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foco nele
A "chave" da homeopatia pode estar na água
KARINA KLINGER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Uma grande brincadeira, uma piada."
É isso que o reumatologista e homeopata
inglês Peter Fisher, 53, pensa a respeito
do desafio lançado pela rede britânica
BBC, divulgado também no Brasil, que
oferece um prêmio de US$ 1 milhão a
quem explicar cientificamente como a
homeopatia age no organismo. Médico
da rainha Elizabeth 2ª há mais de dez
anos e diretor clínico e de pesquisa do
hospital Royal London Homeopathic, ele
esteve em São Paulo, na semana passada,
para participar do 8º Encontro Internacional de Pesquisas Institucionais em
Homeopatia.
Como pesquisador, Fisher acredita que
a resposta sobre o funcionamento da homeopatia esteja na água, substância na
qual todos os ativos homeopáticos são
diluídos. "Há pouco conhecimento sobre
as inúmeras propriedades da água, ela
pode ser a chave da questão, afirma Fisher. Leia mais na entrevista abaixo.
Folha - Como a comunidade médica vê o
desafio lançado pela rede BBC?
Peter Fisher - Essa história mais parece
uma grande brincadeira, uma piada.
Ainda mais porque quem propôs a idéia
é um ilusionista, e a homeopatia é algo
bastante sério, está longe de ser uma mágica. Para mim, tudo isso não é sério e
não deve ser levado em conta.
Folha - Por que a homeopatia ainda gera
controvérsia na comunidade científica?
Fisher - Até hoje não se pode mostrar
como a homeopatia realmente funciona.
Os medicamentos homeopáticos, altamente diluídos, não agem de acordo com
a farmacologia clássica, que se baseia em
uma interação entre uma molécula de
determinada droga e um determinado
receptor do próprio organismo. O mistério permanece, mas já fizemos progresso.
Alguns testes mostraram efeitos físico-químicos complexos que são um caminho possível para explicar a ação dos remédios da homeopatia. Acredito que
possa haver alterações físicas nas moléculas da água que expliquem por que os
medicamentos homeopáticos surtem
efeito. O que acontece é que a estrutura
da água ainda é muito pouco estudada.
Ela pode ter várias propriedades ainda
desconhecidas. E a água é diferenciada.
Em outras substâncias, a forma sólida é
sempre mais densa que a líquida, algo
que não acontece com a água, em que o
gelo fica por cima da forma líquida, por
exemplo.
Folha - A homeopatia é somente uma forma de medicina complementar?
Fisher - A terminologia que define a homeopatia é uma dificuldade. Uns chamam de alternativa, outros chamam de
complementar. Acredito que o melhor
maneira de classificá-la é como integrativa, pois ela é muito usada juntamente
com o tratamento alopático convencional.
Folha - É possível usar a homeopatia em
qualquer área da medicina?
Fisher - Ela pode ser usada em todas as
áreas da medicina, sim. Em pacientes
com câncer, por exemplo, ela costuma
trazer resultados positivos quando está
associada ao tratamento convencional,
como fazemos em nosso hospital. Não
podemos curar o câncer, mas podemos
amenizar alguns sintomas e, principalmente, os efeitos colaterais do tratamento alopático, como a náusea provocada
pela quimioterapia.
Folha - Em que tipo de doença a homeopatia se mostra mais eficaz?
Fisher - Quando o assunto é asma, a homeopatia pode ser a única opção, o que é
comum após o uso insatisfatório do tratamento convencional. Além de ser excelente para tratar asma, a homeopatia costuma apresentar uma resposta positiva
no tratamento de alergias em geral. Além
disso, conseguimos bons resultados ao
tratar tensão pré-menstrual, problemas
ginecológicos, transtornos mentais, como a depressão, fibromialgia e dores crônicas em geral.
Folha - Quais as vantagens da homeopatia em relação à alopatia?
Fisher - Em primeiro lugar, a homeopatia é bastante segura. Por ser natural, ela
está livre de possíveis efeitos colaterais
nocivos à saúde do paciente. Pesquisas já
mostraram que os europeus costumam
optar pela homeopatia exatamente por
causa da segurança que ela dá. Além disso, nós, homeopatas, não tratamos a
doença apenas, mas a pessoa como um
todo, o que traz bem-estar geral ao paciente. Essa relação é muito importante,
mas há muito mais que isso. Acho que o
fato de os medicamentos não tratarem
aspectos específicos, mas todos os sintomas que estão atrapalhando e aparecem
nas queixas dos pacientes, também é um
diferencial e tanto. Tratamos a pessoa,
não a doença.
Folha - É vantajoso oferecer a homeopatia no sistema público de um país, como já
ocorre no Reino Unido e na França?
Fisher - O custo mais reduzido da homeopatia quando comparado com os
medicamentos alopáticos é evidente.
Aliás, apesar de os dados não serem precisos, o interesse pelo método está crescendo no mundo inteiro. Na França, por
exemplo, 40% da população já incluiu o
método em seu cotidiano.
Folha - Como é ser médico da rainha da
Inglaterra?
Fisher - Por uma questão ética, não posso revelar detalhes. Sou apenas um dos
seus médicos e me sinto honrado por isso. Tanto ela como o príncipe Charles
são bastante fiéis à homeopatia e interessados nesse tipo de medicina, que é usado pela família real há mais de cem anos.
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