São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2011
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OUTRAS IDEIAS

MIRIAN GOLDENBERG miriangoldenberg@uol.com.br

Os velhos clichês e a guerra de sexos


Como se fossem de uma espécie superior, elas se acham únicas e dizem que os homens são todos iguais


"homem só quer sexo, mulher quer amor." "Todo homem é galinha, machista e infiel." "Homem tem medo de mulher independente."
"Homens ficam inseguros quando o salário da mulher é maior." "Homens são infantis, bobos e imaturos."
"Eles odeiam discutir a relação."
"Homem não sofre por amor." "Eles se separam e logo arranjam outra." "Eles detestam mulher inteligente."
Esses e outros clichês são crenças frequentes entre as mulheres brasileiras.
Elas repetem esses velhos chavões como se só elas, e não eles, tivessem mudado nas últimas décadas.
Não encontro entre os homens os mesmos clichês.
Eles dizem que se sentem atraídos pelas inteligentes e que admiram as fortes, poderosas, independentes.
A maioria quer sexo, sim, mas com a mulher amada. Um economista de 55 anos declarou: "Para as mulheres, todo homem é galinha. Sempre fui fiel à minha mulher. Não quero ter outra. Quero que ela seja também a minha amante. Não quero trair a minha melhor amiga".
Os dados do IBGE mostram crescimento no número de homens que se casam com mulheres mais velhas. Eles desejam uma mulher bonita, é verdade, mas desde que ela seja interessante (inteligente, bem-humorada, independente).
Como me disse um arquiteto de 47 anos: "Essa coisa de homem trocar uma mulher de 40 por duas de 20 é o maior clichê que as mulheres inventaram. Quero uma mulher interessante, uma companheira. E que mulher de 20 anos pode me ensinar alguma coisa? Não quero uma filha para ser dominada ou um troféu para ser exibido. Mas as mulheres insistem em rotular os homens".
Ou ainda, conforme um jornalista de 39 anos: "É até engraçado! As mulheres se consideram únicas, especiais, diferentes. Já nós, os homens, somos todos iguais. É como se elas fossem de uma espécie mais civilizada, superior, e nós os primitivos, seres inferiores".
Elas continuam repetindo ideias que não combinam mais com grande parte dos homens brasileiros.
Acabam, assim, reforçando os estereótipos de gênero, os mesmos que elas dizem querer destruir.
É óbvio que as brasileiras estão mais livres.
Mas parece existir uma cegueira feminina na hora de aceitar as transformações dos comportamentos masculinos e os novos modelos de ser homem.
Para conquistar uma verdadeira igualdade entre os gêneros, não seria a hora de parar de enxergar todos os homens pela mesma lente dos velhos clichês?

MIRIAN GOLDENBERG é antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de "De Perto Ninguém é Normal" (Ed.BestBolso)



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