Eleições 2014
Laranja de doleiro afirma que outro tucano recebeu suborno
Segundo Leonardo Meirelles, parlamentar era do Paraná; juiz impediu que ele revelasse detalhes
Só o STF pode investigar parlamentares, devido ao foro privilegiado; Youssef era mentor do esquema, diz laranja
Um dos laranjas do doleiro Alberto Youssef afirmou em depoimento à Justiça federal nesta segunda-feira (20) que o esquema pagou propina a outro parlamentar do PSDB, além do senador pernambucano Sérgio Guerra. O teor do depoimento foi revelado pela Folha.
Segundo o laranja, o parlamentar tucano era do Paraná. O juiz Sergio Moro impediu que Leonardo Meirelles, o laranja do doleiro, revelasse detalhes sobre o político.
"Aí o sr. já está caminhando para a identificação", advertiu o juiz quando Meirelles dizia que se tratava de um "padrinho político" e "conterrâneo" do doleiro --Youssef é de Londrina.
Parlamentares só podem ser investigados pelo Supremo Tribunal Federal, por terem foro privilegiado. O juiz autorizou Meirelles a citar o nome de Guerra porque ele morreu em março deste ano.
A Folha revelou na quinta-feira da semana passada (16) que o senador por Pernambuco foi citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como um dos beneficiários do esquema de suborno do doleiro.
Segundo Costa, Guerra recebeu R$ 10 milhões para ajudar a esvaziar a CPI da Petrobras em 2009, quando era presidente do PSDB. O partido tinha dois representantes nessa CPI: Guerra e o senador Álvaro Dias, do Paraná. Os dois deixaram a comissão em outubro de 2009, alegando que a força do governo impedia qualquer investigação séria.
A CPI acabou em dezembro, sem apurar suspeitas de desvios de obras da estatal.
Meirelles disse ter presenciado conversa telefônica do doleiro em que Sérgio Guerra era citado. No telefonema, ainda segundo o laranja, uma pessoa informava o doleiro sobre "alguma coisa que não estava acontecendo".
Procurado, o PSDB disse defender investigações sobre todos os citados, independente de filiações partidárias.
Em ato de campanha, em Campo Grande, o candidato tucano à Presidência, Aécio Neves, disse que qualquer tucano que seja citado nas investigações sobre desvios na Petrobras será investigado.
"Não tem isso de filiação partidária. Todas as investigações têm que ir a fundo", disse. "Se alguém do PSDB tiver cometido ilicitude, tem que responder por isso. Não os trataremos, como faz o PT, como heróis nacionais."
DINHEIRO PARA O PP
Meirelles também afirmou que o doleiro emprestou recursos para a campanha do PP quatro anos atrás. "O partido tinha uma grande quantia em aberto com ele [Youssef], saldo de financiamento de campanha de 2010."
O doleiro ingressou no mundo político pelas mãos do deputado José Janene (PP-PR), que morreu em 2010.
Depois o esquema de repasse de propina incluiu o PT e o PMDB, segundo relato do ex-diretor da Petrobras em sua delação premiada. Costa disse que PT, PMDB e PP ficavam com percentuais que variavam de 1% a 3% do valor de contratos da Petrobras.
Meirelles cedeu o laboratório Labogen para Youssef fazer remessas ilegais ao exterior simulando importações. Seis empresas usadas pelo doleiro remeteram US$ 444,7 milhões para fora do país entre julho de 2011 e março de 2013. O montante equivale hoje a R$ 1,1 bilhão.
Em interrogatório na Justiça, Youssef disse que era "cliente" de Meirelles, um modo indireto de afirmar que o empresário atuava como doleiro. O laranja refutou a acusação e disse que só emprestava suas empresas em troca de uma comissão de 1% sobre o valor remetido ao exterior.
Meirelles disse que Youssef era o chefe do esquema: "O malfeitor e mentor disso tudo é Alberto Youssef".
Segundo o laranja, o doleiro era lobista não só em negócios da Petrobras: "tem saneamento, tem ferrovia", disse.