São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2000
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firme e forte

Dança tribal relaxa e queima calorias

ARLETE MENDES DE SOUZA
FREE LANCE PARA A FOLHA

Eles não fizeram balé clássico na infância nem jazz na adolescência. Estão longe de ter corpo e graça de bailarinos, mas lotam estúdios de dança e não se envergonham de mostrar os passos aprendidos em parques e praças. Sem ambição de virar pé-de-valsa, a nova leva de alunos procura a dança por motivos bem heterodoxos: aliviar o estresse, vencer a timidez, curar enxaqueca, depressão, problemas gastrointestinais ou, simplesmente, manter o corpo em movimento. O Estúdio A&B, na Vila Madalena, foi um dos primeiros a trazer para as salas de balé alunos pouco familiarizados com as técnicas de expressão corporal. Há sete anos, aulas de danças folclóricas reúnem um público eclético, com idades, profissões e biótipos distintos. Os cursos são ministradas pelos terapeutas André Trindade e Betty Gervitz e não têm duração predeterminada.
Os alunos aprendem passos de danças típicas da Espanha, da Índia, do Marrocos, da Grécia e até do Iêmen. Essas danças foram pesquisadas por Trindade e Gervitz em viagens feitas ao longo de 14 anos. "Escolhemos ensinar danças étnicas porque elas podem ser acompanhadas por qualquer um, sem necessidade de talento especial. Os alunos podem ser magros, gordos, baixos, altos, jovens, crianças ou velhos", explica Trindade.
Os professores iniciam a atividade com técnicas de aquecimento e alongamento. Depois, é só se deixar envolver pelos ritmos folclóricos e pelas danças de roda. Embora a queima de calorias não seja o objetivo principal da dança étnica, a movimentação constante ajuda a perder peso. "A dança é uma atividade aeróbica, como a ginástica ou natação, que repete movimentos com frequência." Segundo Trindade, os 90 minutos de aula equivalem a uma caminhada de duas horas. Mas a dança étnica não tem como prioridade o emagrecimento. "Propomos uma atividade física com prazer, sem o mecanicismo da academia. Lá, o aluno faz esteira ao mesmo tempo em que lê jornal ou olha para a parede. É tudo automático, não há envolvimento com o exercício." Já na dança étnica, os professores exigem que o aluno entre em contato com as sensações do corpo em movimento, como calor e cansaço. "A dança ajuda a superar a timidez e cria uma relação positiva com o corpo, reconhecendo e valorizando a a sensualidade de cada um."
Outra saída para quem quer dançar sem se preocupar com a performance é o curso de danças circulares sagradas, promovido pelo Sesc Pinheiros. A professora Patrícia Tolentino conta que as danças sagradas surgiram durante o pós-guerra, na comunidade escocesa de Findhorn, por iniciativa do coreógrafo alemão Bernard Wosien. "Ele acreditava que a dança e o canto eram a melhor forma para alcançar a paz", explica. Mas não bastava dançar: era preciso resgatar tradições de várias etnias. "Ao conhecer e viver o sagrado de cada tradição, o homem aprenderia a respeitar os outros, independentemente de crença, posição social e idade. Por isso não há barreira a nenhum participante. Queremos a diversidade", explica Patrícia.
Antes da aula, o grupo medita por cinco minutos, sempre formando um círculo. "A roda é uma das primeiras formas geométricas do mundo, e, ao participar dela, o indivíduo se sente parte do todo." Para a professora, a dança reforça o sentimento de grupo, libera o estresse e aumenta a criatividade. A coreografia não importa tanto, e o erro é bem-vindo. "O que vale é experimentar o sentimento que a música sugere. Quanto mais se repete, melhor se vivencia a dança."
O descompromisso com a performance e a aceitação de todo tipo de aluno são apontados pelos professores como razões do sucesso da dança folclórica. "As pessoas querem escapar dos rótulos, da necessidade de corresponder em beleza e estética", diz Trindade. "Os brasileiros aceitam facilmente a limitação intelectual, de aprender uma língua, por exemplo, mas não lidam bem com erros ou imperfeições do nosso corpo."


ONDE DANÇAR
Estúdio A&B: rua Fidalga, 346 (tel. 0/xx/11/212-3938). Preços: R$ 145 (uma aula semanal) e R$ 190 (a semana inteira)

Sesc Pinheiros: av. Rebouças, 2.876 (tel. 0/xx/11/815-3999). Preços: R$ 15 (idosos), R$ 25 (comerciários) e R$ 50 (geral)

Colmeia: rua Marina Cintra, 97 (tel. 0/xx/11/852-2258)



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