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s.o.s. família
Não se trata dessa repressão truculenta e policial a que estamos, infelizmente, acostumados a associar a palavra
Sem repressão, não há educação
Rosely Sayão
Em quase toda reunião com
pais a que vou, sempre aparece o tema da agressividade dos filhos. Esta é uma boa hora
para essa discussão, já que recentemente soubemos pela mídia, mais
uma vez, de uma dessas brigas entre jovens que termina com a morte
de um deles.
Claro que vamos, de novo, deixar
de lado fatores como os sociais e
políticos, que, certamente, influenciam o comportamento agressivo
descontrolado de alguns jovens e
algumas crianças. Vamos conversar apenas sobre a parte que cabe
aos pais nesse assunto.
Outro dia uma jovem mãe lamentava o que ela chamava de "alto grau de agressividade do filho" e
dizia não saber como enfrentar o
comportamento dele. Perguntei-lhe o que o filho, de 5 anos, fazia de
tão agressivo. Ela respondeu que
ele mordia os colegas, batia a cabeça na parede quando queria algo e
não tinha, avançava em quem fosse
quando tentavam impedir que ele
fizesse ou pegasse algo, empurrava
e derrubava crianças menores para
ter o que queria... enfim, comportava-se como um verdadeiro "monstrinho".
E como reagia a mãe até então? Conversava com ele, explicava pacientemente que ele precisava respeitar os amigos, que não podia bater
nem morder, que podia se machucar quando tinha os acessos de birra,
e tudo o mais. E o filho reagia? Claro que não!
Criança dessa idade não tem como entender conversa de gente grande. Quer dizer, ela até pode entender o sentido do que a mãe fala, mas
não tem, ainda, condição de controlar os seus impulsos. Para tanto ela
precisaria aprender, e a mãe e o pai, ensinar.
E criança aprende a se controlar ouvindo o adulto dizer que ela deve
fazer isso? Nem pensar. Ela aprende, pouco a pouco, a segurar os seus
impulsos agressivos sendo contida, sendo reprimida.
E está posta a palavra tão assustadora: reprimir. Reprimir virou palavrão nestes tempos pós-ditadura. Acontece que, sem repressão, não há
educação, não há possibilidade de convívio social.
Educar os filhos já é muito difícil, e educar democraticamente é mais
difícil ainda. Mas não há democracia sem proibição, sem repressão.
Claro que não se trata dessa repressão truculenta e policial a que estamos, infelizmente, acostumados a associar a palavra. Mas da repressão
que susta, que dosa, que modera, que retém, que refreia, que inibe.
A criança de 5 anos que age como a mãe reclamava age como o esperado para essa idade: a criança usa os recursos que tem para tentar
conseguir o que quer. Se os pais não reprimem essas reações do filho,
ele vai continuar respondendo assim. Agora, imaginem essas reações
quando o filho tem 12, 13 anos. E aos 18, 19? Dá no que deu essa briga
que terminou em morte.
Como conter esse tipo de impulso agressivo da criança? Segurando,
impedindo, proibindo. Dialogar é preciso, mas só o diálogo não resulta em nada. É preciso que o diálogo seja acompanhado de uma ação
orientadora e restritiva por parte dos pais. Não é assim que funciona
com o afeto? Não basta os pais dizerem ao filho que ele é amado: esse
afeto precisa ser expresso por meio de beijos, abraços, carinhos, cuidados. O mesmo vale para a repressão.
Os pais precisam lembrar que não é proibido proibir quando se educa! Além disso, educar é agir no presente, pensando no futuro.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br
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