São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2006
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S.O.S. família

Rosely Sayão

Participação em sala de aula

Várias mães têm me consultado sobre o que fazer com algumas informações que a escola dá sobre seus filhos. Escolhi refletir sobre um tipo de comunicação que a escola tem feito cada vez com mais freqüência. Trata-se de, na avaliação dos alunos, analisar o item participação em sala de aula. E é bom ressaltar que a escola costuma acentuar que a participação dos alunos nas aulas é algo a ser incentivado.
Uma coisa não fica clara: o que a escola entende por participação do aluno nas aulas? Os pais não sabem ao certo, mas têm lá suas hipóteses. Fazer perguntas sobre o conteúdo das aulas, adiantar algumas respostas resultantes de raciocínio, estudo ou conhecimento prévio ou apresentar um trabalho frente aos colegas são as alternativas que ocorrem com mais freqüência. Participar de debates e apresentar propostas também. Será que é assim que os professores entendem o conceito de participação? Pode ser que sim, o que resulta em algo bem complicado.
É bom notar que todas essas possibilidades levantadas têm um ponto em comum: a fala pública. Isso é um problema para muitos alunos, notadamente para os que se sentem embaraçados porque se identificam como tímidos e para aqueles que têm medo de errar publicamente. Já para os alunos extrovertidos, que têm traquejo no trato com os colegas e gostam de exibir seus conhecimentos, isso é um prato cheio.
Um ponto muito importante é que nem sempre os professores consideram o ato de participar em toda a sua complexidade. Pudera: em um mundo em que agir parece ser mais importante do que pensar, em que ser o centro das atenções é considerado fundamental e em que ser popular é um sinônimo de ser social, a questão foi simplificada em demasia. Vamos considerar os alunos tímidos. Sim, eles existem. A timidez não é, necessariamente, patológica. Pode ser um traço, uma característica, um modo de ser. Apenas a timidez exagerada, que atrapalha as relações interpessoais, deve ser considerada prejudicial. Hoje, entretanto, a timidez virou defeito.
Como pode? Afinal, vivemos (ou dizemos viver) no mundo da diversidade e do respeito à diferença, não é? Mas o fato é que os tímidos estão sem lugar. Se o aluno não participa como seus professores esperam por ser tímido, isso quer dizer que ele não aprende? Ora, temos inúmeros exemplos de pessoas extremamente tímidas que tiveram produção intelectual ou artística notáveis. E, se a escola contemplar, de fato, as diferenças pessoais de seus alunos, terá recursos que possibilitem aos alunos tímidos comunicar seu aprendizado. Os professores devem lembrar que muitos deles não se pronunciam em reuniões pedagógicas por timidez, e que isso não quer dizer que delas não participam.
Outro ponto importante é que alguns alunos participam, mas de um modo bem diferente daqueles que se encaixam no conceito atual de participação. Se a escola entender que participar é fazer parte da aula, por exemplo, isso pode ocorrer com o aluno em silêncio. Ouvir e observar são, também, maneiras de participar. Quando uma criança com menos de seis anos olha atentamente dois colegas brincando, ela participa da brincadeira mesmo que à distância e em silêncio. Quando um aluno não faz perguntas ou não se pronuncia, isso não quer dizer que não está presente.
Por outro lado, muitos alunos que falam em todas as oportunidades nem sempre o fazem com o sentido de participar. Finalmente, quanto ao aluno que não participa por medo de errar, a escola deve reconhecer que é responsável por esse comportamento. Afinal, ela valoriza o acerto e reprova o erro no processo de aprendizagem.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha) @ - roselysayao@folhasp.com.br


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