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Especialistas inocentam desodorante
ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A lenda urbana de que desodorante antiperspirante pode causar câncer de mama volta à tona. O "Journal of Applied Toxicology" publicou,
no início deste mês -e órgãos de comunicação
no Brasil reproduziram na semana passada-,
estudo britânico em que pesquisadores encontraram traços de parabeno -substância usada
como conservante em cosméticos- em tecido
de pessoas com câncer de mama.
Mastologistas e oncologistas
procurados pela Folha afirmaram ter reservas quanto à informação. "A amostragem é insuficiente para conclusões. No momento, não existe respaldo científico que justifique o alarde", diz o
diretor do departamento de mastologia do Hospital do Câncer,
Mário Mourão Netto.
O estudo britânico analisou
amostras de 20 tumores mamários e concluiu que o parabeno
pode se acumular no organismo,
imitando a ação do hormônio estrógeno. "O alarde ficou por conta desse hormônio [estrógeno]
ser promotor do câncer de mama.
É necessário que sejam feitas mais
pesquisas para eliminar dúvidas
de uma vez por todas", diz Netto.
Carlos Gil Ferreira, vice-presidente para pesquisas clínicas da
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, também é reticente e
diz que nenhuma conclusão sobre usar ou não esse tipo de desodorante deve ser feita com base
no estudo britânico. "É uma pesquisa interessante, porém não é
conclusiva. Ela gera uma hipótese
que exige mais estudos."
Mas os especialistas são unânimes em condenar o uso de desodorantes que bloqueiam o suor
(os chamados antiperspirantes
ou antitranspirantes), pois podem provocar alterações funcionais benignas, como irritações,
abscessos e foliculites nas axilas.
"O uso de desodorantes que obstruem a glândula sudorípara pode causar infecções, por isso não
recomendamos seu uso, e não
por provocar câncer", diz Diógenes Luiz Basegio, presidente da
Comissão Científica da Sociedade
Brasileira de Mastologia.
Em 1999, nos Estados Unidos,
começou a circular pela internet
boatos sobre o fator cancerígeno
dos desodorantes antiperspirantes. A Sociedade Americana do
Câncer desmentiu o boato.
A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos afirma seguir
as normas ditadas pela Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) e que manterá o parabeno na lista de produtos aprovados para produção e consumo no
Brasil, alegando ausência de indícios cancerígenos na substância.
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