São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008
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ROSELY SAYÃO

Propaganda nas escolas


[...] MUITAS ESCOLAS ACEITAM SEM REFLEXÃO QUE SEU ESPAÇO SEJA USADO PARA ESSE TIPO DE MARKETING

A publicidade está cada vez mais entranhada no nosso dia-a-dia. E o pior é que não querem mais nos vender apenas objetos mas também conceitos e estilos de viver. Como os temas na ordem do dia são saúde e qualidade de vida, eles são explorados por peças publicitárias e anúncios de todo tipo.
Alguns deles tentam dar um caráter quase científico às qualidades dos produtos anunciados e, para tanto, usam até mesmo nomes de profissionais.
Dessa forma, tomamos conhecimento que o pediatra da personagem do anúncio indica o uso de tal sabonete para o banho de seus filhos, que ginecologistas recomendam outro para a higiene íntima de mulheres, que odontólogos preferem usar determinada marca de pasta dentifrícia e que nutricionistas aconselham certo alimento, por exemplo.
Recentemente, li nos jornais uma notícia interessante que tem íntima relação com o assunto de hoje. O Conselho Federal de Medicina, preocupado com o tipo de relacionamento estabelecido pela indústria farmacêutica com os médicos, pretende regulamentar a distribuição de benefícios da primeira aos profissionais da medicina no novo Código de Ética Médica, que está em discussão.
Oferecer presentes caros como viagens e inscrições em congressos internacionais, objetos de uso pessoal, refeições e brindes de todos os tipos são algumas das práticas usadas por muitos laboratórios no assédio aos médicos. A intenção é clara: que eles receitem este ou aquele medicamento aos pacientes, que somos nós. Por isso, a discussão é muito bem-vinda!
Agora, um fato que muitos desconhecem é que esse mesmo tipo de assédio é praticado em escolas que seus filhos freqüentam. Indústrias de alimentos oferecem aos alunos oficinas e aulas, com direito a brindes, sobre conceitos de boa (!) nutrição, por exemplo. Outras empresas abrem suas portas às escolas que querem realizar atividades extras para que os alunos aprendam (!) como são fabricados embutidos, biscoitos e similares; fabricantes de materiais usados em escolas elaboram livretos para uso do professor em aula etc.
Muitas escolas -não sei se por ingenuidade ética ou comodismo- aceitam sem reflexão que seu espaço seja usado para esse tipo de marketing. O que elas não sabem é que, ao agirem assim, dão seu precioso aval ao tipo de consumo proposto por essas empresas e aos produtos por elas fabricados e se tornam, portanto, garotas-propaganda. É bom lembrar que os pais muitas vezes nem sabem que seus filhos estão expostos a tais propagandas. Aliás, não são nem consultados a respeito dessas visitas que a escola recebe. Como funciona, afinal, a propalada parceria família-escola?
As crianças já são suficientemente bombardeadas por todo o tipo de apelo ao consumo.
Não deveria ser a escola o lugar onde elas aprendem a consumir de forma livre, desprendida, crítica e consciente? Sendo assim, esta não pode, jamais, abrir suas portas às indústrias para que elas promovam o consumo em seu espaço. Que os pais fiquem alertas, portanto.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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