|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
coluna social
Psiquiatras fazem trabalho de detetive no Rio
A Coluna Social foi recebida com a
maior simpatia por uma turma
toda arrumada para assistir a
uma apresentação de música no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro: homens e
mulheres, ex-moradores de rua, que são
atendidos pelo Programa de Atenção
Psicossocial à População em Situação de
Rua com Transtornos Mentais. Pioneiro,
o programa levou o prêmio David Capistrano, concedido pelo Ministério da Saúde, por acolher doentes mentais, tratá-los e fazer um trabalho de detetive para
encontrar suas famílias e reinseri-los na
sociedade.
Tudo começou em junho de 1999 com
um grupo de psiquiatras. "A primeira
coisa que fizemos foi um estudo nos albergues para saber quantos eram doentes mentais, e encontramos um número
razoável", diz Maria Tavares, 40, coordenadora do projeto mantido pelo Instituto
de Psiquiatria da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Em parceria
com a Fundação Leão XIII, entidade carioca que assiste moradores de rua, e com
a Secretaria de Estado da Saúde do Rio de
Janeiro, o projeto começou a albergar e
atender os 20 primeiros pacientes em
março de 2000.
A primeira abordagem é feita na rua,
com uma kombi da fundação. "Oferecemos ajuda e local para essas pessoas comerem e dormirem sem correr os riscos
de quem vive na rua", diz o médico Bruno Cruz, 27, residente em psiquiatria.
Elas são diagnosticadas e passam a morar
no albergue e a participar de atividades
ocupacionais, como musicoterapia, pintura, culinária, e de grupos de discussão
sobre sexualidade e medicação, nos quais
conversam sobre o uso da camisinha e
sobre os efeitos colaterais dos remédios.
Depois de acolher e tratar, vem a parte
mais difícil do projeto: devolver para a
sociedade. O primeiro passo é achar a família. "Vamos atrás das informações que
o paciente fornece. Telefonamos, mandamos telegramas, vamos de carro com o
paciente procurar o caminho", diz Cruz.
O esforço vale a pena: 30% dos pacientes
já retornaram para a família. Um deles,
S., foi "salvo" pelo sotaque. "Percebemos
que ele era nordestino; investigamos algumas pistas e chegamos à cidade dele, lá
na Bahia. Anunciamos na rádio local, e a
família ligou para cá", conta Cruz.
Para quem não tem para onde ir, o jeito
é encontrar uma fonte de renda -passar
a receber benefícios do INSS ou trabalhar
como ambulante ou como catador de papel, por exemplo.
O programa não pretende resolver sozinho o problema dos doentes mentais
que vivem nas ruas. "Para dar certo, esse
trabalho deve ser feito em parceria com
as organizações públicas. O que precisa é
alguém que faça o primeiro contato com
o paciente e o insira na rede pública de
saúde, porque ele não vai sozinho. A idéia
é montar uma equipe como a nossa em
cada emergência psiquiátrica. A ONG
francesa Médicos Sem Fronteiras já entrou em contato para fazer uma parceria", diz a médica Maria Tavares.
Informações com Maria Tavares, tel. 0/xx/21/
2236-2608, e-mail mtavares@ipub.ufrj.br
Texto Anterior: Terapias já utilizadas para revigorar ovários Próximo Texto: Me dê motivo Índice
|