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O centro ainda pulsa

ANTES DEGRADADA, REPÚBLICA RECUPEROU EM DEZ ANOS POPULAÇÃO QUE HAVIA PERDIDO EM VINTE

Fotos Tuca Vieira/Folhapress
Ônibus cruzam a rua da Consolação com Rêgo Freitas
Ônibus cruzam a rua da Consolação com Rêgo Freitas

VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO

Quando a produtora de moda Aline Prado, 28, decidiu se mudar de Higienópolis, sua motivação foi semelhante a de outras 13 mil pessoas que nos últimos dez anos foram para a mesma região: a efervescência e a boa localização da República.

Em uma década, o entorno da praça da República -com sua feirinha de artesanato aos domingos e o vaivém sem fim da estação de metrô que leva seu nome- renasceu.

Nesse período, o distrito praticamente recuperou toda a população que havia perdido entre 1980 e 2000.

Não que os problemas tenham sumido, mas o que foi durante muitos anos uma área sinônimo de degradação experimenta agora um pouco dos "anos de ouro" que viveu no passado.

Nos anos 1960, além se ser ponto de encontro dos expoentes da MPB paulistana, a República concentrava um comércio luxuoso repleto de joalherias, além das mais importantes agências de viagem e companhias aéreas, em uma época em que viajar de avião era luxo para poucos.

Mas, com a perda de importância do centro na economia da cidade, a República deixou o glamour para trás e se degradou ao ponto de perder, entre os anos 1980 e 2000, mais de 13 mil de seus 61 mil moradores.

Recentemente, o lugar passou a atrair solteiros e jovens casais e praticamente recuperou a população que tinha no final dos anos 1970. O censo de 2010 mostra que o distrito tem 57 mil moradores, mais da metade, solteiros.

São pessoas que se mudaram para a República para ficar perto de tudo. Tanto dos meios de transporte e dos empregos, quanto da avenida Paulista e da nova cena cultural que surge por ali e já está mais do que estabelecida na vizinha rua Augusta.

RENASCIDO

Nos últimos cinco anos, a República consolidou uma cena de teatro alternativo e barzinhos na praça Roosevelt, ganhou uma reformada biblioteca Mário de Andrade e, ao lado, na praça Dom José Gaspar, mais bares e roda de samba aos sábados.

Tudo isso além do surpreendente renascimento do edifício Copan, que de mal-afamado cortiço vertical em décadas passadas virou desejo "cult" de moradia para muitos paulistanos.

Afonso Prazeres, o síndico do prédio, conta que, com a decadência do centro nos anos 1970, os aluguéis ficaram "baratíssimos", comparados aos R$ 1.200 por uma kitchenette cobrados hoje. "Começamos a ter problemas com prostituição, drogas".

Hoje, o perfil dos moradores mudou. "A maioria é proprietário. São empresários, artistas, arquitetos, solteiros e casais jovens".

Até 1996, uma apartamento grande, com três quartos, "não valia R$ 70 mil". Hoje, diz Prazeres, o mesmo apê vale mais de R$ 800 mil.

A PÉ É MAIS FÁCIL

Outro endereço cobiçado na região da República é o edifício Louvre, do arquiteto Artacho Jurado (1907-1983).

Foi lá que no ano passado a produtora de moda Aline resolveu morar com o marido e os dois filhos pequenos.

Ela diz que, depois de trabalhar na decoração do Alberta #3, casa noturna recém-aberta ao lado do prédio, ficou "apaixonada por essa parte do centro".

Hoje, ela consegue fazer tudo o que precisa a pé. No mês passado, a família vendeu o carro, que depois de três meses sem uso estava com a bateria arriada e nem sequer ligava mais.

O marido de Aline, Luiz Campiglia, reabriu logo em frente do apartamento da família, na praça Dom José Gaspar, o antigo Paribar, que funcionou de 1942 a 1983 ali.

Com tudo assim tão perto, carro serve mesmo para quê?

Apesar de ainda estar "apaixonada" por esse pedaço da cidade, Aline acha que faltam serviços básicos na região central.

Boas escolas -os filhos estudam no colégio Sion, em Higienópolis- e bons supermercados são alguns deles.

Aline também reclama dos domingos à noite, quando tudo está fechado, e as ruas vazias. Nesses dias, ainda é impossível não ter a sensação de insegurança quando se anda pela região.

"Aqui tem coisa que vai pra frente e coisa que dá dó". Ela está falando da galeria Metrópole, também na praça.

O lugar, que no passado foi o centro das agências de viagem, hoje abriga empresas de telemarketing e uma praça de alimentação, segundo ela, "horrorosa".

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