos viver) no mundo
da diversidade e do respeito à
diferença, não é? Mas o fato é
que os tímidos estão sem lugar.
Se o aluno não participa como seus professores esperam
por ser tímido, isso quer dizer
que ele não aprende? Ora, temos inúmeros exemplos de
pessoas extremamente tímidas
que tiveram produção intelectual ou artística notáveis. E, se a
escola contemplar, de fato, as
diferenças pessoais de seus alunos, terá recursos que possibilitem aos alunos tímidos comunicar seu aprendizado. Os professores devem lembrar que
muitos deles não se pronunciam em reuniões pedagógicas
por timidez, e que isso não quer
dizer que delas não participam.
Outro ponto importante é
que alguns alunos participam,
mas de um modo bem diferente
daqueles que se encaixam no
conceito atual de participação.
Se a escola entender que participar é fazer parte da aula, por
exemplo, isso pode ocorrer
com o aluno em silêncio. Ouvir
e observar são, também, maneiras de participar. Quando
uma criança com menos de seis
anos olha atentamente dois colegas brincando, ela participa
da brincadeira mesmo que à
distância e em silêncio. Quando
um aluno não faz perguntas ou
não se pronuncia, isso não quer
dizer que não está presente.
Por outro lado, muitos alunos
que falam em todas as oportunidades nem sempre o fazem
com o sentido de participar.
Finalmente, quanto ao aluno
que não participa por medo de
errar, a escola deve reconhecer
que é responsável por esse
comportamento. Afinal, ela valoriza o acerto e reprova o erro
no processo de aprendizagem.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
@ - roselysayao@folhasp.com.br
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