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Entrevista Mário Kaphan

Briga por poder entre as pessoas causa desperdício

PARA PRESERVAR ESPÍRITO DE PEQUENA EMPRESA, ENGENHEIRO MANTÉM COMPANHIA SEM CARGOS, CHEFES OU HIERARQUIA

Mário Kaphan, 61, seria o presidente-executivo da Vagas.com, companhia que cria sistemas para recrutamento de profissionais. Não ocupa o posto porque ninguém na empresa tem cargos. Nem ele, que é sócio-fundador.

Na organização, fundada em 1999 e que hoje tem 160 funcionários, as decisões são tomadas por consenso. Pequenas equipes, com média de oito integrantes, analisam os problemas a serem resolvidos ou os objetivos a serem alcançados e tentam chegar a um acordo.

"As pessoas fazem o que querem, mas todas [as outras] têm tudo a ver com isso", resume o empresário.

Kaphan diz que o objetivo é fazer com que, mesmo crescendo, a Vagas mantenha o espírito de empresa pequena, em que todos se sentem responsáveis pelo sucesso da companhia.

A organização foi premiada recentemente pelo Management Innovation eXchange, um projeto que reconhece práticas inovadoras de gestão. Leia abaixo trechos da entrevista com Kaphan.

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Folha - Qual a relação entre os cargos e o espírito de empresa pequena?

Mário Kaphan - Na nossa empresa, nenhuma. No começo, as pessoas não tinham cargo, eram competentes, sabiam ir até um cliente, ouvi-lo, entender suas necessidades, trazer de volta a questão e ter prazer em ter boa discussão para implantar o produto. O prazer não estava no poder. Estava na geração de algo que fizesse diferença para o cliente.

Vocês sempre atuaram assim?

Quando a gente tinha umas 30 pessoas, foi natural que a gente pegasse as que se destacavam e as alçasse ao cargo de gerente. E foi rápido percebermos que isso estragou alguma coisa na realização do nosso projeto. Na época, a gente entendeu que isso atrapalhou o espírito de empresa pequena. Muitos dos funcionários não tinham mais a participação no projeto comum da empresa. No modelo vertical, valores são vivenciados pela cúpula.

Como funciona a tomada de decisão?

Cada equipe, com clareza dos seus propósitos, que no caso da área comercial é vender, reúne-se para analisar a evolução dos indicadores e inventa formas de fazer melhor. Há cadeiras vazias para que pessoas de outras áreas possam participar.

Quem toma a decisão final?

O que substitui a relação de mando é um processo decisório consensual. Nada é decidido por votação. Todos os funcionários concordam com aquele passo ou ao menos consentem: apesar de achar que há uma solução melhor, aceitam apoiá-la.

E quem verifica o andamento do projeto?

No contexto da discussão, pessoas assumem a responsabilidade de conduzir as decisões.

Isso não causa lentidão?

Não significa que cada pequena decisão envolva 160 pessoas. Eventualmente, um único funcionário pode decidir sobre algo pressupondo que já haja consenso sobre o assunto, já que ele foi discutido muitas vezes. Se alguém não concorda, abre uma controvérsia. As decisões em ambientes hierarquizados podem até levar mais tempo, porque entram em uma fila até que um chefe as aprove.

Como é a evolução de carreira das pessoas? É natural que elas queiram progredir e ganhar poder.

Aqui na Vagas, o único objetivo que o funcionário não vai realizar é ganhar poder, porque esse realmente não é o jogo. Você se realiza não pela hierarquia, mas pela profissão, de forma muito mais ampla. Nas empresas verticais, quanto não se desperdiça de energia na competição entre as pessoas, na briga por poder, na sonegação de informação? Uma empresa horizontal pode ser muito mais eficiente porque não desperdiça recursos que são investidos na competição entre as pessoas.


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