São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2004
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Pílulas da beleza feminina

Nova geração de anticoncepcionais pode reduzir acne, dar brilho aos cabelos e inibir o aparecimento de celulite

ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os anticoncepcionais sempre tiveram apenas uma finalidade, a de evitar a gravidez. Entretanto uma nova geração de contraceptivos está reunindo outras funções, já que em sua composição há substâncias que, de alguma maneira, agem como um tratamento de beleza. Além de promoverem a redução de cravos e espinhas, o controle da oleosidade da pele, a diminuição dos "pelinhos" indesejáveis no rosto e de darem mais brilho ao cabelo, os novos componentes também possuem ação diurética, ou seja, não causam retenção de líquidos -uma das causas do surgimento da celulite, principal queixa das usuárias dos contraceptivos comuns. Até então, os contraceptivos orais usavam como base para provocar a anovulação -suspensão da ovulação- os componentes estrogênico, progestogênico (hormônios femininos) e androgênico. Este último, um hormônio masculino, é o vilão dos anticoncepcionais, responsável por elevar a oleosidade da pele, além de causar retenção de líquidos. Quando existe aumento do estímulo dos hormônios sexuais (os andrógenos, estrógenos e progestógenos) -por anticoncepcionais ou por disfunções orgânicas, por exemplo-, ocorre a elevação da produção das glândulas sebáceas, o que estimula a produção de pêlos, acne, seborréia, oleosidade e até queda de cabelo, como explica a dermatologista Ligia Kogos. "O equilíbrio entre esses hormônios é que determina a saúde da pele", completa. É nesse ponto que a nova geração de pílulas age, utilizando-se de substâncias antiandrogênicas, que reduzem esses efeitos colaterais, porém sem perder a eficácia para o fim a que é destinada: a contracepção. Por enquanto são três os anticoncepcionais que possuem esse fator extra: o à base de desogestrel; de drospirenona; e de acetato de ciproterona, que, aliás, foi originalmente desenvolvido como um tratamento dermatológico, segundo o próprio fabricante. "Essas pílulas agem diminuindo os efeitos nocivos dos hormônios masculinos", afirma Kogos, ressaltando que a prescrição de anticoncepcional não é a primeira indicação do tratamento, pois existem métodos dermatológicos próprios para o combate à acne. Mas, "se a paciente usa uma pílula antiga ou deseja iniciar seu consumo, indico um dessa nova geração com a orientação de um ginecologista". Mas a dermatologista Lúcia Arruda, chefe do Departamento de Dermatologia da PUC (Campinas), alerta para o uso indiscriminado dessa nova geração de pílulas, pontuando que são eficazes apenas nos casos em que os problemas de pele ou a celulite são causados por disfunções hormonais. "Mesmo assim, não são milagrosos, mas ajudam o controle." O contraceptivo mais novo da geração, lançado há pouco mais de um ano -o à base de drospirenona-, é indicado principalmente às pacientes propensas à retenção de líquidos, de acordo com o ginecologista Antonio Pedro Auge, da Santa Casa (SP). Em tese, a pílula poderia até diminuir a celulite ou impedir sua proliferação, porém, se não houver a famosa dobradinha atividade física e alimentação regular, os efeitos serão insatisfatórios. "Não é a maioria das mulheres que consegue esse efeito, ainda que os estudos clínicos realizados tenham obtido bons resultados", afirma Manoel Girão, chefe do Departamento de Ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Gerações
As primeiras pílulas contraceptivas, desenvolvidas na década de 60, tinham em sua composição uma dosagem hormonal muito alta para gerar a anovulação. Isso, segundo o ginecologista Antonio Carlos Rodrigues da Cunha, da Universidade de Brasília, causava dor de cabeça e nas mamas e ainda provocava a retenção de líquidos, o que levou muitas mulheres a correrem dos anticoncepcionais pela probabilidade de ter celulite.
Então vieram os chamados anticoncepcionais de segunda geração, com menor taxa hormonal, porém ainda com forte tendência à retenção de água pelo organismo. Mas essa terceira geração tem como principal desvantagem o preço: pode chegar a R$ 40 a cartela de uso mensal. Como todo medicamento, tem sua compra restrita à prescrição médica. "É comum amigas indicarem o uso dessa ou daquela pílula, o que pode ser perigoso. Só o médico pode saber se o medicamento que a mulher está usando é adequado ou se pode causar algum mal", diz Cunha.


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