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ROSELY SAYÃO
Princípios e valores
Uma mãe quer saber
se deve ou não permitir que sua filha,
de nove anos, viaje
com a família de uma colega
num fim de semana. Ela diz que
a garota nunca fez isso antes e
que ela considera precoce esse
passeio mais longo sem a família, mas que está em dúvida
porque muitas crianças da
mesma idade já fazem isso. Outra leitora indaga a melhor idade para colocar o filho, de cinco
anos, em aulas de outro idioma
e conta que ela mesma, fluente
em inglês, começou a estudar
depois dos 12 anos, mas que
agora percebe que a criançada
já começa bem mais cedo.
Um pai diz que o filho de 15
anos leva a namorada para dormir em casa e que ele fica constrangido com a situação, mas
acredita que, se impedir, vai se
afastar do filho. Finalmente,
um outro leitor afirma que
quer ensinar valores aos filhos,
mas, ao mesmo tempo, considerando o clima competitivo de
nosso tempo, quer saber como
ensinar que há momentos em
que é preciso abrir mão desses
valores para não ser ingênuo.
O mundo contemporâneo
tornou a educação uma tarefa
muito mais complexa. Até o final da década de 50, a maioria
não enfrentava questões como
as citadas e tampouco tinha de
tomar diariamente decisões sobre o tipo de educação a praticar com os filhos. A educação
era uma só, os rumos faziam
parte de um grande consenso
social e assim caminhavam os
pais, sem grandes conflitos. Vale dizer que pais e filhos sofriam muito mais, já que eram
tão diferentes e tinham de se
ajustar a um rumo comum.
Hoje, os pais ganharam a liberdade da escolha sobre como
educar seus filhos e, por outro
lado, assumiram também uma
responsabilidade muito maior
por eles. Afinal, cada escolha
feita produz efeitos significativos na vida dos filhos, já que estes estão em formação.
Vale refletir a respeito das
dúvidas dos pais. À primeira
vista, todas parecem questões
práticas sobre como agir. Mas
cada uma delas guarda em si
conteúdos bem mais amplos,
que tratam de moral, ética, conceito de infância, limites entre
privacidade e convívio social e
relação entre pais e filhos.
E talvez esse seja o nó da
questão da educação contemporânea que os pais podem desatar ou, ao menos, afrouxar: ao
educar os filhos, precisam ter
clareza de alguns princípios
dos quais não abrem mão e, a
partir desse norte, tomar as decisões sem se importar tanto
com as decisões dos outros
pais. Afinal, já que temos a
oportunidade hoje de ter a riqueza da diversidade em educação, há que se aprender a
conviver com ela, não?
Pensando assim, a mãe cuja
filha pede para viajar sem a família precisa é pensar no conceito de infância que quer garantir para a filha, tanto quanto
a mãe que se preocupa com o
ensino de línguas; o pai que se
sente constrangido com a intimidade do filho em casa precisa
considerar como colaborar para fazer a passagem do filho para a maturidade e, finalmente, o
que se preocupa com os valores
precisa refletir se quer dar uma
educação moral de ocasião ao
filho ou se quer mesmo é ensinar que os valores fazem parte
de um ideal de vida e que, portanto, exigem fidelidade.
"O que quero ensinar aos
meus filhos, priorizar na educação deles?" Essa é a questão
que os pais devem se fazer
quando enfrentam situações
que demandam decisões. Afinal: de festas, namoros, aprendizados diversos etc. eles terão
muitas chances para desfrutar,
mas da educação familiar, só
enquanto estiverem sob a tutela dos pais. E esse tempo é curto, acreditem.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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