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São Paulo, quinta-feira, 28 de agosto de 2003
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Estudos indicam que o consumo de ovos não aumenta o nível de colesterol; mesmo assim, médico brasileiro recomenda cautela

Pesquisador americano "inocenta" os ovos

GABRIELA SCHEINBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Durante pelo menos duas décadas, o ovo de galinha foi visto como um vilão nutricional, sendo banido das dietas por seu alto nível de colesterol. Mas essa orientação é injusta, segundo Donald McNamara, diretor-executivo do Centro de Nutrição de Ovos (Egg Nutrition Center), localizado em Washington (EUA). Autor de mais de 150 estudos sobre o assunto, que pesquisa há mais de 35 anos, o médico garante: "Não existe relação entre o aumento do risco de doenças cardiovasculares e o consumo de ovos". Contas simples ajudam a entender a tese do pesquisador. Um ovo grande contém aproximadamente 215 mg de colesterol. Cerca de 50% do colesterol da alimentação é absorvido pelo organismo. Portanto, ao comer um único ovo, a pessoa acrescenta em torno de 107 mg de colesterol à sua taxa. Na maioria das pessoas, o organismo produz de 900 mg a 1.200 mg de colesterol por dia. Isso representa 80% do nível de colesterol; apenas os 20% restantes são provenientes dos alimentos ingeridos. Levando esses números em conta, McNamara afirma que o colesterol acrescentado pelo ovo é "insignificante". "Não há evidências de que absorver os cerca de 100 mg de colesterol do ovo representa uma ameaça para as pessoas que sofrem de doenças coronarianas, mesmo para aquelas que já possuem níveis elevados de colesterol." Nos quatro maiores consumidores mundiais de ovo -Japão, México, Espanha e França-, a taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares é baixa. Em outros países, entre eles Canadá, Austrália e Reino Unido, as orientações nutricionais não dão muita importância ao controle do consumo de ovos, um alimento versátil que oferece uma quantidade muito grande de proteínas a um baixo custo. Segundo McNamara, o ideal é controlar a ingestão de gordura, não de colesterol. Todos os estudos feitos nos últimos anos demonstram que a gordura saturada derivada de produtos animais aumenta os níveis de colesterol e o risco de doenças cardiovasculares. "Durante muito tempo, porém, o ovo foi que levou a culpa", diz ele. No Japão, o consumo médio anual é de 346 ovos per capita. No Brasil, esse número cai para 94. Acredita-se que o receio de elevar o nível de colesterol seja um dos fatores responsáveis pelo baixo consumo de ovos no país.

Cautela
"É verdade que a absorção de colesterol no corpo varia de pessoa para pessoa e que, em alguns casos, pessoas que comem muito ovo não apresentam aumento no colesterol total", diz o médico Marcelo Bertolami, chefe da Seção de Dislipidemias do Instituto Dante Pazzanese (SP). "Mas é a genética que está por trás disso", explica. Bertolami mantém uma postura mais cautelosa em relação ao consumo de ovos. Segundo ele, o consumo diário de colesterol deve ser de 300 mg. "Um só ovo quase atinge esse valor", diz. "Isso sem levar em consideração produtos que contêm ovo, como bolos e tortas." Para o médico, o correto seria que todas as pessoas conhecessem seus níveis de colesterol para saber se podem ou não consumir alimentos como ovo. "Há vários dogmas que caem com o passar dos anos, mas não acho que a moderação em relação ao ovo seja um deles." McNamara está preparado para essa resistência. "Em algumas partes do mundo, como no Japão e no Canadá, os médicos já reconheceram que estão errados quanto ao ovo. Nos Estados Unidos, não há mais restrições quanto ao seu consumo. Mas vai demorar até todos os médicos compreenderem que, após 30 anos culpando os ovos, eles não aumentam o risco de doenças cardiovasculares."


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