São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2000
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S.O.S. FAMÍLIA
Quando o problema é da escola, não dos pais

ROSELY SAYÃO

Como vai a parceria entre pais e escola quando se trata da educação de crianças e adolescentes? Vai mal, vai muito mal. Exemplos não faltam para ilustrar essa questão. Vamos começar com um bastante interessante e que costuma confundir pais e escola: o comportamento, chamado de indisciplinado, do aluno em sala de aula ou no espaço escolar. O garoto tem lá seus 13, 14 anos e, em casa, se comporta como se espera que se comporte um filho dessa idade: reclama, contesta, pede, exige, transgride, tenta fazer coisas que os pais não deixam, insiste, desobedece. E os pais, como podem e como devem, vão negociando, impondo, dando broncas, ensinando, insistindo. Enfim, a situação, mesmo no limite, mesmo tensa, fica sob controle. Um belo dia, os pais são chamados na escola para conversar com o orientador, coordenador, diretor ou outro profissional de cargo similar. E a escola transfere o problema para os pais, informando que o filho está se comportando de modo absolutamente inadequado na escola: sobe em carteiras, usa linguajar vulgar com professores, não atende às solicitações deles, não obedece às normas da escola. Por fim, o veredicto final: o filho precisa de "limites", e os pais devem tomar as providências cabíveis.

Atestado de incompetência
Em pri- meiro lugar, é importante salientar que a escola, ao agir desse modo, assina um atestado de incompetência no que se refere ao seu trabalho, que é o de educar seus alunos para ser cidadãos, para aprender a viver em grupo e a respeitar as regras de convivência no espaço público. E, claro, isso enfraquece a necessária autoridade. Ora, o que os pais podem fazer em relação ao que o filho faz fora das vistas deles e justamente num local em que deveria estar sendo educado? Muito pouco. No máximo, repetir as broncas costumeiras, dar algum castigo, fazer um discurso carregado de emoções, ameaçar. Mas nada disso, como já falamos, consegue o resultado esperado pela escola. A escola precisa, e deve, dar conta do que acontece no espaço de sua responsabilidade. Se é na sala de aula ou no pátio que o aluno se comporta de modo agressivo, inadequado, indisciplinado, é na escola que isso deve ser resolvido. Isso significa que ela deve ter seus próprios mecanismos de contenção dos comportamentos que considera indesejáveis. Claro que, para tanto, os pais precisam autorizar as atitudes que a escola toma. Como? Simples: se o filho chega em casa reclamando de uma atitude educativa da qual foi alvo, os pais devem mais é concordar com o que foi feito. Desde que tenha sido realmente uma atitude educativa e democrática. O que, convenhamos, tem sido difícil de acontecer nas escolas. Essa, sim, seria uma boa parceria entre pais e escola. O objetivo dos dois é o mesmo: educar. Mas a cada um deles cabe uma parcela diferente nesse trabalho. Em casa os pais educam seus filhos para que eles aprendam a viver, convivendo no espaço privado que é a família, e isso supõe amores, ódios, expectativas e conflitos. Na escola, os professores educam os alunos a exercitar a cidadania no espaço coletivo. E é só na escola que o aluno tem a chance de aprender isso de modo democrático. Portanto, se você for chamado na escola por causa de indisciplina de seu filho, não se culpe. Ao contrário: cobre da escola que ela assuma sua autoridade na educação de seus alunos.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo É Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br

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