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Nova classe média não é garantia de moderação política, dizem analistas

NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

Agora predominante no país, a classe média não é garantia de maior moderação política, afirmam analistas ouvidos pela Folha.

André Singer, professor de ciência política na USP, diz que a sensação de melhora, que não se restringe às classes médias, "contribui para um relaxamento das tensões sociais". Mas quem está "passando a uma nova condição vai querer que o processo continue" e "reagiria a qualquer ameaça".

Por outro lado, "na chamada classe média tradicional já se nota uma reação tensa", por exemplo, "à ocupação de espaços: aeroportos, cinemas, muito carro na rua". Como os demais, Singer afirma ter dúvidas quanto à denominação "nova classe média", tendendo mais para "nova classe trabalhadora".

Antônio Lavareda, cientista político, dono do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), com atuação em campanhas do PSDB, afirma que a "emergência de dezenas de milhões das camadas D e E em direção à C diminui a pressão, naturalmente".

Sugere, porém, "muito cuidado" na generalização da "nova classe C", como prefere chamar. "São socialmente um pouco mais conservadores", por exemplo, quanto à liberação do aborto, "mas, no conjunto, daqui a pouco vão estar na média dos brasileiros", quanto aos valores.

O marqueteiro João Santana, que comandou campanhas de Lula e Dilma, vai além e, "ao contrário", prevê até maior polarização. "A ascensão social provoca a liberação de uma forte descarga de energia política."

Ele vê quatro "sentimentos primários": alegria pela melhora, medo de perda, desejo de imitar o novo grupo e disposição de se livrar de traços do grupo anterior.

"Qualquer 'nova classe média' tem uma cabeça complexa e cheia de nuances."

Questionado se a escolha de candidatos como Dilma e Fernando Haddad reflete a nova situação, por seu apelo às classes médias, Santana responde que "sim, mas Lula também". Para ele, o petista "fez a travessia juntamente com sua base social".

Lavareda sublinha que a nova classe C é "muito vinculada ao lulismo e ao seu partido" e que os demais terão que lidar com a nova situação, sobretudo agora que essa classe é maioria.

Singer lembra que o PSDB "tem base forte na classe média alta, raízes sociais importantes nesses setores", mas "sozinhos, não ganham eleição". Daí "estar tentando falar com a chamada nova classe média, no caminho sugerido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso".

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