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Tire vantagem das especializações médicas
O acompanhamento do médico generalista pode evitar
que o paciente naufrague no mar de especialidades
João Pires/Agência Jump
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Graças a um especialista de joelho, a ex-jogadora de vôlei Ana Moser se livrou dos problemas |
DA REPORTAGEM LOCAL
Bambambã em sono, PhD em dor de cabeça, expert em cirurgia de
mão. A medicina está cada dia mais segmentada, o que significa que
o paciente tem à disposição uma gama crescente, e quase sempre pouco
conhecida, de especialistas. Se, por um lado, contar com um especialista é
favorável para o paciente, por outro, a oferta de tantas especialidades pode representar um complicador a mais na vida do doente.
Mas é possível fugir dessa armadilha, e uma das melhores armas é o acompanhamento eficiente de um médico generalista. Para Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, esta é a era da "volta do médico de família. O clínico-geral terá cada vez mais de olhar o paciente de uma forma holística, ele será o grande responsável pelo atendimento primário".
Sem o devido acompanhamento de um médico generalista, a bancária Keiko Saito levou 20 anos para ter seu distúrbio de sono diagnosticado. "Não tinha idéia nem obrigação de saber que existia um especialista em sono. Apesar de consultar vários médicos, nenhum soube diagnosticar o problema, e a maioria nem teve a humildade de indicar o caso para um colega. Perdi tempo fazendo tomografias e ressonâncias magnéticas", conta.
O ilustrador Jesus Dias da Silva é outro que ficou à deriva. "A idéia de ter especialistas é positiva, mas falta envolvimento entre paciente e médico, o que faz o generalista errar na indicação de um hiperespecialista", diz ele.
Jesus vivia com muitas tonturas, mas nem clínico-geral nem psiquiatra ou otorrinolaringologista conseguiram identificar a causa. Graças a um programa de rádio, ele descobriu a existência do especialista em otoneurologia. Foi a salvação para se livrar da labirintite.
Já o problema da administradora Graça Cordeiro foi resolvido por pura insistência da paciente. Segundo os dermatologistas, o que tinha no rosto -manchas- não era doença e não exigia tratamento. Mas ela não as queria. Graças a uma amiga, descobriu uma especialidade médica voltada para a estética.
Para a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, que resolveu seus problemas de joelho com um especialista, as ramificações médicas estão salvando a vida de muitos. "Existe o fator negativo, que é a perda da visão global de alguns profissionais, mas o conhecimento mais aprofundado possibilita o melhor tratamento possível".
Leia nas págs. 9 e 10 uma descrição sucinta de algumas especialidades e subespecialidades médicas.
(KARINA KLINGER)
"Se os diagnósticos não
forem feitos devidamente, o
desenvolvimento da criança
pode ser comprometido"
Antonio José das Chagas,
endocrinopediatra
Cosmiatra Há dez anos, quando alguém tinha uma dúvida sobre beleza
da pele, ia direto a um esteticista. Hoje, problemas do gênero podem ser levados também a um médico: o cosmiatra -ou dermatologista especializado em estética. "Tudo começou por
causa do câncer de pele, quando se
descobriu que o sol era o grande desencadeador da doença e que evitá-lo
para prevenir o câncer também melhorava o aspecto envelhecido da pele.
Assim, o lado estético passou a ser valorizado pela área da dermatologia",
afirma a cosmiatra Ediléia Bagatin, da
Unifesp. Esse profissional costuma
tratar manchas, problemas de hidratação da pele, aplica medidas contra o
envelhecimento e também está atento
a sinais de doença. Alguns cosmiatras
também estão avançando no campo
cirúrgico, diz Ediléia, o que antes se
restringia ao cirurgião plástico.
Endocrinopediatra Disfunções hormonais e problemas metabólicos e de obesidade não são privilégios de adultos. E os pacientes mirins
já podem contar com o pediatra especializado em endocrinologia. "Os
diagnósticos são muito diferentes dos
adultos, já que o organismo da criança
está em formação e, se não forem feitos devidamente, o desenvolvimento
da criança pode ser comprometido",
explica o endocrinopediatra Antonio
José das Chagas, da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Hemodinamicista Tão diferente quanto o nome da subespecialidade
é o trabalho executado pelo respectivo
médico. Descobriu-se que o exame de
cateterismo cardíaco (introdução de
cateter nas artérias coronárias para
identificar doenças cardiovasculares)
também tem efeito terapêutico na
prevenção do infarto do miocárdio.
Com isso, o hemodinamicista, que
aplica tal exame, passou a ser requisitado também para fazer o tratamento,
diz Eulogio Martinez, do Incor.
Medicina tropical A especialidade foi assim batizada quando a
maioria das enfermidades infecciosas
eram consideradas próprias dos trópicos. Hoje ela faz parte da área que
estuda doenças infecciosas em geral.
O profissional trata de gripe e malária
a Aids e outras enfermidades infecciosas, as quais têm tido aumento significativo nos últimos 20 anos, diz o professor
de infectologia e parasitologia da Faculdade de Medicina da USP Marcos Boulos.
Médico de cefaléia A dor de
cabeça atinge 90% da população
mundial e nem sempre é inofensiva.
"Quando não é esporádica e interfere na qualidade de vida, a dor de cabeça pode ser sintoma de uma doença séria", alerta Deusvenir de Souza
Carvalho, da Sociedade Brasileira de
Cefaléia.
Médico de esporte Em uma
maratona na Grécia Antiga, o soldado
Pheidipides correu 42 km e em seguida morreu. Na época, não existia um
especialista para preveni-lo dos riscos.
