São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 2011 |
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ROSELY SAYÃO Iniciação à leitura
CRIANÇA PODE adorar livros e histórias, desde que os adultos não atrapalhem. E como temos atrapalhado o que poderia ser uma verdadeira paixão pelos livros! Ler é bom, precisamos formar leitores, a vida sem a literatura não teria graça, temos de incentivar o hábito da leitura nas crianças e nos jovens etc. Afirmações como essas brotam da boca de pais e de professores assim, sem mais nem menos. Temos gosto em pegar frases e repeti-las muito, até que elas percam seu sentido, não é verdade? Assim aconteceu com essas e outras afirmações que tratam da importância da leitura na vida dos mais novos: tanto fizemos que conseguimos esvaziar o que elas dizem. Primeiramente quero falar dessa expressão horrorosa: "Criar o hábito da leitura". Ah! Vamos aproveitar e lembrar outra semelhante: "Criar hábito de estudo". Nós queremos que as crianças tenham prazer com livros e histórias ou queremos que adquiram um hábito? Leitura, tanto quanto estudo, não deve ser tratada assim. Um hábito se instala e pouco -quase nada- acrescenta à vida de uma pessoa. Já o amor, o prazer, o gosto verdadeiro pela leitura ou pelo estudo são capazes de mudar a nossa vida. Ler e estudar devem ser uma escolha, uma vontade, uma busca por algo que não se tem. O bebê já pode ser introduzido ao mundo dos livros e da leitura. Pais e professores podem começar contando histórias e oferecendo livros para que ele manuseie, explore, se entretenha com esse objeto. E não precisa ser livro de plástico, que produza som ou coisa semelhante. Livro de verdade mesmo, de papel, com figuras bonitas e letras, encanta o bebê. O escritor Ilan Brenman, apaixonado pela literatura, afirma que um requisito importante para iniciar as crianças no universo da leitura é a beleza do livro. Sim: uma capa bonita já chama a atenção da criança, tanto quanto as ilustrações. Aliás, muitos livros sem palavras são lidos pelas crianças com a maior atenção. Ainda falando de bebês e crianças muito pequenas: o papel do livro, suas diferentes texturas, odores e cores também já são alvo da curiosidade delas e objeto de pesquisa concentrada. E o que dizer de livros de histórias que crianças já conhecem e adoram -"Peter Pan" e "Alice no País das Maravilhas", por exemplo- com adaptação em "pop-up"? Imperdíveis, já que encantam crianças e adultos. Não devemos menosprezar as crianças quando o assunto é história: elas não gostam apenas daquelas que foram escritas para as crianças. Toda a literatura, principalmente a clássica, pode ser oferecida, sem censura. Tornar a leitura um ato obrigatório é uma dessas manias que nós adotamos com as crianças que prejudicam a descoberta que elas poderiam fazer do prazer da leitura. Tudo bem: isso pode ser feito como tarefa escolar, mas depois, bem depois de oferecer a elas a oportunidade de ler por gosto e não por obrigação, no fim do ensino fundamental, por exemplo. Finalmente: a literatura não deve servir para moralizar a vida dos mais novos. Nada de contar histórias que só servem para tentar "ensinar" a criança a ter bons modos, escovar os dentes etc. A educação moral e para a higiene, por exemplo, deve usar outros recursos. Que tal um programa com seu filho? Visitar uma biblioteca ou uma livraria para procurar um livro bonito e gostoso de ler e de ouvir? Certamente você e seus filhos irão aprender muito sobre a vida e sobre vocês mesmos nesse programa. E boa viagem! ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha) Texto Anterior: Neuro - Suzana Herculano-Houzel: O lugar da coragem Índice | Comunicar Erros |
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