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Heróis da resistência

ESSES PROFISSIONAIS SE REINVENTARAM PARA NÃO DESAPARECER DA METRÓPOLE E AGORA VÃO MUITO BEM, OBRIGADO!

LEITE CEDO NA PORTA DE CASA

Como no poema "Morte do Leiteiro", de Carlos Drummond de Andrade, eles seguem relegados à madrugada, mas hoje em número quase imperceptível. A tradicional amizade com os clientes já não existe mais.

Com 22 anos no ofício, Wilson Teixeira, 66, tem o mesmo freguês desde que passou a trabalhar em bairros como Lapa e Higienópolis, mas nunca o viu. "Só falei com ele ao telefone, pois entrego o leite e os boletos na portaria do prédio", diz.

A rotina começa cedo, às 22h30, quando Teixeira carrega sua van com 300 litros de leite, e vai até às 6h. São três entregas semanais a 150 endereços paulistanos.

O leite, porém, mudou. A distribuidora Xandô, que mantém quatro equipes de leiteiros na cidade, diz extrair o produto automaticamente de vacas holandesas.

AINDA COM A MÃO NA GRAXA

Há pelo menos três décadas, os sapatos deixaram de ser preferência nacional na dura rotina do paulistano. Com a popularização dos tênis, os antigos engraxates foram aos poucos desaparecendo das ruas.

Mas eles ainda podem ser encontrados na avenida Paulista, nos aeroportos e em frente ao prédio da Bolsa de Valores, no centro antigo. Lá, funcionam há 26 anos duas casinhas de madeira, o mais famoso ponto de engraxates de São Paulo.

Ex-metalúrgico e um dos mais experientes do local, Josias Lacerda, 57, passou a engraxar há 18 anos. A seu lado trabalha Fernando Guimarães, 33, mas não menos experiente. Embora afirme gostar do ofício, ele descarta o mesmo futuro para os quatro filhos."Eles vão é estudar para ter uma vida melhor".

GUARDA-CHUVA À MODA ANTIGA

A romântica rotina dos guarda-chuveiros começou a se desfazer com a abertura do mercado brasileiro às importações, no início da década de 1990. Na época, produtos chineses de preços atrativos e qualidade questionável invadiram o mercado.

Numa pequena loja do Itaim Bibi, porém, Aldo Grecco, 74, é a quinta geração da família a resistir no ofício, iniciado pelo seu tataravô na Itália. Ele produz desde modelos compactos até os mais tradicionais e sofisticados guarda-chuvas. "Hoje ninguém compra mais pelo estilo", conta.

A ideia de compor um figurino elegante, aliás, é uma de suas estratégias de marketing. Há duas semanas, vendeu uma peça a R$ 800, com cabo de prata e forro duplo. Na loja, também é possível achar guarda-chuvas a partir de R$ 50.

PARTEIRA NO SÉCULO 21

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, em 2011, 84.231 partos foram feitos em unidades privadas de São Paulo, 90% deles por meio de intervenções cirúrgicas.

Na contramão dos números, mais de cem parteiras formadas pelo curso de obstetrícia da USP Leste, criado em 2004, tentam desfazer preconceitos sobre a profissão.

Parteira há quatro anos, Ana Cristina Duarte, 46, admite encontrar resistência. "Vivemos em uma sociedade do medo", diz.

O medo, porém, pode ser facilmente desfeito. A parteira do século 21 carrega equipamentos antes inimagináveis, como cilindros de oxigênio e anestesia para o ponto. No pós-parto, as novas mães têm ainda a chance de entrar em um tira-dúvidas virtual. "Criei uma rede na internet para colocá-las em contato", afirma.

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