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Peguei na 'mão de Deus' e não senti nada
DE SÃO PAULO
Já que as chamadas drogas
digitais não constam de nenhuma lista de substâncias
ilícitas -até porque não são
"substâncias"-, acho que é
meu dever, como repórter,
experimentar uma dose.
"Dever" talvez seja exagero: é a curiosidade mesmo
que me leva a provar a coisa.
Tomara que, diferentemente
do que reza o ditado popular,
curiosidade não mate.
Escolho a dose "Hand of
God", que, segundo os comentários no site, proporciona "a sensação de estar fora
do próprio corpo".
Sento numa poltrona, apago as luzes do quarto e plugo
os fones de ouvido no iPod.
Cumpro exatamente as instruções do site-traficante: fecho os olhos e tento, por 20
minutos, me concentrar apenas naquele som.
Mas o que escuto é um
zumbido que, até a metade
da faixa, não parece variar de
tom. Meus ouvidos logo começam a se acostumar.
A partir da segunda metade da faixa, o barulho cresce
e fica semelhante ao de um
avião que vai acelerando para decolar.
É aí que o coração dá uma
leve disparada, mas a mente
continua alerta, consciente
de tudo ao redor. Nada de
sair fora do corpo, nenhuma
sensação de levitar e nem
uma visão caleidoscópica, típica de algum filme experimental dos anos 1960.
Sem mais nem menos, a
dose acaba: o som é cortado
abruptamente e o silêncio
volta a tomar conta.
Segurei na mão de Deus e
não senti nada, nem mesmo
uma tontura. Só espero que a
tal "Hand of God" não seja
como o LSD que, segundo os
especialistas, às vezes causa
efeitos na forma de "flashback": aparecem dias depois
do uso, nas horas mais erradas.
(GG)
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