São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005
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Beleza

Acne atinge cada vez mais pessoas adultas, principalmente mulheres nas metrópoles

Adolescência tardia

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Espinhas, cravos, nódulos, cicatrizes. Conhecidas e temidas pelos adolescentes, as manifestações da acne aparecem cada vez mais em pessoas adultas. "Nos últimos anos, principalmente nas metrópoles, um número crescente de pessoas com mais de 25 anos está desenvolvendo acne", diz a dermatologista Inaê Cavalcanti, do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo). Segundo ela, imagina-se que esse aumento esteja relacionado a fatores ambientais e ao estresse da vida moderna.
Algumas vezes, é a própria acne adolescente que persiste após essa fase. Mas é comum que pessoas que nunca tiveram cravos e espinhas se vejam às voltas com elas depois dos 20 anos. "Quando eu era mais nova, não tinha nada. Enquanto todo mundo reclamava, eu era feliz", conta a bancária Audrey Scotti de Oliveira e Silva, 27. Aos 25 anos, surgiram em seu rosto os sinais da acne, principalmente no queixo e perto da orelha.


Em geral, a acne da mulher adulta está ligada a fatores hormonais; em alguns casos, o responsável é o excesso de hormônios masculinos


De fato, em geral, a parte de baixo da face é a mais afetada em mulheres. Elas, aliás, sofrem mais do que os homens com o problema, que, nesse caso, tem um nome específico -acne da mulher adulta- e características próprias. Nesse tipo de acne, lesões inflamadas (espinhas) são mais comuns do que os cravos. Essas lesões são menos confluentes -ficam mais espalhadas- do que na acne adolescente e também menos variadas. "No adolescente, elas são polimórficas, ou seja, mais diferentes umas das outras. Já, na mulher adulta, a lesão é mais monomórfica, mais igual", diz a dermatologista Denise Steiner, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia de São Paulo.
Essas lesões costumam deixar mais manchas quando regridem. "A pele da mulher acima de 20 anos fica mais susceptível às manchas porque está envelhecendo. Nela, a acne acaba deixando mais cicatrizes", explica Cavalcanti. Geralmente, ocorre uma piora no período pré-menstrual. "Cerca de 70% das mulheres com acne na fase adulta relatam que ela piora antes da menstruação", diz a dermatologista Márcia Ramos-e-Silva, chefe do serviço de dermatologia do hospital universitário da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

HORMÔNIOS
A acne da mulher adulta é um fenômeno multifatorial, mas geralmente está ligada a questões hormonais. Em algumas pacientes, a causa pode estar no excesso de andrógenos (hormônios masculinos), comum em quem tem síndrome dos ovários policísticos, por exemplo. Quando é assim, podem aparecer outros sintomas, como queda de cabelos e aumento dos pêlos no rosto. Em muitos casos, porém, o responsável é apenas um desequilíbrio hormonal leve, e não uma doença.
Nem toda mulher que tem espinhas ou cravos tem acne da mulher adulta. Alguns cosméticos ou medicamentos podem aumentar a oleosidade da pele, causando os sintomas. A acne da mulher adulta pode ser agravada pelo uso de cosméticos inadequados. "Muita gente usa na face filtros solares que são indicados para o corpo", diz Cavalcanti.
Ela lembra que poluição e fumo também influenciam. "A sujeira obstrui os poros e prejudica a eliminação da oleosidade. O fumo é o principal causador da degradação do colágeno da pele e também obstrui os poros", explica.
Segundo Ramos-e-Silva, o estresse também tem relação com a acne. "Quem está estressado libera substâncias que ativam as glândulas sebáceas, como adrenalina e serotonina", diz.
Apesar de muitos pacientes relacionarem a acne ao consumo de determinados alimentos, como chocolate, não há comprovação científica de que isso ocorra. "Trabalhos bem feitos tentaram evidenciar isso e não chegaram a essa conclusão", diz Ramos-e-Silva.

TRATAMENTO
Nem sempre os tratamentos indicados para adolescentes são os mais adequados para adultos. "O ideal é que a mulher seja orientada com produtos para sua faixa etária", alerta Cavalcanti. Ela diz que o peeling, recurso muito usado, deve ser aliado a outros tratamentos, já que ele só remove a cama superficial da pele. Há vários métodos que podem ser receitados para a acne, dependendo do caso: antiandrógenos, antibióticos, retinóides, beta-hidroxiácidos e alfa-hidroxiácidos são alguns exemplos. Se a causa é excesso de hormônios masculinos, pílulas anticoncepcionais podem ajudar. "Algumas pílulas podem aumentar a acne, pois têm progesterona androgênica. Mas existe uma linha específica que tem o efeito contrário", diz Steiner. A parte estética é o principal problema da acne, pois ela em si não causa transtorno interno. A auto-estima da paciente é a mais prejudicada pelo problema. A recepcionista Sandra Stanco Piva, 29, diz que nem saía mais de casa por causa da acne severa que teve aos 20 anos. "Durante seis meses, eu não fazia mais nada. De tão inchada, não conseguia nem encostar o rosto no travesseiro ou no telefone", conta ela, que não havia tido acne quando adolescente. Sandra melhorou após tratamento com antibióticos e peeling. Quatro anos depois, os sintomas voltaram, ainda que em menor intensidade. Agora, após outro tratamento, continuam a nascer algumas espinhas, mas de forma esporádica. A bancária Audrey Silva não chegou a ficar em casa, mas diz que o problema também causava muito incômodo. "O rosto é nossa comissão de frente. Quando as espinhas aparecem, não tem nada que me faça sentir bem. Você usa maquiagem e fica pior do que se deixar natural. O único consolo é que me sinto mais nova, quase uma adolescente", brinca.

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