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Falta de aulas em inglês prejudica aluno estrangeiro

Estudantes do exterior criticam aulas somente em português e falta de serviços especializados

DE SÃO PAULO

A falta de fluência em inglês e de serviços especializados para auxiliar estrangeiros tem comprometido o crescimento do número de estudantes de fora na pós-graduação brasileira.

Mesmo nas grandes universidades, o estrangeiro precisa garantir um mínimo de proficiência na língua portuguesa para conseguir acompanhar as aulas, já que o inglês é pouco utilizado.

Especialistas ouvidos pela Folha avaliam que o problema atrasa o processo de internacionalização da pesquisa, que conta pontos nas avaliações nacionais e internacionais.

"Se usássemos o inglês poderíamos receber estudantes do mundo todo. Países como Alemanha, França, Holanda e os nórdicos oferecem programas de pós-graduação integralmente em inglês", diz o físico da Unicamp e especialista em ensino superior Leandro Tessler.

Por enquanto, o reduto dos "gringos" na pós-graduação são as grandes universidades.

A USP, maior universidade pública do país, concentra 1.363 estrangeiros em programas de mestrado e doutorado. Estrangeiros de países da América do Sul, como Colômbia, Peru, Chile e Argentina, dominam os programas da universidade. O grupo de alunos portugueses também é expressivo.

A Unicamp é outra que atrai estrangeiros. Em 2012, a instituição recebeu 349 alunos de outros países.

Entre as particulares, a FGV (Fundação Getúlio Vargas) mantém 500 estrangeiros em mestrados, doutorados e MBA.

A Escola de Administração Pública e de Empresas da fundação oferece três mestrados internacionais.

Em um dos programas, os alunos têm aulas em Madri, Washington e Xangai.

ENTRAVES

A chinesa Aline Wang Zhaowei, 26, é aluna da pós-graduação em relações internacionais (RI) na USP.

Ela diz que falta um atendimento diferenciado a quem é de fora.

"A universidade vê de forma igual alunos estrangeiros e locais. Temos mais dificuldades como encontrar a moradia e usar o idioma."

No programa de RI da USP, 40% dos estudantes são estrangeiros.

Apesar de o curso ter foco em mercados globais, o inglês aparece apenas em aulas especiais.

"As aulas da pós são dadas em português, mas sempre recebemos alguns professores de fora que dão palestras", afirma a chinesa.

Outro entrave apontado pela aluna chinesa é conseguir escrever em português.

"Existe um curso de redação acadêmica para estrangeiros com uma aula por semana, mas a qualidade é baixa. É o único curso que eu não gosto na USP", conta.

O ponto positivo é que tanto a dissertação quanto as teses de doutorado podem ser escritas em inglês na universidade.

O holandês Paul Hegers fez intercâmbio de quatro meses em um laboratório de tecnologia da USP. Ele diz que era muito difícil se orientar dentro do campus.

"Na minha universidade, as coisas parecem ser mais organizadas e mais pessoas falam inglês. Aqui, pode ser um pouco difícil para um estrangeiro encontrar os eventos que estão acontecendo", avalia.

A ineficiência na prestação de serviços aos alunos internacionais no país é um dilema que preocupa as instituições do exterior.

"Tem universidade estrangeira que não está disposta a fechar acordo de cooperação com o Brasil porque acha que seus alunos não serão bem assistidos", diz Júlia Pacheco, coordenadora de relações internacionais da FGV.

O vice-pró-reitor de relações internacionais da USP, Aluísio Segurado, diz que universidade tem feito esforços para internacionalizar a pós-graduação. Uma das medidas é o aumento do número de disciplinas em inglês e o incremento de programas de dupla titulação.

"O fenômeno é recente para a USP. Estamos dando respostas significativas a ele", afirma Segurado.

"O Mercosul tem trazido muitos estrangeiros sul-americanos, mas é preciso avançar. A barreira da língua ainda afasta muitos estudantes da Europa em nossos programas."

Para Tessler, a internacionalização só será séria com um inglês fluente.

"Não adianta fazer acordos, se os estudantes ficarem temerosos de terem problemas com a língua", diz.

BRASIL NA ROTA

De acordo com o Itamaraty, o Brasil recebeu nos últimos oito anos estudantes de 125 nacionalidades.

Apenas em 2012, 11.886 requisitaram visto para estudar no país em cursos em geral, não apenas na pós-graduação, uma alta de 21% em relação a 2011.

Colombianos (13,9%), franceses (9,9%) e portugueses (9%) formam o grupo de países que mais enviou estudantes para cá.

Felipe Argote, 24, faz parte dessa legião de colombianos. O país tem um programa específico para matricular estudantes em cursos de pós-graduação no Brasil.

Ele concluiu uma especialização em marketing de serviços na FAAP. Agora, não pensa em voltar para casa.

"Na América Latina, tudo acontece primeiro no Brasil. Não quero perder as oportunidades de negócio neste ano de Copa do Mundo."


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