São Paulo, quinta-feira, 30 de julho de 2009
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INSPIRE RESPIRE TRANSPIRE

Ioga terapêutica

Com fundamentos da técnica milenar e da medicina oriental, iogaterapia se propõe a aliviar problemas físicos e mentais; tratamento é coadjuvante

JULIANA CALDERARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Já é sabido que a ioga pode trazer bem-estar físico e mental. Mas uma versão menos conhecida dessa técnica milenar se propõe especificamente a cuidar de pessoas com problemas nas duas áreas.
Chamada iogaterapia, a vertente trabalha com conceitos da medicina oriental e com recursos já tradicionais nas aulas de ioga, como posturas corporais e técnicas de respiração e de meditação, para ajudar no tratamento de problemas como fobias, hipertensão, diabetes, dores na coluna, estresse e abstinência do cigarro.
"A iogaterapia pode levar à superação de obstáculos que estejam naquele momento na vida do indivíduo. Esses obstáculos podem ser físicos, mentais ou emocionais", diz Juliana Weldt, 36, instrutora e terapeuta do Vidya Yoga, em São Paulo.
O método é mais disseminado na Índia, seu país de origem, mas já há adeptos no Brasil. Por aqui, é considerada uma técnica complementar -não substitui o tratamento convencional com o médico ou o psicoterapeuta nem o uso de remédios.
"Na Índia, a ioga é usada como medicina, e aqui, no Ocidente, como tratamento complementar", diz Marta Ricoy, psicóloga e terapeuta do Ganapati Instituto de Yoga. Segundo ela, no país asiático existem centros de tratamento gratuitos em que o paciente é atendido por iogaterapeutas em conjunto com médicos.

Terapeutas
O tratamento é conduzido por um instrutor de ioga com formação em iogaterapia -já há cursos nessa área no Brasil- e começa com uma anamnese, uma entrevista em que o paciente fala de sua história e de seus hábitos e relata suas queixas ao profissional.
Cada iogaterapeuta segue os preceitos de sua linha filosófica: ashtanga, hatha e vidya são algumas delas. Em certas linhas, são usadas ferramentas da medicina ayurvédica (tradicional indiana), como massagem e quiropraxia. As sessões duram cerca de 90 minutos.
"No caso de a pessoa ter diabetes, por exemplo, fazemos uma série de "ásanas" que massageiam o pâncreas", afirma Rosângela Maria Bassoli, 49, psicóloga que aplica a terapia há 24 anos no Instituto de Yogaterapia, em Campinas.
"Ásanas" são as posturas realizadas pelos praticantes de ioga, que exigem esforço físico e trazem mais força e flexibilidade para o corpo. Segundo a iogaterapia, essas posturas têm significados. Durante o tratamento, o terapeuta pede que o paciente fique em posições que estejam relacionadas às suas queixas. Por exemplo, para o paciente que sofre com o medo, o terapeuta indicará um "ásana" que trabalha a coragem.
"É como uma prescrição. Você permanece um tempo determinado em alguma postura, conforme o necessário", explica Marta Ricoy.

Autoestima
A designer Jamile Michida, 33, já fazia aulas de ioga quando decidiu experimentar a sua versão terapêutica. "Estava em uma fase de desânimo", conta.
Após a primeira sessão, Jamile diz que notou mudanças. "Parecia que as cores estavam mais vivas. O cheiro, a visão e a audição estavam mais definidos", relata. A "alta" veio depois de cinco sessões. A timidez diminuiu e a autoestima de Jamile aumentou. "Consigo ter mais abertura para falar e a relação com meu corpo mudou", diz.
O tratamento costuma durar apenas algumas sessões e, após sanadas as queixas iniciais, recomenda-se que o paciente se torne aluno e use aulas de ioga como manutenção.
A cientista social Andrea Wuo, 32, recorreu às sessões de iogaterapia em duas ocasiões diferentes para aliviar sintomas da ansiedade. Na primeira delas, o tratamento foi útil contra colites e uma gastrite. Três anos depois, Andrea voltou à iogaterapia porque queria parar de fumar.
"Minha terapeuta me disse que não poderia fazer nada, que só eu podia fazer isso", lembra. Apesar de a decisão ter sido de Andrea, posturas e exercícios de respiração foram indicados para ajudar a controlar a ansiedade durante a síndrome de abstinência.
Para obter resultados, o paciente é encorajado a aplicar o que vivencia nas sessões no seu dia a dia. Mudar comportamentos que aumentam os sentimentos negativos e os maus hábitos é parte do processo.
Entre as sensações experimentadas durante o tratamento, Andrea cita o vigor físico e a sensação de calma e paz. Livre do cigarro há mais de um ano, ela continua a usar o conhecimento que adquiriu: sempre que fica ansiosa, para por alguns minutos e realiza exercícios respiratórios para driblar o cansaço. "Antigamente eu ia fumar um cigarro", lembra.


Texto Anterior: Criança: Volta sem drama
Próximo Texto: Fatores de peso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.