São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009
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Os fatores de risco

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A notícia é boa: a maioria dos fatores de risco para o coração são modificáveis. "Tabagismo, colesterol, obesidade, estresse, sedentarismo, hipertensão e diabetes podem ser mudados com hábitos de vida e, em alguns casos, como diabetes e hipertensão, com medicamentos. A hereditariedade e a idade não são modificáveis, mas a soma destas com os outros fatores aumenta o risco exponencialmente", diz Ari Timerman, presidente da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) e diretor do Instituto Dante Pazzanese.
Inversamente, fatores positivos reduzem significativamente o risco. "Seguir uma dieta saudável, manter o peso ideal, fazer exercício e parar de fumar reduzem em até 80% o risco de doenças cardiovasculares", diz Rui Ramos, diretor da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).
Saiba quais são os impactos desses fatores no coração e como os brasileiros se comportam em relação a eles. (IARA BIDERMAN)

FUMO
Segundo o comitê antitabaco da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o fumo aumenta em três vezes a chance de infarto. Além de estar entre os seis principais fatores de risco independentes e modificáveis para doenças do coração, o tabagismo interfere em outros fatores de risco, como hipertensão arterial e colesterol alto.
A pesquisa Datafolha aponta que os brasileiros conhecem e evitam esse risco: 96% dizem que o cigarro aumenta a probabilidade de doenças do coração e, dos 80% que afirmam não fumar, 60% nunca o fizeram. A maioria dos fumantes são jovens: 21% têm de 25 a 34 anos, 21%, de 35 a 44 anos e 25%, de 45 a 59. Em pessoas de até 50 anos, o risco relativo do cigarro é maior. Segundo Rui Ramos, da SBC, para essa faixa etária, o hábito de fumar costuma ter um peso maior no cálculo de risco. O tabagismo é considerado o fator prioritário na maioria dos casos de infarto antes dos 50 anos de idade.

ALCOOL
Grandes estudos populacionais, como o Interheart (que envolveu 30 mil pessoas nos cinco continentes e foi patrocinado pela Organização Mundial da Saúde) e o Afirmar (feito em conjunto por USP, Unicamp e Instituto Dante Pazzanese em 51 cidades brasileiras), apontam que o consumo moderado de álcool (duas doses por dia para homens e uma por dia para mulheres) pode diminuir o risco de doenças do coração, diz Leopoldo Piegas, que atuou na coordenação dos dois estudos. Acima dessas doses, a bebida pode aumentar a pressão arterial e os níveis de triglicérides e levar à obesidade. Beber compulsivamente (tomar seis ou mais doses seguidas) aumenta a chance de derrame hemorrágico.
O Datafolha mostrou que uma boa parcela da população brasileira (44%) toma bebida alcoólica, mas apenas 2% dizem beber todos os dias. Os jovens são os que mais bebem: 48% dos consumidores de bebida alcoólica têm entre 16 e 21 anos e 51%, entre 25 e 34 anos.

ALIMENTOS
No item alimentação, os resultados da pesquisa Datafolha mostram a maior disparidade entre conhecimento de fatores de risco e medidas efetivas de prevenção: 94% dos entrevistados dizem que o colesterol alto aumenta o risco de doença do coração e 86% consideram o excesso de sal um fator de risco. No entanto, apenas 1% deles diz evitar alimentos com muita gordura e o sal na alimentação. O cardiologista Daniel Magnoni, chefe do serviço de nutrologia do HCor (Hospital do Coração), afirma que o consumo médio de sal no Brasil é de 13 gramas por dia. A quantidade máxima recomendada é de seis gramas diárias. Ele acrescenta que a dieta do brasileiro tem piorado: "Segundo os últimos dados do Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios], aumentou o consumo de gordura saturada, carboidratos simples e açúcar, que são prejudiciais à saúde cardiovascular, enquanto o consumo de frutas, legumes e verduras, que podem ter efeito cardioprotetor, diminuiu".

OBESIDADE
A obesidade atinge 13% dos brasileiros, segundo o Datafolha. São consideradas obesas pessoas com IMC (índice de massa corporal) igual ou maior que 30. O IMC é um padrão internacional, calculado por meio da divisão do peso pela altura ao quadrado. A pesquisa também mostrou que 32% dos brasileiros têm sobrepeso (IMC de 25 a 29,9) - o que, somado ao número de obesos, corresponde a 45% de pessoas acima do peso considerado saudável. Os números estão bem próximos dos obtidos nas últimas pesquisas do IBGE, com uma leve tendência de aumento, segundo Marcio Mancini, presidente da Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) e chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo.
A maior incidência de obesidade foi observada nas faixas etárias de 35 a 44 anos e de 45 a 59 anos (19% em cada uma); a maior taxa de sobrepeso foi vista na população com mais de 60 anos (40%), seguida pela faixa etária de 45 a 59 anos (39%).

ESTRESSE
Além dos efeitos imediatos, o estresse está associado a uma série de efeitos indiretos. "Pessoas estressadas têm tendência a fumar mais, alimentar-se mal, abandonar a atividade física etc. A soma desses maus hábitos aumenta o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares", diz Carlos Serrano, cardiologista do InCor e presidente do congresso 2010 da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo).
Em algum grau, 52% dos entrevistados pelo Datafolha se consideram estressados; destes, 18% afirmam ser muito estressados e 34%, um pouco. E a maioria (58%) é composta por mulheres. "Uma das hipóteses para o aumento de doenças do coração entre as mulheres é o fato de elas estarem sendo submetidas a mais situações estressantes, como a maior participação no mercado de trabalho, duplas e triplas jornadas etc.", diz Serrano. Segundo ele, a incidência de doenças do coração ainda é menor em mulheres, mas a mortalidade por essas causas é maior.

SEDENTARISMO
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a falta de atividade física praticamente dobra o risco de a pessoa desenvolver doenças cardiovasculares. Segundo o Datafolha, 55% dos brasileiros praticam alguma atividade, e a caminhada é a opção de 29% deles. "A caminhada traz benefícios se for praticada por cerca de 50 minutos, no mínimo três vezes por semana", afirma Ari Timerman, da Socesp . Na pesquisa, 21% dos entrevistados dizem fazer atividade física todos os dias e 16%, três ou mais vezes por semana.
Mas a maioria nunca fez o teste de esforço. "Isso é importante para que a prática de exercício seja bem orientada e para evitar possíveis riscos", diz Timerman. Para ele, quem tem histórico familiar de doença do coração deve fazer o teste a partir dos 20 anos. Para quem não tem esse antecedente, recomenda-se o teste a partir dos 40 anos. Apenas 6% dos entrevistados entre 35 e 44 anos já realizaram o teste de esforço; na faixa etária dos 45 aos 59 anos, 11% já fizeram o teste.


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