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S.O.S. FAMÍLIA
Quando o problema é da escola, não dos pais
ROSELY SAYÃO
Como vai a parceria entre pais e escola
quando se trata da educação de crianças
e adolescentes? Vai mal, vai muito mal. Exemplos não faltam para ilustrar essa questão. Vamos começar com um bastante interessante e
que costuma confundir pais e escola: o comportamento, chamado de indisciplinado, do aluno em sala de aula ou no espaço escolar.
O garoto tem lá seus 13, 14 anos e, em casa, se
comporta como se espera que se comporte
um filho dessa idade: reclama, contesta, pede,
exige, transgride, tenta fazer coisas que os pais
não deixam, insiste, desobedece. E os pais, como podem e como devem, vão negociando,
impondo, dando broncas, ensinando, insistindo. Enfim, a situação, mesmo no limite,
mesmo tensa, fica sob controle.
Um belo dia, os pais são chamados na escola
para conversar com o orientador, coordenador, diretor ou outro profissional de cargo similar.
E a escola transfere o problema para os pais,
informando que o filho está se comportando
de modo absolutamente inadequado na escola: sobe em carteiras, usa linguajar vulgar com
professores, não atende às solicitações deles,
não obedece às normas da escola.
Por fim, o veredicto final: o filho precisa de
"limites", e os pais devem tomar as providências cabíveis.
Atestado de incompetência
Em pri-
meiro lugar, é importante salientar que a escola, ao agir desse modo, assina um atestado de
incompetência no que se refere ao seu trabalho, que é o de educar seus alunos para ser cidadãos, para aprender a viver em grupo e a
respeitar as regras de convivência no espaço
público. E, claro, isso enfraquece a necessária
autoridade.
Ora, o que os pais podem fazer em relação
ao que o filho faz fora das vistas deles e justamente num local em que deveria estar sendo
educado?
Muito pouco. No máximo, repetir as broncas costumeiras, dar algum castigo, fazer um
discurso carregado de emoções, ameaçar. Mas
nada disso, como já falamos, consegue o resultado esperado pela escola.
A escola precisa, e deve, dar conta do que
acontece no espaço de sua responsabilidade.
Se é na sala de aula ou no pátio que o aluno se
comporta de modo agressivo, inadequado, indisciplinado, é na escola que isso deve ser resolvido. Isso significa que ela deve ter seus
próprios mecanismos de contenção dos comportamentos que considera indesejáveis.
Claro que, para tanto, os pais precisam autorizar as atitudes que a escola toma. Como?
Simples: se o filho chega em casa reclamando
de uma atitude educativa da qual foi alvo, os
pais devem mais é concordar com o que foi
feito. Desde que tenha sido realmente uma atitude educativa e democrática. O que, convenhamos, tem sido difícil de acontecer nas escolas.
Essa, sim, seria uma boa parceria entre pais e
escola. O objetivo dos dois é o mesmo: educar.
Mas a cada um deles cabe uma parcela diferente nesse trabalho. Em casa os pais educam
seus filhos para que eles aprendam a viver,
convivendo no espaço privado que é a família,
e isso supõe amores, ódios, expectativas e conflitos.
Na escola, os professores educam os alunos
a exercitar a cidadania no espaço coletivo. E é
só na escola que o aluno tem a chance de
aprender isso de modo democrático. Portanto, se você for chamado na escola por causa de
indisciplina de seu filho, não se culpe. Ao contrário: cobre da escola que ela assuma sua autoridade na educação de seus alunos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo É Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br
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