São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002
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Aplicação contra enxaqueca está sendo avaliada

Ainda não se sabe exatamente como a toxina botulínica funciona nos casos de enxaqueca e cefaléia crônica, mas os pacientes que experimentaram a técnica aprovam. "Eu tinha crises de chorar, de gritar, de parar em pronto-socorro", diz a pedagoga Margarida Maria de Matos Couto, 62, que sofre de enxaqueca desde os nove anos. "Tentei todos os recursos possíveis, era rata de consultório."
O alívio para as dores, diz, sóveio há um ano e meio quando ela conheceu o neurologista Jano Alves de Souza, secretário da Sociedade Brasileira de Cefaléia, e iniciou as aplicações de botox. "Houve uma melhora de 98%", afirma a pedagoga.
Segundo Souza, o botox deve ser visto como uma alternativa para os pacientes que não respondem ao tratamento convencional e é contra-indicado para grávidas e portadores de doenças neuromusculares. As aplicações apresentam resultados positivos principalmente nos casos de cefaléias tensionais crônicas.
O uso do botox em pacientes com enxaqueca ou cefaléia começou a ser pesquisado pela comunidade médica internacional há cinco anos.
"Não há estudos conclusivos; uma das hipóteses sobre o mecanismo deação é que a toxina migraria pelas fibras nervosas e chegaria ao sistema nervoso central, inibindo a liberação da substância P, que tem participação em poderosos processos de dor", diz Souza.
Os pacientes que respondem bem à técnica conseguem se livrar da dor, mas esse efeito não é definitivo. Independentemente do motivo pelo qual é aplicado, o botox sempre age apenas por períodos limitados de tempo. "Fiquei três meses sem dor", diza pediatra Ivete Martins Gomes, 38, que tem enxaqueca.
Apesar dos resultados positivos, Souza faz um alerta: "Na parte estética, o botox é um fenômeno, mas, na neurologia, não pode haver o mesmo comportamento de "oba-oba". Apesar de ser uma técnica que promete, que pode virar um tratamento de primeira linha, ela ainda está em fase de comprovação de efeitos".
O neurologista Abouch Krymchantowski concorda com ele, mas prefere não realizar o tratamento. "Ainda não é o momento de indicar o botox para a prevenção de enxaqueca. Estamos na dependência de estudos mais profundos, commais pacientes, e de metodologia adequada", diz. Krymchantowski afirma que experimentou a técnica em 2000, mas nãoobteve resultados satisfatórios. "Baseei-me em trabalhos publicados em periódicos médicos importantes, mas só uma pequena parcela dos pacientes teve ótimos resultados."
O neurologista Carlos Bordini diz que, na consulta, explica aos seus pacientes que os resultados variam. "Na minha experiência, 25% tiveram ótimos resultados, 50%, moderados, e 25% não responderam ao tratamento." Mesmo sem ter certeza da eficácia, muitos optam por fazer otratamento, pois já tentaram outros meios e não conseguiramselivrar da dor.



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