São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002
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coluna social

Psiquiatras fazem trabalho de detetive no Rio

A Coluna Social foi recebida com a maior simpatia por uma turma toda arrumada para assistir a uma apresentação de música no Teatro Municipal do Rio de Janeiro: homens e mulheres, ex-moradores de rua, que são atendidos pelo Programa de Atenção Psicossocial à População em Situação de Rua com Transtornos Mentais. Pioneiro, o programa levou o prêmio David Capistrano, concedido pelo Ministério da Saúde, por acolher doentes mentais, tratá-los e fazer um trabalho de detetive para encontrar suas famílias e reinseri-los na sociedade.
    Tudo começou em junho de 1999 com um grupo de psiquiatras. "A primeira coisa que fizemos foi um estudo nos albergues para saber quantos eram doentes mentais, e encontramos um número razoável", diz Maria Tavares, 40, coordenadora do projeto mantido pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em parceria com a Fundação Leão XIII, entidade carioca que assiste moradores de rua, e com a Secretaria de Estado da Saúde do Rio de Janeiro, o projeto começou a albergar e atender os 20 primeiros pacientes em março de 2000.
    A primeira abordagem é feita na rua, com uma kombi da fundação. "Oferecemos ajuda e local para essas pessoas comerem e dormirem sem correr os riscos de quem vive na rua", diz o médico Bruno Cruz, 27, residente em psiquiatria. Elas são diagnosticadas e passam a morar no albergue e a participar de atividades ocupacionais, como musicoterapia, pintura, culinária, e de grupos de discussão sobre sexualidade e medicação, nos quais conversam sobre o uso da camisinha e sobre os efeitos colaterais dos remédios.
    Depois de acolher e tratar, vem a parte mais difícil do projeto: devolver para a sociedade. O primeiro passo é achar a família. "Vamos atrás das informações que o paciente fornece. Telefonamos, mandamos telegramas, vamos de carro com o paciente procurar o caminho", diz Cruz. O esforço vale a pena: 30% dos pacientes já retornaram para a família. Um deles, S., foi "salvo" pelo sotaque. "Percebemos que ele era nordestino; investigamos algumas pistas e chegamos à cidade dele, lá na Bahia. Anunciamos na rádio local, e a família ligou para cá", conta Cruz.
    Para quem não tem para onde ir, o jeito é encontrar uma fonte de renda -passar a receber benefícios do INSS ou trabalhar como ambulante ou como catador de papel, por exemplo.
    O programa não pretende resolver sozinho o problema dos doentes mentais que vivem nas ruas. "Para dar certo, esse trabalho deve ser feito em parceria com as organizações públicas. O que precisa é alguém que faça o primeiro contato com o paciente e o insira na rede pública de saúde, porque ele não vai sozinho. A idéia é montar uma equipe como a nossa em cada emergência psiquiátrica. A ONG francesa Médicos Sem Fronteiras já entrou em contato para fazer uma parceria", diz a médica Maria Tavares.


Informações com Maria Tavares, tel. 0/xx/21/ 2236-2608, e-mail mtavares@ipub.ufrj.br


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