Hoje existe o médico do esporte, que
orienta e atende atletas e praticantes
de exercícios físicos em geral. "O médico do esporte monitora a imunidade do atleta e as alterações hematológicas e endócrinas durante a prática
esportiva. Depois disso, ele faz o diagnóstico", diz Jacob Faintuch, coordenador do curso de medicina esportiva
da Faculdade de Medicina da USP.
Médico de joelho Que o joelho é
a pedra no sapato de qualquer atleta
não é mais novidade, mas que essa articulação tem um profissional especializado para tratá-la em situações
delicadas ainda é uma informação
pouca conhecida. Para o ortopedista
Gilberto Luis Camanho, do Hospital
das Clínicas (SP), o joelho é uma das
articulações mais complexas do corpo. "Muitas vezes o problema está no
joelho, mas a pessoa sente a dor em
outro lugar", diz. A técnica mais usada
em cirurgias de joelho é conhecida como artroscopia: com a ajuda de uma
câmera de TV, o cirurgião repara os ligamentos e corrige lesões do menisco
e da cartilagem, por exemplo.
"A cirurgia de mão engloba
conhecimentos em
ortopedia, cirurgia plástica e
cirurgia vascular"
Nilton Schor,
cirurgião plástico especialista em cirurgia de
mão
Médico de mão Tão complicado
quanto o joelho, o tratamento da mão
ganhou atenção especial da medicina.
Como a mão é dotada de movimentos
específicos e funções importantes, essa cirurgia "engloba conhecimentos
em ortopedia, cirurgia plástica e cirurgia vascular", diz o cirurgião plástico
Nilton Schor. As técnicas de cirurgia
do membro desenvolveram-se entre
as duas grandes guerras como medida
imediata para solucionar o ferimento
dos soldados. "Os problemas mais
graves são os traumas, como queimaduras, fraturas de tendão e secção de
veias. Há também tumores de pele, de
osso ou de musculatura e doenças ou
alterações congênitas", explica Schor.
Um dos procedimentos mais delicados são os implantes, em que um
músculo é retirado do abdômen, por
exemplo, e implantado no braço.
Médico de tráfego Aquele médico que faz o exame de vista quando se tira ou renova a carteira de habilitação é um médico de tráfego. Ele também presta primeiros socorros em acidentes com meios de transportes e desenvolve pesquisas sobre os tipos de acidente mais comuns. Considerada uma especialidade pelo Conselho Federal de Medicina, a área surgiu ligada à medicina legal. "A especialidade surgiu como uma forma de diminuir o número de óbitos em San Remo (Itália), no ano de 1960, quando o número de vítimas de acidentes de trânsito era alto", diz o médico Fábio Rasy, da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego. O especialista também se dedica à saúde do paciente em trânsito -ajustes de remédios e aplicação de vacinas para epidemias locais, por exemplo.
Médico do sono A área de atuação é pouca conhecida, mas as doenças do sono são muito comuns. De acordo com o neurologista Ademir Batista, especializado em distúrbios do sono e professor da Unifesp, 30% a 40% da população mundial sofre de insônia, e 80% tem outros distúrbios correlatos. Para diagnosticá-los, o médico tem como arma a polissonografia, exame que por, meio de avaliações clínicas (respiração, pulso, eletrocardiograma, oxigênio do sangue arterial e pressão arterial), constata distúrbios no sono do paciente.
Neuroftalmologista Nem sempre os problemas oculares surgem de forma independente no organismo, e o neuroftalmologista é expert no diagnóstico daqueles que são associados a algum tipo de alteração cerebral. O profissional -médico oftalmologista- trata de inflamações óticas, conhecidas como neurites, e é preparado para detectar tumores que estejam comprimindo o nervo ótico, por exemplo.
Nutrólogo É o médico especializado em problemas relacionados a nutrição. Mas ele não fica restrito à fiscalização da dieta -uma das atribuições do nutricionista- nem trata de problemas hormonais ou glandulares, como o endocrinologista. Ele diagnostica, previne e trata doenças ligadas à deficiência nutricional, explica o médico Durval Ribas Filho, presidente da Sociedade Brasileira de Nutrologia.
Otoneurologista Otorrinolaringologista especialista em distúrbios de audição que surgem acompanhados de problemas de equilíbrio corporal. São mais de 300 doenças desse tipo, nem todas são formas de labirintite, apenas 7 delas têm relação direta com o labirinto. Geralmente as pessoas com tais problemas apresentam como sintomas perda da qualidade da audição e tontura. Enquanto nos EUA a especialidade é conhecida, no Brasil, os pacientes com distúrbios de audição e equilíbrio ainda fazem uma peregrinação por vários especialistas até chegar ao otoneurologista, diz o médico Mario Sergio Lei Munhoz.
Toxicologista Tomar um remédio para pôr fim a determinado sintoma e ganhar de brinde outro tipo de problema. Essa realidade é mais comum do que se pensa porque a mistura de substâncias químicas nem sempre faz bem à saúde. Além desse tipo de intoxicação, há também a provocada por alimentos e produtos químicos usados no dia-a-dia. Na emergência, a primeira atitude é procurar um pronto-socorro, e o quadro é revertido. Mas, se os sintomas persistirem, o médico toxicologista entra em ação. Pelo tipo de sintoma, histórico do paciente e com exames apropriados, o especialista chega à raiz da questão. "Tudo que comemos ou entra em contato com o organismo pode fazer mal. É importante que ter consciência desse risco", explica Antony Wong, pediatra especializado em toxicologia clínica do Instituto da Criança.
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