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O mito do planeta Terra

Recurso parece infinito, sobretudo no Brasil, mas crescimento da população e mudança do clima ameaçam os mananciais

MARCELO LEITE DE SÃO PAULO

Com 12% a 16% da água doce disponível na Terra, o Brasil é um país rico nesse insumo que a natureza provê de graça à população e à economia, sem a menor dúvida.

Cada habitante pode contar com mais de 43 mil m³ por ano dos mananciais. Mas só 0,7% disso termina utilizado.

Nações como a Argélia e regiões como a da Palestina, em contraste, usam quase a metade dos recursos hídricos disponíveis. Arábia Saudita e Emirados Árabes, precisam obtê-los até por dessalinização de água do mar.

Só em aparência, porém, a situação no país é confortável. Primeiro problema: o líquido é mais abundante onde a população é escassa e as florestas, mais preservadas, como na Amazônia.

No litoral, assim como nas regiões Sudeste e Nordeste (70% da população), vários centros urbanos já enfrentam dificuldades de abastecimento --agravadas por secas como as de São Paulo, neste ano, e do semiárido nordestino, em 2012/13.

Para anuviar o horizonte, sobrevêm os riscos de piora com a previsível mudança do clima (aquecimento global).

Com as crescentes emissões de dióxido de carbono (CO2) e de outros gases de efeito estufa pela queima de combustíveis ou por outras atividades, a atmosfera terrestre retém mais calor do Sol perto da superfície, e aumenta a temperatura das massas de ar acima dela.

A energia contida na atmosfera é o que alimenta os ventos e as tempestades. Com a radiação adicional, os padrões de circulação se alteram, e algumas regiões poderão sofrer estiagens mais frequentes e graves, enquanto outras ficarão mais sujeitas a inundações, que poderão também tornar-se mais intensas, durante episódios de precipitação fora do normal.

Isso tudo, é claro, se as simulações do clima futuro estiverem corretas.

MAIS CALOR, MENOS CHUVA

O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), comitê com alguns dos maiores especialistas do país em climatologia, fez projeções sobre as alterações prováveis nas várias regiões.

As mais confiáveis, que ocorrerão até o final do século, valem para a Amazônia (aumento de temperatura de 5°C a 6°C e queda de 40% a 45% na precipitação, com 10% de redução nas chuvas já nos próximos cinco anos), para o semiárido, no Nordeste (respectivamente 3,5ºC a 4,5°C e -40% a -50%), e para os pampas, no Sul (2,5°C a 3°C de aquecimento e 35% a 40% de aumento de chuvas).

Para as outras regiões a confiabilidade foi considerada baixa. Para a mata atlântica do Sudeste, de todo modo, a previsão do PBMC é de aumento de 25% a 30% na pluviosidade e de 2,5°C a 3°C na temperatura.

Dito de outra maneira, não é possível afirmar com certeza que as recentes secas no Sudeste e no Nordeste --ou as terríveis inundações de 2014 em Rondônia-- tenham relação direta com a mudança global ou regional do clima. Tampouco se pode excluir que tenham.

Por outro lado, é certo que esses flagelos, assim como o custo bilionário que acarretam para a sociedade, constituem uma boa amostra do que se deve esperar nas próximas décadas caso o aquecimento global se agrave.

MULTIMÍDIA

Durante quatro meses, uma equipe de seis repórteres, quatro artistas gráficos e dois profissionais de vídeo se debruçou sobre esses três desastres naturais para esmiuçá-los e traduzir sua complexidade nesta abrangente reportagem (a versão multimídia estará disponível amanhã em www.folha.com.br).

Eduardo Geraque e Fernando Canzian fizeram uma radiografia de corpo inteiro da estiagem na Região Metropolitana de São Paulo, para tentar entender uma doença que começou bem antes da queda nos níveis das represas do sistema Cantareira.

Rafael Garcia foi enviado ao Estado de Rondônia com a missão de investigar as relações, se é que existem, da devastadora enchente deste ano com as duas usinas hidrelétricas que começaram a funcionar no rio Madeira, Santo Antônio e Jirau.

Dimmi Amora visitou vários trechos da obra de transposição do rio São Francisco para verificar se o semiárido nordestino está perto de ver cumpridas as promessas de acabar com os efeitos da seca sobre a população pobre.

Esses quatro jornalistas foram acompanhados de perto pelo repórter fotográfico Lalo de Almeida, responsável também pelos vídeos inseridos na versão digital dos três capítulos a seguir.

O relato da equipe está longe de ser animador. Em todas as situações retratadas, com gente demais (SP), água demais (RO) ou água de menos (Nordeste), vê-se que o Brasil não despertou para a obrigação de adaptar-se a eventos extremos que afetam a mais básica necessidade humana: água. Água para beber, limpar e plantar.


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