São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2004
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Entrevista

Reflexões na terceira idade

MARCELO BARTOLOMEI
EDITOR-INTERINO DO EQUILÍBRIO

Avelhice chegou. Como enfrentá-la? Reunido num hotel do Rio de Janeiro após a premiação do 6º Concurso Banco Real Talentos da Maturidade a pedido do Equilíbrio, um grupo de 11 dos 25 vencedores discutiu a vida no período. Em uma hora, concluiu que é tempo de fazer os mais jovens refletirem sobre a terceira idade, também chamada "melhor idade". Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que há 580 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais no mundo.

EQUILÍBRIO - Qual o medo da terceira idade?
RUBEM ROCHA FILHO, 65 -
Só temos medos: solidão, doença, abandono, que ninguém olhe a gente. Tenho um pai com 90 e poucos anos e sei o quanto é difícil. O medo da morte é tão maior que a gente agüenta viver na precariedade do que, eufemisticamente, é chamado melhor idade.
MARLETE BIZERRA FREIRE DE CARVALHO, 68 - Não tenho medo da velhice, tenho a idade que sinto. Tenho medo da violência. Acho que a gente tem de ser otimista. É um bom caminho.
AFFONSO JOÃO CAETANO NETO, 67 - Quem vive com medo não vive.

EQUILÍBRIO - Como encarar uma velhice melhor, em busca da longevidade?
TOSHIKO HAMA, 65 -
Estar produtivo é fundamental. Não deixar de trabalhar só porque se aposentou mas também ter alguma coisa sua. É importante se dedicar às pessoas, à família e a cuidar dos outros, e ter algo criativo, que possa mostrar e produzir, manter uma vinculação com atividade intelectual, como ler e visitar museus.
NINA CAMPOS, 75 - Manter-se ocupada e útil é uma das maneiras de conservar o otimismo. É preciso se manter em forma, fazer hidroginástica, ir ao geriatra... todas essas coisas são medidas práticas para uma longevidade e um envelhecimento saudável e independente.
RUBEM ROCHA FILHO, 65 - É menos mal a gente tentar parecer jovem e se enturmar com quem não é da sua turma. É se retrair o quanto puder porque as portas vão se fechando, ninguém quer você, ninguém quer te olhar, ninguém quer te convidar... Descubra as vantagens de estar só. Ler mais, meditar e orar.

EQUILÍBRIO - O que importa: mente ou corpo?
WALTER HANDRO, 64 -
As duas coisas são importantes. Gasto boa parte do meu dia lendo, escrevendo, ouvindo música, pintando... Outra parte jogando tênis, indo à academia, andando, viajando... Temos de estar bem alimentados e cuidar da hipertensão, senão teremos mais preocupações em curar as doenças do que com o lazer.
NINA CAMPOS, 75 - Eu prefiro uma mente boa num corpo deteriorado. A minha escolha é estar com a minha mente boa.

EQUILÍBRIO - Qual seu programa predileto?
WALTER HANDRO, 64 -
Pintar, participar de exposições, viajar, ir à praia, ouvir música... Durante a semana, eu tenho objetivos que nunca consigo cumprir porque são muitos. Cuido da genealogia da família, pesquiso na internet... Depois de aposentado, eu tenho menos tempo do que eu tinha, quando eu estava concentrado num só objetivo, meu trabalho. Hoje eu tenho todas as coisas que gostaria de ter feito a vida inteira e não fiz.
ARAKEN VAZ GALVÃO, 68 - Passei 20 anos da minha vida da seguinte forma: seis clandestino, quatro preso e dez no exílio. Caminho por obrigação, uma hora por dia e de má vontade. Eu ficaria lendo. Tenho excelente memória.

EQUILÍBRIO - O que falta para melhorar a vida dos idosos? O que esperam que a sociedade faça por vocês?
RUBEM ROCHA FILHO, 65 -
Uma legislação que controle essa loucura que é o seguro de saúde.
ARAKEN VAZ GALVÃO, 68 - O que eu acho absurdo é a coisa de pegar um ônibus, que você tem direito a não pagar. A empresa exige que você leve todos os seus documentos lá, foto, uma burocracia tão grande... Eu não vou. Entro na cara e na coragem. É um absurdo você ter que provar que, com cabelo branco e cheio de dores, você é velho.
TOSHIKO HAMA, 65 - Faltam instituições para abrigar pessoas que não têm família, com oportunidade de continuar a vida social, indo ao cinema, ao teatro, a ateliês de arte. Isso daria apoio.
WALTER HANDRO, 64 - Deveria haver um estímulo para descobrir as portas que o mundo tem e que, às vezes, por questão financeira ou de formação, nunca estiveram abertas. As camadas mais baixas são as menos privilegiadas. O sujeito se aposenta e vai ficar num quarto ou num boteco bebendo. Deveria ter um pouco mais de oportunidade no fim da vida.


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