São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 2011
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ROSELY SAYÃO

O LADO B DO 'MAMAÇO'


Corremos o risco de limitar a importância da amamentação ao seu papel nutricional, o que pode gerar confusão


Acompanhei com bastante interesse a movimentação de notícias, repercussões e opiniões de todos os lados em torno de um evento que foi chamado de "mamaço".
Se alguém não sabe, explico: uma mulher foi advertida por amamentar seu bebê em um local público, um centro cultural em São Paulo, e esse fato foi o início de um movimento de protesto de muitas mulheres que, reunidas nesse mesmo local, deram os seios a seus filhos, no dia 12 de maio último.
Esse fato e as reações provocadas por ele já foram analisados sob diversos pontos de vista.
Que tal, caro leitor, analisá-los agora colocando no centro das reflexões os bebês? Vamos lá.
Ser alimentado pela mãe, no primeiro ano de vida, é um momento dos mais preciosos na vida de uma criança. É um fato que podemos chamar de sagrado para ela.
Mais do que ser alimentada, ela é acolhida, reconhecida, acarinhada. Ser amamentada é ser amada.
As mãos da mãe no cabelo do bebê, o olho no olho dos dois e as sensações que decorrem desses atos, entre outros, ficarão marcados para sempre na vida dessa criança, de algum modo.
Constatamos, portanto, que não é apenas o corpo do bebê que é alimentado e que se desenvolve na hora da mamada.
O desenvolvimento emocional ocorre da mesma maneira, como consequência desse ato que é emblema e ponto de partida de um vínculo vital.
Ninguém ignora os inúmeros benefícios para a saúde física do bebê que a amamentação provoca.
Entretanto, em tempos da supremacia do conhecimento médico e dos cuidados extremos com a saúde, corremos o risco de limitar a importância da amamentação à questão nutricional, e isso pode gerar muitas confusões.
Uma delas é a de que a criança não precisa de tranquilidade e serenidade nessa hora. Pois ela precisa. Aliás, ela precisa de tranquilidade na maior parte do tempo nesse período curto de sua vida. Acontece que nosso estilo de vida suprimiu isso do dia a dia de muitos bebês.
Com dias de vida, eles já são levados aos shoppings, supermercados e passeios dos mais variados tipos. Aonde a mãe quer ou precisa ir, o bebê a acompanha.
O que não consideramos é que a iluminação, o som, os inúmeros estímulos visuais e a movimentação intensa que costuma existir nesses lugares interfere na vida do bebê.
Para quem saiu há pouco de um lugar quente, escuro e com sons típicos, é impactante ser submetido a tanta luz, tanto barulho e tantos movimentos rápidos e bruscos.
A amamentação é, sim, um ato natural, e as mulheres têm o direito de amamentar seus bebês onde estiverem, caso seja preciso.
Ao mesmo tempo, os bebês têm o direito de privacidade nessa hora. Como conciliar as duas coisas?
Essa é uma das novidades complexas do mundo contemporâneo: como garantir os direitos das crianças e os de seus pais simultaneamente?
O bebê precisa de segurança, tranquilidade e paz para seu melhor desenvolvimento; a mãe precisa levar sua vida sem sacrificar quase nada dela e honrar seus compromissos, sejam eles externos ou internos.
Até agora, parece que os direitos dos mais velhos têm pesado mais na balança e isso significa que os direitos dos mais novos têm sido transformados.
Ainda não encontramos uma boa solução para essa difícil equação. Mas precisamos, não precisamos?

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)



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