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O silêncio das ruas

"Fabio Silva -- A voz das ruas -- 0 votos." Estampado no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), esse resultado de um candidato a deputado federal por São Paulo é metáfora extrema do fraco desempenho nas urnas dos que fizeram campanha se colando explicitamente às manifestações de 2013.

"Escolhi esse nome porque participei ativamente dos protestos aqui em Campinas. Tentei me candidatar pelo PMDB, fazer uma discussão por dentro, mas não deu certo e renunciei", diz Silva, 28, estudante de direito e militante da Rede, sigla sem registro formal de Marina Silva.

Ele e outros candidatos que, à direita e à esquerda, concorreram evocando os protestos pelo país desde junho do ano passado avaliaram, em conversas com a Folha, suas performances.

Apesar do parco número de votos, a imagem do "0 votos" --ou do "foi para isso que as pessoas foram às ruas?", no lamento lançado por alguns esquerdistas--, acabou matizada tanto por candidatos como por analistas.

A maioria diz ser preciso tirar lições das cifras e veem a pauta de junho reverberar na disputa presidencial.

"As pessoas só votam em quem elas acreditam que vai ganhar e isso acaba alimentando esse sistema viciado, em que só entra quem tem campanha com bastante dinheiro e um tempo relativamente grande na televisão", queixou-se Julio Anselmo, 24, estudante de filosofia da UFRJ que foi candidato a deputado estadual pelo PSTU.

Em junho de 2013, Anselmo fez parte do Fórum de Lutas Contra o Aumento das Passagens, que reunia movimentos sociais que deram início aos protestos no Rio. Para ele, que teve 547 votos, a eleição é um "reflexo muito distorcido do desejo de mudança da população".

"Segurança era uma reivindicação dos protestos e o resultado foi positivo, com a eleição do Coronel Telhada [PSDB, para a Assembleia Legislativa de São Paulo]", disse "Batman do Capão", 39, que ganhou fama por fazer protestos na capital paulista fantasiado de super-herói.

Frustrado porque tentou se eleger deputado federal pelo PHS e teve a candidatura negada por ter esquecido de justificar um voto, Batman se diz confiante de que o novo Congresso vai aprovar a redução da maioridade penal.

ONDA CONSERVADORA

É a alegria de Batman que incomoda parte dos analistas à esquerda. Eles avaliam que após os protestos houve radicalização do discurso à direita, que teria contribuído para a eleição de um Congresso mais conservador.

"O Congresso eleito não é muito diferente em qualidade do que a gente tem hoje", rebate Thiago Aguiar, 25, do PSOL, que usou "uma voz das ruas" como mote para tentar se tornar deputado federal por São Paulo. Teve 7.841 votos, mas não foi eleito.

Aguiar pondera que o PSOL aumentou a bancada e compara a situação do Brasil com a da Espanha. Lá, logo depois dos protestos dos Indignados, em 2011, o conservador PP foi vencedor nas eleições gerais.

Só neste ano, um novo partido que reivindica os protestos, o Podemos, conseguiu 9,2% dos votos nas parlamentares europeias, uma brecha no bipartidarismo espanhol.

Rosana Pinheiro Machado, professora na Universidade de Oxford e ligada ao PSOL, diz que é hora de autocrítica. "Precisamos falar com a população que ainda é dialogável e chamá-la de coxinha não vai ajudar", afirma.

André Singer, da USP, diz que as eleições são uma espécie de "segundo round" das manifestações, em que as forças políticas disputam os mais escolarizados de menor renda, para quem os protestos foram uma espécie de "entrada" na política.

"Na minha análise, eles poderiam ir para a esquerda, para a direita ou para o centro. Essa indefinição está se expressando agora [nas intenções de voto dessa fatia]".


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