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Entrevista - Roberto Jefferson

Caso Petrobras é epílogo para o mensalão

AUTOR DA DENÚNCIA DO MENSALÃO CHAMA AÉCIO DE 'VELHO AMIGO' E DIZ QUE DESVIOS EM ESTATAL FAZEM PARTE DE PROJETO DO PT PARA SE PERPETUAR NO PODER

BERNARDO MELLO FRANCO EDITOR INTERINO DO PAINEL

No primeiro dia fora da cadeia desde que foi preso, em fevereiro, o ex-deputado Roberto Jefferson, 61, afirmou à Folha que o escândalo da Petrobras é o "epílogo do mensalão", que ele denunciou ao jornal em 2005.

O petebista diz que os dois casos tiveram a mesma motivação: financiar o "projeto do PT para se perpetuar no poder". "O mensalão foi o prefácio. Agora o Brasil está lendo o epílogo", afirma.

Jefferson acusa a presidente Dilma Rousseff de proteger corruptos para preservar seu partido e compara o aliado Aécio Neves (PSDB) ao lutador Rocky, personagem de Sylvester Stallone. "É o Aécio Balboa. Apanhou nove assaltos e virou a luta no décimo."

Condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mensalão, o ex-deputado recebeu a reportagem nesta segunda (13) no escritório de advocacia em que começou a trabalhar, no Rio. Horas depois, voltaria à cadeia.

Ele quer mudar para o regime aberto daqui a seis meses e já sonha em retornar ao Congresso em 2022, quando recuperar os direitos políticos. "Eu voltarei", promete.

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Folha - O sr. denunciou o mensalão no governo Lula. Como vê o escândalo da Petrobras?
Roberto Jefferson - Se você reparar a data, isso vem lá do mensalão. É o financiamento de base, da estrutura da base do governo, para o PT se perpetuar no poder. O mensalão foi o começo da destruição do mito do PT. Esse caso da Petrobras consolida o que já vem de 2005. É o epílogo daquela história. O mensalão foi o prefácio, agora o Brasil está lendo o epílogo. O PT prostituiu a classe política.
A Petrobras é a maior empresa do Brasil. Isso é o pior assalto que nós já vimos. Pega governadores, senadores, a elite do Congresso. É uma bomba atômica. No ano que vem, vamos ver muitos processos de cassação.

Como avalia o governo da presidente Dilma Rousseff?
Dilma é uma mulher séria, honrada. Mas tem uma herança de corrupção terrível do partido, mas precisa botar panos quentes para não atingir o Lula. Ela está manietada, é uma presidente pela metade. Ela tem um compromisso de silêncio. Não pode expor as vísceras do partido que integra. A Dilma está engordando. Isso é sofrimento, ansiedade.
Na política econômica, é um desastre. Ela está desorganizando os fundamentos da economia. Adotou no BNDES uma política russa, de proteger os empresários que são compadres do governo. É como o Putin faz.

Está acompanhando a disputa eleitoral da prisão?
Leio os quatro jornais todo dia. Tenho TV na cela, acompanhei os debates. Vibrei muito com o Aécio. É meu velho amigo, fiquei muito feliz com a ida ao segundo turno.
Ele teve que aguentar dois desastres: a queda do avião do Eduardo Campos e a decolagem da Marina. Ela era inconsistente, mas não é fácil vencer a emoção com a razão.
O Aécio resistiu. É o Aécio Balboa, o lutador. Apanhou nove assaltos e virou no décimo, no debate da Globo.
Ele mostrou, com apoio do eleitor, que não somos uma republiqueta bolivariana. Essa turma do Maduro está caindo de podre aqui no Brasil.

O sr. articulou da cadeia para o PTB apoiar Aécio?
Não pude liderar o processo, mas sei que muitos convencionais do PTB tomaram a decisão em solidariedade a mim. Eles não podiam apoiar o meu algoz, que era o PT.

Vai falar com ele agora?
Tudo o que eu fizer pode ser interpretado para atingi-lo. Não quero ser chibata para bater no Aécio. Sou um réu condenado, em cumprimento de pena. Não tenho que fazer isso. Minha filha [a deputada federal eleita Cristiane Brasil] dá o recado.
Na semana passada, ela esteve com ele em Brasília, na festa do Memorial JK. Eu disse: "Filha, dá um abraço nele. O pai tá gostando..."

O que decidirá a eleição?
Os debates serão fundamentais. Aécio tem experiência em derrotar o PT. O povo cansou do PT. Não é só pelas denúncias. Eles querem mais quatro anos, para depois voltar o Lula. Aí serão vinte anos. Quem aguenta isso?
O Brasil ficou muito tempo sem oposição. Quem fez o papel da oposição, mostrando os erros que aí estão, foi a mídia. Por isso o PT quer o controle social, para calar a mídia. Na Venezuela, até papel proibiram de entrar, para os jornais não circularem. Se persistir o PT, nós não vamos ter papel para circular jornal. É um projeto totalitário, de poder a qualquer preço.

Na eleição do Rio, apoiará Luiz Fernando Pezão (PMDB) ou Marcelo Crivella (PRB)?
Pezão. O Crivella é a soma de bispo Macedo, Garotinho, Lindberg e Paulo Roberto Costa. É o homem da Igreja Universal. Eles já chutaram a santa. Se for eleito, vai querer derrubar o Cristo Redentor?

O sr. está preso desde o fim de fevereiro. Já se arrependeu?
Roberto Jefferson - Nunca me arrependi. Deus só dá carga a quem pode puxar. Estou saindo mais forte. Sou vítima das minhas palavras e das minhas atitudes, mais nada.
Fui condenado a mais tempo de prisão do que o [José]Genoino, presidente do PT, e que o Delúbio [Soares], tesoureiro do PT. Eles articularam o mensalão. Fui o denunciante e fiquei mais tempo preso que os denunciados. Mas saí sem mágoa ou ressentimento. Faria tudo de novo.

O sr. confessou ter recebido R$ 4 milhões do caixa dois do PT. O que fez com o dinheiro?
Vocês sabem que eu partilhei. Por que eu nunca perdi influência no meu partido? Porque os candidatos a prefeito receberam aquele recurso que o PT transferiu ao PTB na eleição de 2004. E podem ficar em paz, porque eu não vou revelar [quem recebeu].

Como vê seu futuro?
Daqui a seis meses, vou pleitear o regime aberto para dormir em casa, com tornozeleira. A cassação dos direitos políticos dura oito anos.

Ainda quer ser deputado?
Eu voltarei. Sinto muita falta de Brasília, do Congresso e do PTB. Minha vida é essa, não sei fazer outra coisa.

Acha que o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que defendeu sua condenação, vai entrar na política?
Ele tem perfil. É um grande nome, vai ter voto. Não tenho ressentimentos. O PTB está aberto para ele. (Risos.)


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