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Ruy Goiaba

SP além da cúpula do trovão

Eleição é isso aí; é chato gente sabida como você não poder demitir esse povo e contratar um melhorzinho

Planeta: Terra. Cidade: São Paulo. Ano: 2015. A água do sistema Cantareira acabou. As areias escaldantes do Tucanistão e o leito esturricado do Tietê servem de cenário a uma distopia que é parte "Mad Max", parte "Warriors --Os Selvagens da Noite", parte episódio ruim (bem ruim) de seriado japonês.

Sem a menor consideração pelos dias de rodízio dos seus carros, sedentas gangues armadas disputam as últimas reservas de água nas ruas do centro expandido: crossdressers, groupies do prefeito Haddad, taxistas malufistas, velhinhos de Higienópolis brandindo bengalas, madames do Jardim Europa paralisando as inimigas com injeções de botox, reis do camarote fazendo mira de suas varandas gourmet, foodies cercados por craqueiros, habitués da praça Roosevelt cheios de amor por SP torturando as gangues rivais com overdoses de teatro alternativo, hipsters do Baixo Augusta (em aliança tática com rappers da perifa) matando os inimigos de tédio, escritores tatuados exigindo patrocínio estatal. No meio disso tudo, Zé Celso pelado tentando dirigir o caos.

Sitiado em seu palácio, abandonado pela PM em greve, responsabilizado pelo deserto em volta, o governador conta apenas com o poder hipnótico do seu "comb-over", explicação mais plausível para sua reeleição. Como terminará a batalha final por SP? Se dependesse de mim, importaríamos o Godzilla, que deve estar cansado de destruir Tóquio.

(Parêntese para reclamar da língua portuguesa, que não consegue sintetizar numa palavra só a tradução de "comb-over" --isto é, o ato de pentear fios de cabelo de um lado da cabeça para o outro na tentativa, geralmente vã, de disfarçar a careca. Não acharia ruim se começassem a traduzir como "Alckmin", como em "meu tio fez um implante que ficou ainda pior que o Alckmin que ele usava". Fica aí a dica para os lexicógrafos. Fecha parêntese.)

Estamos oficialmente autorizados a acreditar mais em astrologia que em pesquisa? (Pergunta retórica, é claro. Sei que vocês já acreditam.)

A semana pós-eleição no Brasil deveria ser oficialmente consagrada como Semana da Porcaria de Povinho que vota na (no) _______ (insira aqui o nome do político federal, estadual ou municipal que você mais odeia). Sinto dizer, fera, mas eleição é isso aí. Como diria o Brecht --e olha que ele nem era chegado nessas frescuras de democracia burguesa--, é chato que gente sabida como você não possa demitir esse povo e contratar outro melhorzinho.

Falando sério: democracia se faz também com escolhas erradas, às vezes muito erradas. Apesar disso, se há algo que bomba nas redes sociais em todo pós-eleição é esse discurso do "povinho que não sabe votar". Seus alvos podem ser tanto paulistas que votam no Alckmin quanto nordestinos que votam na Dilma (e antes votaram no Lula).

Acho um horror alguns dos eleitos, mas entendo que isso é parte do "pacote democracia" e não tem como ser vendido separadamente; a beleza do negócio todo é que o mesmo sistema nos permite também votar no antídoto. O discurso do "povinho", porém, é outra história. A única coisa que ele diz (aliás, grita) é o narcisismo de quem o emite.


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