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Ioga terapêutica
Com fundamentos da técnica milenar
e da medicina oriental, iogaterapia se
propõe a aliviar problemas físicos
e mentais; tratamento é coadjuvante
JULIANA CALDERARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Já é sabido que a ioga pode trazer bem-estar físico e mental. Mas uma
versão menos conhecida dessa técnica milenar se
propõe especificamente a cuidar de pessoas com problemas
nas duas áreas.
Chamada iogaterapia, a vertente trabalha com conceitos
da medicina oriental e com recursos já tradicionais nas aulas
de ioga, como posturas corporais e técnicas de respiração e
de meditação, para ajudar no
tratamento de problemas como fobias, hipertensão, diabetes, dores na coluna, estresse e
abstinência do cigarro.
"A iogaterapia pode levar à
superação de obstáculos que
estejam naquele momento na
vida do indivíduo. Esses obstáculos podem ser físicos, mentais ou emocionais", diz Juliana
Weldt, 36, instrutora e terapeuta do Vidya Yoga, em São Paulo.
O método é mais disseminado na Índia, seu país de origem,
mas já há adeptos no Brasil. Por
aqui, é considerada uma técnica complementar -não substitui o tratamento convencional
com o médico ou o psicoterapeuta nem o uso de remédios.
"Na Índia, a ioga é usada como medicina, e aqui, no Ocidente, como tratamento complementar", diz Marta Ricoy,
psicóloga e terapeuta do Ganapati Instituto de Yoga. Segundo
ela, no país asiático existem
centros de tratamento gratuitos em que o paciente é atendido por iogaterapeutas em conjunto com médicos.
Terapeutas
O tratamento é conduzido
por um instrutor de ioga com
formação em iogaterapia -já
há cursos nessa área no Brasil-
e começa com uma anamnese,
uma entrevista em que o paciente fala de sua história e de
seus hábitos e relata suas queixas ao profissional.
Cada iogaterapeuta segue os
preceitos de sua linha filosófica: ashtanga, hatha e vidya são
algumas delas. Em certas linhas, são usadas ferramentas
da medicina ayurvédica (tradicional indiana), como massagem e quiropraxia. As sessões
duram cerca de 90 minutos.
"No caso de a pessoa ter diabetes, por exemplo, fazemos
uma série de "ásanas" que massageiam o pâncreas", afirma
Rosângela Maria Bassoli, 49,
psicóloga que aplica a terapia
há 24 anos no Instituto de Yogaterapia, em Campinas.
"Ásanas" são as posturas realizadas pelos praticantes de ioga, que exigem esforço físico e
trazem mais força e flexibilidade para o corpo. Segundo a iogaterapia, essas posturas têm
significados. Durante o tratamento, o terapeuta pede que o
paciente fique em posições que
estejam relacionadas às suas
queixas. Por exemplo, para o
paciente que sofre com o medo,
o terapeuta indicará um "ásana" que trabalha a coragem.
"É como uma prescrição. Você permanece um tempo determinado em alguma postura,
conforme o necessário", explica Marta Ricoy.
Autoestima
A designer Jamile Michida,
33, já fazia aulas de ioga quando
decidiu experimentar a sua
versão terapêutica. "Estava em
uma fase de desânimo", conta.
Após a primeira sessão, Jamile diz que notou mudanças.
"Parecia que as cores estavam
mais vivas. O cheiro, a visão e a
audição estavam mais definidos", relata. A "alta" veio depois
de cinco sessões. A timidez diminuiu e a autoestima de Jamile aumentou. "Consigo ter mais
abertura para falar e a relação
com meu corpo mudou", diz.
O tratamento costuma durar
apenas algumas sessões e, após
sanadas as queixas iniciais, recomenda-se que o paciente se
torne aluno e use aulas de ioga
como manutenção.
A cientista social Andrea
Wuo, 32, recorreu às sessões de
iogaterapia em duas ocasiões
diferentes para aliviar sintomas da ansiedade. Na primeira
delas, o tratamento foi útil contra colites e uma gastrite. Três
anos depois, Andrea voltou à
iogaterapia porque queria parar de fumar.
"Minha terapeuta me disse
que não poderia fazer nada, que
só eu podia fazer isso", lembra.
Apesar de a decisão ter sido de
Andrea, posturas e exercícios
de respiração foram indicados
para ajudar a controlar a ansiedade durante a síndrome de
abstinência.
Para obter resultados, o paciente é encorajado a aplicar o
que vivencia nas sessões no seu
dia a dia. Mudar comportamentos que aumentam os sentimentos negativos e os maus
hábitos é parte do processo.
Entre as sensações experimentadas durante o tratamento, Andrea cita o vigor físico e a
sensação de calma e paz. Livre
do cigarro há mais de um ano,
ela continua a usar o conhecimento que adquiriu: sempre
que fica ansiosa, para por alguns minutos e realiza exercícios respiratórios para driblar o
cansaço. "Antigamente eu ia fumar um cigarro", lembra.
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