São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ROSELY SAYÃO

Aprender brincando

Um pai dedicado escreveu contando que, na reunião de final de semestre letivo na escola que o filho de cinco anos freqüenta, descobriu que ele passa o período todo brincando. Pelo jeito, o pai não sabia do projeto da escola ou pensou que este deveria mudar com o crescimento da criança.
Já tratei desse assunto várias vezes aqui, mas sempre é preciso retornar para considerar outras perspectivas. Hoje vamos falar dessa pressão que muitos pais, pensando no futuro, exercem sobre o filho e sobre as escolas de educação infantil. A criança aprende brincando. Aliás, ela aprende a brincar brincando também. Drummond escreveu que "amar se aprende amando" e o mesmo se aplica às crianças em relação ao ato de brincar.
E atenção: isso ela aprende sozinha ou com outras crianças, não precisa que um adulto a ensine a brincar. Muitos pais que contratam babás para cuidar de seus filhos pequenos orientam a auxiliar a dedicar boa parte de seu tempo brincando com a criança. Essa atitude não é adequada porque a criança ficará dependente de um adulto para exercer uma das únicas atividades para a qual tem autonomia: brincar.
As escolas que compreendem bem o papel do ensino infantil na vida das crianças com menos de seis anos organizam seus espaços e suas atividades de modo a oferecer aos alunos tempo para conviver com os colegas e, portanto, se socializar. Também disponibilizam material não estruturado e sem finalidade visível, para a criança criar e colocar em ato sua imaginação, leituras de histórias de vários tipos, para a criança ter contato com vários tipos de linguagens e gêneros literários, e espaço para pesquisa.
Tais pesquisas não devem ter finalidade científica, e sim criar e manter a atitude curiosa do aluno que tem perguntas e também tem condições, com o auxílio do professor, de encontrar caminhos para obter algumas respostas ou, melhor ainda, elaborar novas perguntas.
Esse é um processo de iniciação científica, sim, mas sem o rigor que será exigido mais tarde, no ensino fundamental.
Além disso, a criança precisa ter contato com elementos da natureza, como a água, o fogo ou os pequenos seres que habitam nosso meio. Precisa de tempo livre e de tempo organizado. Precisa aprender as primeiras regras da convivência nas atividades em grupo e as primeiras regras da vida por meio dos jogos. Precisa ter contato com a cultura e as artes em suas diferentes expressões.
Todas as atividades são brincadeiras, mas, ao mesmo tempo, uma séria preparação para o futuro. Não se pode pensar no ensino infantil nos mesmos moldes que pensamos o ensino fundamental. Aliás, é bom saber que a criança que vive sua primeira infância bem de acordo com sua idade tem mais facilidade de se adaptar às novas exigências que encontrará no ensino fundamental.
O problema atual é que, como muitos pais pensam como nosso leitor, muitas escolas têm instituído um ensino infantil mais voltado aos anseios dos pais do que aos das crianças. E quem perde com isso, caros pais, são seus filhos.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



Texto Anterior: Poucas e Boas
Próximo Texto: Bate-papo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.