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Programa prevê 21 mil bolsas para o exterior em 2014

Ciência sem Fronteiras concedeu apenas um terço dos auxílios do previstos para pós-graduação fora do país

Professora da critica seleção de bolsistas do programa

HELOISA BRENHA DE SÃO PAULO

Maior programa de intercâmbio do país, o Ciência sem Fronteiras (CsF) chega a seu último ano com 21,5 mil bolsas de pós-graduação no exterior por conceder.

Até agora, foi entregue cerca de um terço (35%) dos auxílios previstos para mestrado, doutorado e pós-doutorado, o que aumenta a expectativa de pesquisadores das áreas contempladas pelo programa --tecnológicas e biomédicas-- por mais editais.

Na graduação, já foram entregues 75% das bolsas, que são maioria no CsF.

Segundo a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), "80% da demanda do CsF é da graduação. A concessão de bolsas para outros níveis é menor devido à baixa procura".

O ritmo das concessões, porém, acelerou no ano passado, em que foram entregues 38,5 mil benefícios, mais de 5.300 para a pós. Desde o início do programa, em 2011, foram quase 61 mil bolsas, um recorde, considerando a média de 5.000 bolsistas que a Capes enviava por ano para o exterior antes do CsF.

Acadêmicos veem esse aumento com ressalvas. "Acho positivo nossos alunos estudarem fora, desde que isso acrescente à carreira deles. O CsF abriu essa chance a um número enorme de estudantes e vejo que a seleção de bolsistas, muitas vezes, não é rígida", diz a professora Mayana Zatz, que já foi pró-reitora de pesquisa da USP.

Ela afirma ter visto pesquisadores pouco qualificados contemplados pelo programa e que colegas seus no exterior relatam a chegada de bolsistas mais interessados em turismo do que em pesquisa.

"Se tiver um estudante assim, nós o mandamos embora na mesma hora", diz o presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães. Segundo ele, o órgão acompanha o desempenho dos bolsistas.

Outra preocupação é garantir o retorno dos estudantes para o Brasil. Uma das regras do CsF é que, ao voltar, o pesquisador fique no país no mínimo pelo mesmo período que estudou fora.

Para Zatz, isso não é suficiente. "É preciso criar condições para que esses pesquisadores possam utilizar os conhecimentos adquiridos no exterior ao voltarem ao país, aumentando verba destinada a pesquisa", afirma.

Guimarães diz que a regra é só "uma garantia". "Todos voltam, pois o Brasil tem oportunidades. A minoria que fica devolve o dinheiro [da bolsa] integralmente".

Para atender o público da pós e se aproximar das metas, a Capes lançou em dezembro uma nova bolsa, a do mestrado profissional.

Mais prático, o mestrado profissional tem uma pesquisa aplicada, geralmente com estudos de caso. É comum combinar aulas com estágios, e a duração do curso é mais curta, de um a dois anos.

O primeiro edital do CsF para mestrado profissional tem inscrições abertas até sexta-feira (31) e vai escolher mil bolsistas só para os EUA. O programa paga o seguro-saúde, dá US$ 3.208 para as passagens e bolsa mensal de US$ 1.150 (cerca de R$ 2.700).

O valor é próximo aos US$ 1.300 que o CsF paga por mês a pesquisadores de doutorado. Eles podem receber mais US$ 400 mensais caso tenham dependentes.

Doutorandos relatam que a bolsa é apertada para levar a família, mas suficiente para bolsistas solteiros.

A engenheira Gisele Ribeiro, 27, faz doutorado em geotecnia na Universidade Columbia, em Nova York. Ela diz que recebe mais US$ 400 do programa por morar em uma cidade de alto custo, e outros US$ 300 mensais da Fundação Lemann, parceira do CsF, por cursar uma instituição americana de excelência.

"Moro com meu marido no Brooklyn, que é um bairro mais barato. Levo uma hora de metrô para chegar à universidade", diz.

PROCESSO SELETIVO

Gisele conta que, para entrar em Columbia, primeiro contatou um professor que fazia pesquisa na sua área e manifestou seu interesse.

"Mantive contato com ele por e-mail por quase um ano. Enviei meu currículo e carta de motivação. Depois que ele aceitou me orientar, corri para me inscrever no CsF", conta a doutoranda.

Ela diz que, sem o financiamento, não teria condições de fazer o curso, que custa US$ 398 mil no total.

O tecnólogo em saneamento ambiental Alyson Rogério Ribeiro, 27, também começou a procura por doutorado pelos grupos de pesquisa.

Ele trocou e-mails com um professor da Alemanha quase um semestre antes de se inscrever no CsF.

As aulas de Ribeiro na Universidade de Duisburg-Essen começaram há seis meses, mas ele já está na Alemanha há um ano.

"Vim antes das aulas para fazer um curso intensivo de alemão oferecido pela DAAD [organização alemã de intercâmbio parceira do CsF], que custeou minha estadia por seis meses", conta.

O idioma não preocupou tanto o biólogo Luís Fernando Saraiva, 27. Selecionado para uma bolsa de doutorado-sanduíche, ele vai passar um ano na Inglaterra e não precisou comprovar fluência em inglês. "Fui entrevistado pelo meu tutor inglês por Skype. Ele escreveu um documento atestando que meu domínio na língua era suficiente para os estudos."

Ele vai estudar na Imperial College de Londres e na Universidade de Cambridge, e espera avançar na parte técnica de sua pesquisa, sobre proteínas que podem ser utilizadas em medicamentos para o tratamento da tuberculose.

"A expectativa é mais pessoal, de o experimento funcionar, de não fazer feio", diz.


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