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Rosely Sayão
Em busca do bom senso
N
a base de nossos conceitos e preconceitos
educativos, tanto leigos quanto profissionais, existem algumas idéias
a respeito do que significa ser
uma criança ou um adolescente
neste tempo que nos levam a
cometer insanidades e a esquecer totalmente o bom senso.
Acreditamos, por exemplo,
que crianças sabem querer e
que elas têm esse direito. Mas
não temos a mínima idéia de
como essa concepção é capaz
de criar equívocos. Vejamos: se
uma criança quer dormir na cama dos pais, estes, por mais que
digam que não aceitam, no contato com o filho dizem, de maneira clara, que esse querer é legítimo.
Assim, milhares de
crianças são privadas, todas as
noites, de um sono reparador e,
principalmente, de construir
seu lugar em relação aos pais.
Outro exemplo é a criança
pequena que só come em determinadas situações. Conheço
crianças que almoçam passeando de elevador com a babá.
Novamente, os pais não se dão
conta de que eles autorizam -e
até estimulam- tais situações.
O que dizer, então, da idéia de
que criança tem direito a ter
respostas convincentes para
tudo? São poucos os adultos
que admitem responder ao filho que ele deve fazer determinada coisa simplesmente porque é necessário. A resposta dada tempos atrás, "porque sim",
é agora identificada como autoritária e considerada similar à
"porque é preciso". Por isso,
pais e professores não consideram legítimo conduzir os mais
novos a fazer coisas simplesmente porque é preciso. Eles
buscam encontrar razões lógicas e, muitas vezes, se enrolam
nessa empreitada. Já vi uma
professora tentar convencer
um aluno a escrever da esquerda para a direita sem sucesso
porque a criança queria saber o
porquê e a mestra não tinha
uma boa resposta a dar.
E essa história de "autonomia" da criança? Temos levado
isso tão a sério -ou melhor, de
modo tão leviano- que abandonamos filhos e alunos em situações de endoidecer qualquer um deles. E a loucura na
relação de adultos com crianças só aumenta porque, por outro lado, negamos alguns direitos básicos que elas têm em nome da proteção, em busca de
evitar que sofram ou enfrentem frustrações e, principalmente, em nome da preparação
delas para o futuro.
A criança tem o direito fundamental de brincar, certo ou
errado? Assinalamos a segunda
alternativa. Pais e professores
simplesmente não permitem
que a criança brinque. São eles
que, agora, dirigem as brincadeiras e roubam a oportunidade de a criança criar seu jeito de
brincar e de aprender a se virar
sozinha em relação a essa atividade tão importante na vida
dela, aliás, uma das únicas na
qual deveria ter autonomia.
E o direito a participar das
conversas que dizem respeito à
própria criança, como sua saúde, seu comportamento, sua
aprendizagem, seu castigo? Ah,
isso não é coisa de criança! Ainda há médicos pediatras que
pedem que a criança se retire
depois do exame clínico para
conversar só com o adulto; professores, diariamente, fazem
observações de seus alunos aos
pais destes na ausência das
crianças. Em resumo: permitimos que elas falem bobagens
quando não devem e impedimos que participem ativamente das conversas que efetivamente lhes dizem respeito.
Seria muito bem-vinda uma
pedagogia baseada apenas no
bom senso, não? Ou será que já
perdemos isso?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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