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Enquanto a Copa não vem

AS OBRAS PÚBLICAS AINDA NEM CHEGARAM, MAS OS MORADORES DE ITAQUERA, NA ZONA LESTE, AGUARDAM A VALORIZAÇÃO DA REGIÃO E NÃO QUEREM VENDER SEUS IMÓVEIS

DE SÃO PAULO

Rodoviária, fórum, parque linear, centro de convenções e uma incubadora de empresas da USP. E o vetor disso tudo é um estádio, o Itaquerão, a arena do Corinthians que irá sediar a abertura da Copa de 2014.

Até lá, o bairro da zona leste passa por uma fase de preparação para as mudanças que já vem afetando sensivelmente a vida dos moradores.

Segundo corretores de imóveis, houve uma queda de até 50% nas vendas desde o anúncio da sede, em maio de 2010. Apartamentos da Cohab, por exemplo, chegam a custar hoje até R$ 120 mil. Antes das obras, não passavam da casa de R$ 70 mil.

Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio), admite que pode ter faltado um estudo de mercado adequado em Itaquera.

"Alguns empreendedores estão abusando um pouco, por isso existe o risco de falta de liquidez na região."

A dona de casa Vanda Andrade Moraes, 47, por exemplo, mudou-se de um apartamento da Cohab para um sobrado de três dormitórios. Pagou R$ 300 mil.

"Os preços aqui estão mais altos mesmo, mas o bairro vai valorizar ainda mais", afirma.

De acordo com dados da Embraesp, no ano passado, foram lançados 804 novas unidades com dois dormitórios em Itaquera.

Com área útil média de 52 m², o preço médio do metro quadrado para esses imóveis foi de pouco mais de R$ 3 mil -valor considerado alto pelos corretores. No bairro mais desejado da zona leste, o Tatuapé, o valor é de R$ 5,8 mil.

A supervalorização e a perspectiva de mudanças assusta parte dos antigos moradores. Vladimir Américo Giannetti, 50, nasceu e morou ali quase toda a vida.

Ele saiu de Itaquera uma vez, quando se mudou para a rua Joaquim Eugênio de Lima (centro). "Mas fiquei só um ano lá porque aqui é minha casa", argumenta.

Agora, Giannetti pretende abandonar o bairro onde morou toda a vida. "Isso aqui vai virar o centro, vai ser tomado por prédios. Por isso, vou para o interior."

MUDANÇAS

Se Itaquera vai se transformar em um importante centro na cidade, só o tempo dirá. Mas é certo que o bairro sofrerá grandes mudanças até 2014. Um polo tecnológico está sendo erguido pelo governo do Estado ao lado da arena corintiana.

A obra deve ser entregue em dezembro de 2013, mesmo prazo prometido para o estádio, e contará com unidades da Fatec-SP, Etecs (escolas técnicas) e Senai.

Até 2014, os trens e estações da CPTM e metrô devem receber investimentos da ordem de R$ 1 bilhão para tentar driblar a superlotação e a lentidão dos sistemas.

A linha 3-vermelha do metrô, por exemplo, é a mais lotada de São Paulo. Além disso, também está previsto um conjunto de novas vias em torno do polo tecnológico, que deve consumir cerca de R$ 478 milhões.

O futuro estádio corintiano também já tem mudado a cara de Itaquera. Antes mesmo do clube definir o nome da arena, apelidada de Itaquerão, comerciantes da região já mudaram o nome de alguns estabelecimentos para a alcunha indesejada pelo Corinthians -que pretende vender os direitos do nome e faturar com o batismo.

A Folha percorreu o bairro e, dois anos antes da inauguração do estádio, encontrou dois estabelecimentos batizados com o superlativo de Itaquera. "A população já pegou o nome", diz Ismael Pignatari, supervisor do mercado Itaquerão.

O diretor de marketing corintiano, Luís Paulo Rosenberg, criticou a imprensa pelo nome extraoficial. "Isso irrita, agride, demonstra desprezo."

(RAPHAEL MARCHIORI)

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