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As operações de redução de estômago estão menos invasivas, mas os avanços deverão ocorrer em outra área
Obesidade mórbida leva jovens à cirurgia
Arquivo pessoal
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Arquivo pessoal
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Eder e a mãe, Maria Ricardo, antes da cirurgia (no alto) e depois (ao lado) |
ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
São cerca de 6,7 milhões de crianças e adolescentes obesos no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. A obesidade infanto-juvenil no país cresceu 240% nos últimos 20 anos. E a incidência de obesidade mórbida está levando jovens à mesa de cirurgia em uma tentativa radical de emagrecer e regredir doenças consideradas de adulto e causadas por excesso de peso, como hipertensão, diabetes e entupimento das artérias. Professor de cirurgia da USP e um dos
pioneiros da gastroplastia no país, o cirurgião
Artur Garrido Jr. contabiliza uma média de
um adolescente operado por mês (um total de
50 jovens nos últimos três anos).
Hoje reduzem e grampeiam o estômago
também pacientes idosos -estes engordaram tardiamente, pois as doenças decorrentes
da obesidade costumam impedir que a pessoa
ultrapasse ou até chegue à meia-idade.
As técnicas cirúrgicas de redução de estômago estão menos invasivas do que há dois ou
três anos, quando começaram a ser propagadas. "Uma cirurgia laparoscópica que demorava, há três anos, de três a quatro horas hoje
leva de 50 minutos a uma hora", diz Ricardo
Cohen, cirurgião do aparelho digestivo do São
Camilo. Foi diminuído o tempo da operação
devido à especialização das equipes médicas e
à evolução dos equipamentos, diz Cohen.
Nas clínicas particulares, a lista de pacientes
só engorda porque um número cada vez
maior de convênios médicos hoje cobre as
despesas ou parte delas. Nos cerca de 14 centros que realizam gratuitamente a cirurgia no
país, a procura é igualmente grande, como
também o tempo de espera para atendimento.
No Ambulatório de Cirurgia Mórbida da
Unicamp, há 1.350 pacientes obesos aguardando operação. Se o atual ritmo de atendimento for mantido, o último da fila será operado em 2018. No Hospital das Clínicas de São
Paulo, a espera chega a dez anos.
Troca de vício
A experiência mostrou que
o acompanhamento psicológico é imprescindível não apenas durante a internação, como
ocorria há alguns anos, mas também depois
que o paciente vai para casa. Tanto os centros
públicos quanto as principais clínicas particulares dispõem de equipe multidisciplinar,
com endocrinologistas, psicólogos, psiquiatras e até personal trainer.
Outra constatação dos especialistas é que viciados por comida migram para outro vício.
"A predisposição ao alcoolismo é quatro vezes
maior do que a tendência de uma pessoa que
não passou pela cirurgia", diz o cirurgião de
obesidade José Afonso Sallet. O psicólogo
Francisco Carlos Gomes, autor de estudo sobre aspectos psicológicos do pós-operatório,
diz que, em casos extremos porém não raros,
o paciente que via na comida sua única fonte
de prazer pode transferir esse vício para outros também maléficos, como álcool e drogas.
Contra-indicações
Segundo consenso
médico internacional, a cirurgia só deve ser
indicada para quem possui IMC (índice de
massa corpórea) acima de 35 e, ao menos,
uma doença recorrente da obesidade que possa ser regredida com a perda de peso. "Vejo
muito moças que já tentaram de tudo e querem fazer a intervenção. Eu as encaminho para um psicólogo", diz José Carlos Pareja, chefe
da cirurgia de obesidade da Unicamp, completando que é exatamente para coibir abusos
que existe o consenso de indicação cirúrgica.
Por fim, não existe nenhuma razão psiquiátrica e psicológica que contrarie a cirurgia.
"Pode ser um esquizofrênico, um psicótico ou
portador de síndrome de Down, por exemplo.
Não existe contra-indicação", diz o psiquiatra
Taki Cordas, chefe do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do HC.
Para o futuro
Os especialistas acreditam
que os avanços não se darão nas técnicas cirúrgicas, mas no estudo de substâncias que regulam a fome e a saciedade. Até sábado, estarão reunidos, em Fortaleza, alguns dos maiores nomes da cirurgia bariátrica do Brasil e do
mundo no 5º Congresso Brasileiro de Cirurgia
da Obesidade. Uma das novidades apresentadas é a descoberta de uma dessas substâncias:
a adiponectina, hormônio produzido pela célula gordurosa que é inversamente proporcional ao peso. Quanto mais magro, mais hormônio é produzido e vice-versa. "Ele é antiinflamatório, antiarteriosclerótico e antidiabético, o que explicaria um dos fatores de o obeso
desenvolver tais doenças", conta Bruno Geloneze, endocrinologista da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade (Abeso).
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