Análise
Pingue-pongue de surdos, de costas para os eleitores
Foram dois programas.
A maior esperança estava nos blocos com perguntas dos eleitores indecisos, no formato de "town hall meeting", encontro de comunidade. Mas nem candidatos e seus marqueteiros nem Globo e o mediador William Bonner sabiam o que fazer com ele.
A produção não parece ter se preparado para enquadrar adequadamente candidatos e eleitores, transparecendo, por vezes, amadorismo. Na mensagem final de Dilma, que se movimentava de lado a lado, a câmera perseguiu comicamente a candidata.
O mediador, ao se desculpar pelos cortes constantes das falas dos candidatos, admitiu que eles --de pé para falar com os eleitores-- não conseguiam acompanhar os cronômetros mal localizados.
Mas o problema maior foram os próprios candidatos, diante dos eleitores. Fora Dilma elogiando sem parar --como um robô-- cada "boa pergunta" que ouvia, também eles não sabiam como agir. Mais importante, treinados para fazê-lo nas perguntas do adversário, fugiam também de responder aos eleitores.
E estes, com questões muito mais próximas do cotidiano do que eram ouvidas até então na campanha, algumas até emocionantes, foram um alívio à mesmice, ainda que por poucos minutos. Tentavam puxar o debate para fora da dicotomia roteirizada de PT e PSDB, mas Dilma e Aécio não permitiram.
Ainda assim, foi possível vislumbrar uma eleição mais próxima da realidade e distante das obsessões marqueteiras, quem sabe, no futuro.
O outro programa, aquele com os blocos em que só falaram candidatos, repetiu vícios dos debates anteriores.
Foi um pingue-pongue de surdos, em que Dilma buscava sempre o retorno constante de FHC à conversa, reproduzindo sua propaganda eleitoral. Mas ela estava muito tensa, no início, e depois esgotada, confundindo-se --ainda mais do que antes-- nos raciocínios mais simples.
Aécio também começou tenso e acabou por desperdiçar a sua primeira e mais importante pergunta, gaguejando sobre a "revista hoje". Mais à frente, aprumou-se, mas apenas para recair no sorriso de ironia que tanto o perseguiu no segundo turno.
De maneira quase invariável, um candidato perguntava sobre um tema, seu oponente respondia sobre outro e assim o programa avançava, aos trancos, sem ritmo, até chegarem todos exauridos à meia-noite e ao fim da triste campanha de 2014.