São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004
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Especialistas inocentam desodorante

ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A lenda urbana de que desodorante antiperspirante pode causar câncer de mama volta à tona. O "Journal of Applied Toxicology" publicou, no início deste mês -e órgãos de comunicação no Brasil reproduziram na semana passada-, estudo britânico em que pesquisadores encontraram traços de parabeno -substância usada como conservante em cosméticos- em tecido de pessoas com câncer de mama.
Mastologistas e oncologistas procurados pela Folha afirmaram ter reservas quanto à informação. "A amostragem é insuficiente para conclusões. No momento, não existe respaldo científico que justifique o alarde", diz o diretor do departamento de mastologia do Hospital do Câncer, Mário Mourão Netto.
O estudo britânico analisou amostras de 20 tumores mamários e concluiu que o parabeno pode se acumular no organismo, imitando a ação do hormônio estrógeno. "O alarde ficou por conta desse hormônio [estrógeno] ser promotor do câncer de mama. É necessário que sejam feitas mais pesquisas para eliminar dúvidas de uma vez por todas", diz Netto.
Carlos Gil Ferreira, vice-presidente para pesquisas clínicas da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, também é reticente e diz que nenhuma conclusão sobre usar ou não esse tipo de desodorante deve ser feita com base no estudo britânico. "É uma pesquisa interessante, porém não é conclusiva. Ela gera uma hipótese que exige mais estudos."
Mas os especialistas são unânimes em condenar o uso de desodorantes que bloqueiam o suor (os chamados antiperspirantes ou antitranspirantes), pois podem provocar alterações funcionais benignas, como irritações, abscessos e foliculites nas axilas. "O uso de desodorantes que obstruem a glândula sudorípara pode causar infecções, por isso não recomendamos seu uso, e não por provocar câncer", diz Diógenes Luiz Basegio, presidente da Comissão Científica da Sociedade Brasileira de Mastologia.
Em 1999, nos Estados Unidos, começou a circular pela internet boatos sobre o fator cancerígeno dos desodorantes antiperspirantes. A Sociedade Americana do Câncer desmentiu o boato.
A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos afirma seguir as normas ditadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e que manterá o parabeno na lista de produtos aprovados para produção e consumo no Brasil, alegando ausência de indícios cancerígenos na substância.


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