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Ecoagricultura

No estágio da semente

Setor de alimentos orgânicos no país faturou em 2012 R$ 1,5 bilhão, cerca de 1% do mercado global

TATIANA FREITAS ENVIADA ESPECIAL A IPEÚNA (SP)

Soltas na fazenda, as galinhas são livres para escolher os ninhos nos quais vão botar ovos, se preferem ficar nos poleiros ou comer vegetais na área externa. São criadas sem antibióticos ou ração com substâncias químicas.

A cena remete à atividade rural do século passado, mas a procura por alimentos mais naturais torna esse modelo de produção bem atual.

Produtores de orgânicos há anos tentam crescer no Brasil, mas esbarram em entraves, como descompasso entre oferta e demanda, preços e renda. Apesar de avanços recentes, há muitos desafios.

A Korin, com sede em Ipeúna (SP), é uma das adeptas do modelo. Suas 40 mil galinhas poedeiras não ficam confinadas em gaiolas como no sistema convencional.

A meta é mais que dobrar o número de aves e a produção de ovos neste ano. "A demanda é alta. Os ovos somem das gôndolas", diz Luiz Demattê, diretor industrial.

Fundada pela igreja messiânica em 1994, a empresa também vende frutas, verduras, legumes e sopa. Produz parte dos itens na sede, mas ganhou escala em parcerias com produtores certificados.

Apesar do faturamento em expansão (R$ 60 milhões em 2012), o investimento feito para montar a empresa não foi recuperado ainda, diz Demattê, sem revelar o total gasto.

O preço final, admite, é o maior obstáculo ao desenvolvimento do mercado. Os ovos sem resíduos químicos e com certificado de bem-estar animal custam 60% mais do que os outros. O frango orgânico custa o dobro do tradicional.

DESAFIOS

Por que os orgânicos são mais caros que os produtos agrícolas cultivados com fertilizantes e defensivos ou sementes transgênicas?

Há muitas respostas. Como a oferta é muito menor do que a de alimentos convencionais e a demanda cresce, a tendência é de alta nos preços.

Outro ponto é a maior vulnerabilidade dessa lavoura ao clima e à ação de pragas.Estufas podem proteger as plantações e evitar perdas excessivas. Mas isso custa.

Sem falar no capital inicial. Para obter a certificação, é preciso contratar uma empresa que, depois de uma auditoria, emitirá um selo provando que o item é orgânico.

Além disso, o produtor orgânico demora mais para embolsar os frutos da primeira colheita que o convencional. No caso das frutas, pode levar três anos. "É preciso estar muito capitalizado para esperar a primeira receita", diz Wilson Honda, diretor da Takaoka Orgânicos, que produz frutas e milho.

TÉCNICAS E INSUMOS

A ausência de profissionais e de tecnologia específica é outro entrave. "No início, sofremos muito com isso, mas fomos buscar especialistas fora do país", diz Honda.

A falta de técnicas e insumos reflete o estágio inicial do setor no país. A regulamentação, que padronizou a produção e a certificação, ainda sofre ajustes para atender à realidade brasileira.

A obrigatoriedade do uso de sementes e mudas orgânicas, por exemplo, deveria entrar em vigor em janeiro de 2014. Mas produtores e governo negociam o adiamento.

"A oferta de sementes não é suficiente. Discutimos se é possível cobrar a exigência", admite Jorge Gonçalves, chefe da divisão de agroecologia no Ministério da Agricultura.

"Não há massa crítica suficiente produzindo sementes. É um dos grandes gargalos da agricultura orgânica", diz Alexandre Harkaly, diretor da certificadora IBD, a mais antiga do ramo.

Além dos obstáculos no campo, há os comerciais. Como a cadeia de orgânicos não é completa --o número de indústrias e restaurantes especializados é baixo--, o produtor tem poucas opções de venda. Quase toda a produção é vendida ao consumidor final, e boa parte passa pelos grandes varejistas, onde as margens de lucro são elevadas. A alternativa é aumentar as vendas a granel e em cestas.


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