São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2006
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S.O.S Família

Celular na escola

Todos os pais com filhos na escola têm anseios e expectativas. Eles querem que, lá, seus filhos adquiram conhecimentos, que consigam ter contato com hábitos de vida novos e mais saudáveis, que aprendam a se concentrar nos estudos, que se relacionem com seus colegas de modo respeitoso e, de quebra, que se divirtam.
Quase todas as aspirações dos pais são legítimas e podem ser proporcionadas pela escola. Mas ela precisa de condições mínimas para conseguir dar conta de sua tarefa. A primeira e mais importante delas é que os pais deleguem a função educativa à escola com confiança.
A segunda condição é que os pais procurem não atrapalhar o trabalho cotidiano da escola com seus alunos. Não é preciso muito para isso: basta, ao enviar o filho à escola, deixar explicitado que há objetivos precisos a serem buscados e alcançados em sua vida de estudante. Isso significa demonstrar consideração em relação às normas que a escola impõe e que existem para dar condições ao bom andamento de seus trabalhos e, principalmente, acatá-las. O respeito aos horários do início e do final das aulas é um bom exemplo.
Quero conversar novamente sobre um modo de proceder dos pais que segue em sentido oposto a essas duas condições. Vamos tratar do uso de celular por crianças e adolescentes na escola. Para isso, não vou discutir as razões dos pais para permitir que os filhos usem o aparelho. Vou apenas refletir sobre o quanto esse hábito atrapalha o percurso na escola.
O tempo passado na escola não é grande. Em geral, são menos de cinco horas destinadas a múltiplos aprendizados. A escola, nesse período, precisa ensinar seus alunos a conviverem com seus pares e com os professores e a se concentrarem para aprender o que não sabem. E essa tarefa não é algo que as crianças realizem com muita facilidade. Os processos envolvidos no ato de se debruçar sobre o desconhecido são complexos e incluem angústia, resistência, insegurança e receio.
Para superar essa hesitação inicial, o aluno precisa usar sua coragem, sua determinação e sua energia. E isso só é possível se o aluno consegue superar, com a ajuda dos professores, as estratégias sedutoras que tentam livrá-lo desse árduo -mas necessário- trabalho.
Precisar ir ao banheiro no período da aula, ter sede, fome ou sono, lembrar-se de algo que deixou de fazer ou ter uma urgência qualquer são exemplos dessas estratégias de evitação que surgem comumente nos alunos e que os professores conhecem bem de perto.
Trabalhar com seus alunos para que eles as superem já é tarefa difícil. Imaginem os pais o que significa para o professor ter de descentrar seus alunos desse aparelho tecnológico tão sedutor que é o telefone celular para que ele invista tudo o que pode na difícil tarefa de aprender. Vamos convir: essa é uma batalha quase perdida. Por isso, permitir ou recomendar que o filho leve o celular para a escola é atrapalhar a criança e o trabalho dos professores.
Além disso, mesmo que utilizado apenas no horário de recreio, o telefone é prejudicial porque permite às crianças e aos jovens que não se relacionem com os colegas com quem compartilham o mesmo espaço e tempo. Ao usar o celular para se comunicar com alguém de fora do contexto escolar, eles se ausentam e não aprendem a conviver de modo respeitoso.
Os pais querem muito que seus filhos desfrutem o melhor da escola. Mas eles precisam colaborar para que isso possa ocorrer. Então, que tal fazer seu filho deixar o celular em casa? Esse esforço dos pais pode ter mais valor para a vida escolar do filho do que sentar com ele para fazer a lição de casa.

[...] Ao usar o celular para se comunicar com alguém de fora da escola, o aluno se ausenta e não aprende a conviver


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br


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